The Weeknd prometeu e cumpriu: a sequela do grandioso After Hours (2020) já chegou. A superestrela canadiana apoderou-se da frequência 103.5 e lançou, na passada sexta-feira, dia 7, o quinto álbum de estúdio, constituído por 16 faixas. Concebido à volta da ideia de uma rádio de estação pop para ouvir no purgatório, o novo álbum é o projeto mais meditativo, maduro e emocionalmente robusto do artista. Com colaborações de Tyler, The Creator e Lil Wayne, e narração do ator Jim Carrey, não faltam razões para sintonizar na Dawn FM.

A morte é o único local onde a dúvida e a certeza coabitam pacificamente. Se há alguma coisa que os últimos dois anos nos ensinaram foi isso mesmo. Somos diariamente confrontados, desde 2020, com um cenário mórbido que, com certeza, fez com que cada um de nós, em algum momento, se perguntasse o que acontece do lado de lá.

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No fundo, é à volta desta questão que se desenvolve o conceito de Dawn FM, algo que The Weeknd já queria explorar há vários anos, mas só agora considera ter o que é preciso para fazê-lo bem. “Sentia que não sabia como fazer este álbum até agora. Provavelmente, seria demasiado ambicioso para mim. Eu sabia do que gostava, mas sentia que não tinha as habilidades necessárias para realizar este tipo de projeto até agora”, afirmou, no ano passado, em entrevista à Billboard.

Até podia ser conversa fiada se, na altura, o artista não tivesse descrito ao pormenor todo o projeto.  “É como se o ouvinte estivesse morto. Preso num estado purgatório, que eu sempre imaginei que seria como estar preso no trânsito à espera de chegar à luz no fim do túnel. E enquanto se está preso no trânsito, tem uma estação de rádio a tocar no carro, com um apresentador de rádio a guiá-lo até à luz e a ajudá-lo a transitar para o outro lado.”

É Jim Carrey, conhecido por protagonizar, entre outros, o filme A Máscara (1994), que dá a voz a este locutor de rádio. Funciona quase como um anfitrião desta experiência sonora que, não fosse a sonoridade pop dos anos 80, poderíamos descrever como quase esotérica. É este contraste entre uma narrativa fatal, muitas vezes associada à morte por overdose, e a música funky, suave e dançante que faz deste o primeiro grande álbum de 2022.

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Dawn FM conta, ainda, com a participação de Quincy Jones. O famoso produtor musical dá voz ao interlúdio “A Tale By Quincy”, no qual reflete sobre a educação conturbada que teve e o consequente impacto nos relacionamentos com as companheiras e, mais tarde, com os filhos. Este é um tema recorrente na discografia de The Weeknd, como comprova o tema “Out of Time”, um dos destaques do projeto. Surgindo imediatamente a seguir ao interlúdio de Jones, a balada de sonoridade aveludada, influenciada pelo bom R&B dos anos 80, serve de background para um The Weeknd lamurioso que, por causa do seu comportamento, acabou por arruinar várias relações amorosas. Está, portanto, “fora de tempo”.

Destaquemos, também, o single “Take My Breath” que, certamente, terá ouvido várias vezes na rádio. Dawn FM conta com uma versão alargada da canção lançada em agosto de 2021. São quase seis minutos eufóricos de disco-house, produzidos por Max Martin. Da equipa de produtores de excelência fazem parte Oneohtrix Point Never, os Swedish House Mafia, Gitty, DaHeala, TBHits e, ainda, Calvin Harris.

“Here We Go…Again” junta a este projeto uma das vozes mais geniais do hip hop norte-americano. O contributo de Tyler, The Creator vem em jeito de crítica social. O artista norte-americano questiona o casamento convencional, associado quer ao estado, quer à religião: “We don’t need the government involved because we like to touch / We don’t need no damn religion telling us we in love”. Aqui, The Weeknd oferece uma performance vocal exímia, demonstrando a facilidade com que mergulha no registo mais agudo da sua voz.

Impossibilitado de atuar em espaços fechados, devido à pandemia Covid-19, The Weeknd viu-se obrigado a cancelar os concertos na Altice Arena que estavam marcados para outubro deste ano. Prepara-se para embarcar na digressão After Hours ‘Til Dawn Stadim Tour, cuja setlist deverá compilar os maiores sucessos destes dois últimos álbuns, que em muito engrandecem a discografia do cantor. Resta-nos esperar que as emissões da Dawn FM sejam, brevemente, emitidas em terras lusitanas.