A data foi instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018.

No dia 24 de janeiro comemora-se o Dia Internacional da Educação. Em celebração da data, o ComUM esteve à conversa com Helena Dias, coordenadora do ATL do jardim de infância e da escola EB1 de Fradelos, no concelho de Braga.

Nos últimos anos, tem-se assistido a um acelerado processo de desenvolvimento tecnológico, o que tem gerado diversas modificações no comportamento dos mais jovens. De acordo com o relatório “Situação Mundial da Infância 2017: as crianças no mundo digital”, um em cada três utilizadores da Internet é uma criança.

Se, por um lado, é possível extrair os benefícios que a era digital trouxe para o nosso quotidiano, pesam igualmente as desvantagens que dela resultam. É visível, na atualidade, que as tecnologias estão presentes precocemente na vida de muitas crianças, interferindo no seu rendimento escolar e no crescimento social e afetivo. De acordo com a revista “Hábitos de Exposição ao Ecrã de uma População Pediátrica de uma Área Urbana”, de Margarida Figueiredo, uma exposição aos ecrãs superior a três horas aumenta significativamente o risco de perturbações de sono e pode gerar graves problemas de atenção.

Helena Dias, licenciada em Educação da Infância, trabalha há 16 anos na área educativa e observa diretamente esta mudança nos mais pequenos. Quanto à questão da moderação a coordenadora admite que “se não existir equilíbrio entre o mundo físico e o virtual, é provável que surjam deficiências de concentração, emocionais e comportamentais. Tudo em excesso é erro”.

A coordenadora conta como a visualização de conteúdos brasileiros interfere na linguagem verbal das crianças. “Eu tenho crianças em idade pré-escolar, cujos pais são portugueses, que falam brasileiro com pronúncia. Dou um exemplo ainda bem recente com uma ‘geladeira’. Pedi para falar em português e a criança não conseguiu dizer a palavra frigorífico”, testemunha Helena.

Apesar da possibilidade de aproximar o mundo, também as tecnologias afastam “aquilo que está próximo”. “As crianças acabam por não viver o que deveriam, isolando-se nos ecrãs”, constata a orientadora. Ao contrário da vida digital, a convivência entre indivíduos é a ferramenta “mais poderosa” de promover a aprendizagem ativa e a aquisição de competências de interação social e emocional.

Em contraste com o que se verificava há poucos anos atrás, a infância deixa de ser essencialmente marcada por brincadeiras na rua e eleva o papel das tecnologias no processo de crescimento das crianças. Relembrando a sua infância, Helena conta que as mudanças são claras neste paradigma. “No meu tempo, brincávamos na rua com os colegas. Ficávamos até ao anoitecer com eles ou até os nossos pais nos chamarem para casa. Hoje isso seria impensável acontecer. Brincar ao ar livre caiu em desuso e, sem supervisão dos pais, é visto com um ato negligente”, diz.

No entanto, a coordenadora defende que “a maior negligência pode estar em dar uma consola, um tablet ou um telemóvel para as mãos das crianças. Ainda que pareça uma proteção do mundo físico, sujeita-as a um perigo descontrolado do mundo virtual”, nomeadamente através dos jogos entre utilizadores desconhecidos.

O contacto diário com os ecrãs aumentou exponencialmente com o ensino à distância. Como mãe, Helena Dias confessa que toda esta situação pandémica “veio atrasar e prejudicar o desenvolvimento das crianças a todos os níveis”. “Quando as crianças voltaram para a escola, observei mais imaturidade no comportamento, dificuldades de comunicação, de concentração, na aprendizagem e mais intolerância com os colegas”, observa. Para além dos aspetos mencionados, também se geraram “problemas ao nível do sono e uma dependência excessiva dos pais”.

Como especialista na área da Educação, Helena defende que os professores e educadores desempenham um papel importante para minorar este efeito das tecnologias. Porém, também “as famílias têm de, por dever, regular os limites desta utilização. A escola não substituiu o papel da família”. Na opinião da coordenadora, a escola pode agir maioritariamente através de “atividades de consciencialização dos pais e informação sobre as ferramentas de controlo parental”. Apesar de ver que alguns pais estão conscientes dessa realidade e controlarem a exposição, Helena verifica que muitos não têm consciência das eventuais consequências.