A segunda sessão do evento abordou assuntos como um bloco central, o salário mínimo nacional, os impostos e as alterações climáticas.

O Núcleo de Estudantes de Ciência Política da UMinho (NECPUM) e o Núcleo de Alunos de Economia da UMinho (NAECUM) organizaram, esta terça-feira, duas conferências “Novas Eleições, Novo Paradigma”. O evento decorreu a partir da plataforma Zoom.

A segunda sessão do dia desenvolveu-se no âmbito político e contou com a presença de Inês Rodrigues, membro da Direção Nacional da Juventude Comunista Portuguesa e da Direção da Organização Regional de Braga do Partido Comunista Português. Miguel Martins, deputado da Assembleia Municipal de Barcelos e dirigente na Coordenadora Distrital de Braga do Bloco de Esquerda e Miguel Rodrigues, presidente da Federação Distrital do Porto da Juventude Socialista também estiveram presentes. A conferência contou ainda com João Maria Jonet, membro da Comissão de Relações Internacionais do Partido Social Democrata e Maria Castello-Branco, ex-dirigente do Iniciativa Liberal.

O debate teve início com uma questão relativa ao futuro do Partido Socialista. Num cenário em que o partido tenha uma votação inferior à esperada, Miguel Rodrigues, para além da demissão de António Costa, não consegue prever “qual a política de alianças de alguém que há de vir”. Quanto ao apelo de uma unidade de esquerda, assume que é evidente que os entendimentos do PS se alinham “mais à esquerda do que à direita.” Também para o representante do Bloco de Esquerda, Miguel Martins, é difícil antever o que vai acontecer. Porém, cabe ao PS decidir que caminho quer seguir, ou seja, se pretende “negociar à direita, voltar à austeridade num bloco central ou se quer continuar com o caminho que foi sido desenvolvido com a esquerda e com a geringonça”.

Sobre o impasse governativo, Maria Castello-Branco diz que parece “muito estranho” um bloco central. Apesar de considerar que seria dramático para os partidos pequenos e para a democracia multipartidária, julga que Rui Rio não se importaria de adotar essa estratégia. Quanto a uma possível união à esquerda, a ex-dirigente do Iniciativa Liberal afirma que Portugal não vai “conseguir ter governo caso haja entendimento à esquerda”.

Posteriormente, foi a vez de Inês Rodrigues, que argumenta a importância de perceber primeiro como vai ser a composição da Assembleia da República e quais são os deputados que vão ser eleitos. Só depois é possível prever o que o PS vai fazer – “se quer continuar o trabalho de reposição e reconquista de direitos ou se pretende dar à mão ao PSD.” O último a falar foi João Jonet, que assume uma posição contra a ideia de uma coligação central, referindo que “não faz sentido no PSD atual”. Em relação a uma solução virada para a esquerda, João declara que “em Portugal não parece fiável, até porque o PS é um partido libertário, por exemplo, para estrangeiros”.

Em relação à questão das alterações climáticas, Maria  Castello-Branco refere que o IL “tem feito um bom trabalho nesse sentido, mas falta fazer mais.” Chama à atenção para a necessidade de um investimento numa revisão teórica dos princípios liberais relativamente à proteção ambiental. De seguida, foi vez de Miguel Martins, que se mostrou descrente com a situação atual. “Está descontrolada e isso deve-se a próprio sistema capitalista e não é com ele que vamos resolver este problema”, argumenta.

Para o representante do PSD, é importante a questão da fiscalidade verde e a necessidade de medidas relativas às alterações climáticas farem parte da revisão constitucional. Por fim, reflete que este é um tema “para construir em consenso e não em divisão”. O socialista Miguel Rodrigues indica que Portugal tem crescido “acima da média da União Europeia (UE) ao longo dos anos”.  Discorda que “não se tem feito nada” porque os rankings do euro status em 2019, mostra que Portugal é o quarto país da UE que mais energia renovável incorpora. Mostra-se expectante com as novas tecnologias como hidrogénio verde.

Por último, foi exposta uma pergunta focada numa perspetiva de marketing eleitoral. Segundo Inês Rodrigues, a campanha da CDU destaca-se pelo contacto direto e é reconhecida pela população. Miguel Martins diz que o partido de extrema-direita faz uma campanha a nível mediático “e aproveita-se disso”, mas também o PS e o PSD entraram nesta narrativa. Maria Castello-Branco fez uma breve revisão sobre todos os partidos, em especial do Chega, que utiliza o voto útil como uma estratégia, colocando um holofote no seu partido. Tem uma “campanha fraca em termos ideológico”, ao contrário do BE e do PCP.

Com o seu trabalho profissional, João Maria Jonet, não tem dificuldades em afirmar que a campanha digital tem corrido bem aos partidos que se esperaria (Chega, IL, PAN) mas também ao PDS. Fala também de “uma diferença de engagement brutal entre PSD e PS”. Já Miguel Rodrigues aponta para o facto de nenhum dos partidos estar a “importar algum tipo de responsabilidade aos deputados candidatos”. Reflete ainda que o PS, em particular, “poderia ter uma estratégia digital mais arrojada”.

Ainda sobre esta questão, todos os oradores concordaram que o foco destas eleições têm sido os líderes do partido e não os 230 deputados que vão ser eleitos no próximo domingo. Assim, Miguel Martins lamenta que em vez de “discutir um programa eleitoral”, estejam a “discutir um António Costa”.