O ComUM esteve à conversa com todas as partes envolvidas para perceber as várias perspetivas da situação.

A 7 de janeiro, vários grupos culturais da Universidade do Minho (UMinho) partilharam uma carta aberta a contestar o espaço atribuído no projeto de construção da nova sede da Associação Académica da UMinho (AAUMinho). Iniciando-se um novo capítulo com a tomada de posse dos novos órgãos sociais no dia 22 de janeiro, o ComUM conversou com todas as partes envolvidas – o Plenário dos Grupos Culturais de Braga, o novo presidente da AAUMinho, Duarte Lopes, e o reitor da academia, Rui Vieira de Castro.

Elaboração da proposta

Duarte Lopes conta que “as primeiras reuniões com os grupos culturais a propósito do assunto, foram em janeiro de 2020”. O mais recente presidente explica que, inicialmente, ficou decidida a atribuição de uma sede administrativa a cada grupo e a criação de “três ou quatro auditórios de ensaios”.

“Em janeiro de 2021, com um projeto um pouco mais concreto, fomos tendo reuniões com os grupos, com a parte de arquitetura e de engenharia. Houve ainda uma visita dos arquitetos do projeto aos espaços para perceberem as necessidades”, declara Duarte Lopes. Mas como é que se chegou a este projeto? “Essencialmente através de conversa com os grupos e validando essa conversa com a disponibilidade financeira”.

Problemas das propostas apresentadas

Ana Cristina Silva, porta-voz da Percussão Universitária do Minho (iPUM) e da Literatuna, afirma que uma “proposta A” foi apresentada e aprovada em Conselho de Gestão. “Levantaram-se logo algumas questões e foi solicitada à AAUMinho uma nova opção que respondesse às nossas ideias. Foi assim que apareceu a opção B”. De acordo com a aluna, a “opção A” é uma proposta em que “cada grupo teria a sua sala para reuniões e para guardar instrumentos e depois haveria três auditórios para uso de todos os grupos”. Esta proposta “levanta logo a questão da independência e da autonomia dos grupos que estão habituados a gerir o seu próprio espaço”.

A porta-voz explica também que, pelo facto de a maior parte dos grupos ensaiar à quinta-feira, “seria impossível” a coordenação entre todos. “Isto implicaria que se reformulasse todo o plano e horários, que não é fácil de se fazer. Com todas as advertências, os grupos pediram uma nova versão que garantisse mais autonomia e independência, e daí surgiu a “opção B”.

No entanto, Ana Cristina Silva ressalva que o projeto tem algumas vantagens, em específico para os grupos que ensaiam em auditórios no Campus de Gualtar. É o caso da iPUM. “A nossa sede atual é na sede da associação académica, que é onde é feita a entrega do correio, mas nunca tivemos um sítio fixo para ensaiar. Já ensaiamos dentro da universidade e já ensaiamos em alguns sítios fora da universidade”, explica.

Na mesma situação encontram-se a Literatuna e o Coro Académico da Universidade do Minho (CAUM), que ensaiam no Campus “porque o reitor deixou”. “A qualquer momento pode vir uma nova direção, um novo reitor e ficamos na mão, não está nada no papel”, acrescenta a aluna. Apesar de suprir as necessidades de um ou dois grupos, a porta-voz reivindica que o projeto deve salvaguardar todos os grupos. “Nós estamos aqui unidos, estamos a falar no geral. É assim que nos estamos a apresentar e vamos continuar a apresentarmo-nos”, reitera. 

“Tanto a opção A como a B, apesar de o reitor dizer que respondem às nossas necessidades, não funcionam. Teremos de recorrer a outros locais, quer na opção A, quer na opção B, por causa do número de elementos que podemos ter em alguns ensaios. O facto de termos de recorrer a espaços extra já prova que não respondem às nossas necessidades”, diz João Barbosa, porta-voz da Associação Recreativa e Cultural da Universidade do Minho (ARCUM). O estudante acrescenta que a proposta apresentada “nem sequer corresponde a um mínimo necessário das condições que os grupos [situados na rua D. Pedro V] atualmente têm”. 

Duarte Lopes, por sua vez, garante que “nunca se pode falar de uma diminuição direta” do espaço designado em relação às atuais condições. “Um grupo que tem, neste momento, um espaço com 50 metros quadrados, tem este espaço para tudo – guardar instrumentos, todos os materiais, ensaios e convívio”, explica. Na proposta apresentada, segundo o presidente da AAUMinho, vai ser atribuído a cada grupo um espaço com cerca de 30 metros quadrados, exclusivo para guardar instrumentos e convívio. Em acréscimo, os grupos vão ter “acesso a oito espaços de ensaio, um auditório de 70 metros quadrados, três salas e um espaço no BA com 150 metros quadrados”. Além disso, vai estar disponível para todos os grupos um “espaço de armazenamento para guardar materiais pontualmente, como bandeiras e acessórios”. 

Desta forma, o estudante acredita que “há uma mudança de paradigma”, que passa de um modelo em que toda a atividade dos grupos é realizada num único espaço para a distribuição das suas funções por “pontos” – “um ponto de armazenamento, um ponto de ensaio e um ponto de convívio”. Segundo Duarte Lopes, “quando estes pontos são somados” obtém-se um espaço “provavelmente muito maior” do que os grupos têm agora.

Responsabilidade do projeto

Rui Vieira de Castro reitera que “a gestão dos espaços a atribuir aos grupos culturais é uma tarefa que cabe à associação académica”. No entanto, esclarece que, durante a projeção do projeto, a sua presença foi solicitada e teve a oportunidade de expor os pontos de vista e de procurar “sensibilizar os grupos culturais para a importância de haver uma decisão em torno da matéria”. “Nem sempre temos condições para obtermos soluções ótimas”, acrescenta. O responsável máximo da academia admite ter dito aos grupos culturais que, “tendo em conta as soluções que estavam previstas, poderiam ser exploradas outras possibilidades ou instalações da universidade”. 

“O reitor vem responder à nossa carta a dizer que a sede vai responder às nossas necessidades, quando nós acabamos de explanar na própria carta que não responde às nossas necessidades”, comenta João Barbosa. O estudante considera ainda que a universidade está a “deslocar à força” os grupos que estão na rua D. Pedro V, sem arranjar uma solução. “Está a empurrar a solução para a associação académica e para as condições que a AAUMinho tem para desenvolver esta sede, que financeiramente são limitadas e não permitem responder a todos os nossos requisitos”. O porta-voz garante que os grupos não respondem à AAUMinho em si e que não pertencem à associação académica. “Nós não estamos num edifício da associação académica, nós estamos num edifício da universidade. Todos os grupos estão em edifícios da universidade”, refere. 

Rui Vieira de Castro discorda desta posição, referindo que não se pode dizer que “a associação académica ou a universidade não tem considerado o trabalho dos grupos culturais”. O reitor reitera que “esta é uma responsabilidade partilhada”. “Ninguém pode ficar de fora de assumir esta responsabilidade – os grupos, a associação e a universidade. Por isso mesmo é importante trabalhar para a convergência em torno das soluções que melhor sirvam todos os envolvidos”, garante. 

A porta-voz do iPUM e da Literatuna dá mérito ao facto de a AAUMinho ter pensado num espaço para os grupos na nova sede. “Quem nos ‘deve alguma coisa’ é o reitor, não é a associação académica. Nós somos grupos que temos ‘Universidade do Minho’ no nome e, para ter esse nome legal, tivemos de o solicitar. Nós levamos o nome da academia a todo o lado e acho que deveria haver esse reconhecimento”.

Ana Cristina Silva também não compreende a posição do reitor, visto que foi feito o levantamento das atuais condições dos grupos. “Ligaram aos grupos a perguntar quantos instrumentos tinham, o tamanho dos instrumentos e fizeram visitas às salas de alguns dos grupos que estão na D. Pedro V”, explica. Assim, tendo o reitor acesso a essa informação, a estudante “estranha” que o reitor diga que vai suprir as necessidades. 

“O importante é sermos capazes de chegar a um consenso”

Duarte Lopes mantém-se esperançoso e tem certezas da chegada a um consenso. “É absolutamente aceitável que os grupos culturais queiram as melhores condições possíveis para as suas sedes”. Porém, o presidente da AAUMinho não defende “este modelo de diálogo público” que “não torna o projeto mais célere e que não vem acrescentar nada”, e admite preferir o diálogo direto com os grupos. “O importante é sermos capazes de falar e chegar a soluções, chegar a um consenso. Sentar com as pessoas e trabalhar em cima de um documento e de um projeto”. Duarte Lopes conta já ter reunido com dois grupos e, ao longo dos próximos dias, espera reunir com os restantes.

Artigo por: Joana Oliveira, Maria Carvalho e Maria Francisca Barros