A conversa visou a discussão das desigualdades de género no mundo da música, mais concretamente, da composição.
Na última terça-feira, 25 de janeiro, a Orquestra do Alto Minho dinamizou uma sessão de Mesa Redonda intitulada “Género e Música: Compositoras”. A palestra contou com a intervenção das compositoras Ana Seara, Anne Victorino d’Almeida, Sara Ross e Sofia Sousa Rocha e surgiu como celebração dos 30 anos da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, agora designada como Escola Profissional Artística do Alto Minho.
O objetivo passou por debater e, sobretudo, desmistificar alguns dos preconceitos a que as mulheres estão sujeitas na música. Foi abordada a falta de representação de mulheres no estudo da história da composição. Sofia Sousa Rocha chamou a atenção para a existência, efetivamente, de uma série de compositoras que marcaram a história da área, mas que sempre foram postas de lado.
Com base na sua experiência, Ana Seara advertiu ainda para a questão da programação de festivais de música que, frequentemente, é composta unicamente por homens. A compositora explicou ainda que, quando existe a presença de uma, ou mais, mulheres é habitual ouvir-se comentários como “nota-se que é música de mulher, é mais delicada”.
A artista repreendeu esta postura. “Temos de mudar esta terminologia, sob a pena de perpetuar estas questões que não fazem sentido existir em 2022”, afirmou. “Desejo que isto deixe de ser um assunto, e que realmente possamos pensar somente no artístico”, adicionou Anne Victorino d’Almeida.
“Poder viver-se da composição” foi também uma dificuldade apontada por Anne, que alertou para a necessidade de encontrar soluções. “Ser exclusivamente compositor/a é um obstáculo que muitos profissionais encontram, vendo-se obrigados a exercer outras profissões simultaneamente, muitas vezes o ensino”, explicou.
A desvalorização e falta de reconhecimento foram pontos de relevo durante a conversa. As compositoras concordaram que “o trabalho e tempo necessários para realizar uma obra, nem sempre é compreendido pelos interessados” o que depois se reflete a nível remuneratório. Mencionaram ainda a dificuldade, e quase inexistência, de apoios culturais.
As artistas trouxeram também para discussão o tema da gestão da vida familiar e profissional, assunto que assumem como “posto em causa com alguma regularidade”. Contudo, as compositoras demonstraram algum desagrado face a esta questão, visto não se tratar de “uma pergunta aos jovens compositores pais”, considerando-a assim “uma forma de discriminação”.