Um terno drama sobre três colegas de casa que se encontram no espetro autista, Pelos Nossos Olhos estreou dia 21 de janeiro. Uma das mais recentes apostas da Amazon, a série destaca-se das demais do mesmo género pelos três protagonistas serem realmente portadores de autismo.

Tentando dar a conhecer as diferentes manifestações que o distúrbio pode tomar, enquanto apresenta as personagens para lá do transtorno, a série segue um ritmo interessante. Mandy (Sosie Bacon) é a cuidadora dos três amigos: Jack (Rick Glassman), Violet (Sue Ann Pien) e Harrison (Albert Rutecki). Todos com autismo, mas muito diferentes entre si.

Para além do ritmo agitado de vida que o emprego lhe confere, Mandy encontra-se também a lidar com vários dilemas pessoais. Após o seu plano de entrar numa escola de medicina falhar, a jovem pondera se deve continuar com o trabalho ou seguir um estágio na sua área que o namorado lhe arranjou, que é, porém, longínquo.

O apego que tem aos que estão debaixo dos seus cuidados é muito e, segundo Van (Chris Pang), irmão de Violet, fez mais progressos nos escassos meses que esteve com eles do que ele alguma vez havia visto. No maior paradoxo da sua vida, a rapariga tem de tomar uma decisão que irá certamente definir o resto do seu percurso profissional.

Tudo isto enquanto ajuda os habitantes do apartamento a ultrapassarem os seus variados problemas. Jack, que é portador de Síndrome de Asperger, abalado por problemas familiares, luta de todas as maneiras que pode para ajudar o pai enquanto tenta manter o emprego como programador apesar da sua bruta honestidade. Harrison, com a ajuda de um novo amigo, esforça-se por conhecer mais as pessoas e o mundo que o rodeia, apesar de condicionado pela sua sobrecarga sensorial. Já Violet, constantemente em confronto com o irmão super-protetor, procura sentir-se uma “pessoa normal” e define encontrar um namorado como a sua prioridade.

Em meio a muitas adversidades e a um mundo que parece não estar pronto para lidar com as suas diferenças, a série segue os três numa jornada enternecedora cheia de altos e baixos. Pelos Nossos Olhos é um retrato realista escrito e realizado por Jason Katims que tem muita experiência com o autismo e com escrever sobre o mesmo. As críticas de pessoas que se encontram no espetro têm sido, em geral, bastante positivas, com as mesmas revelando que é fácil identificarem-se com muitas das situações que as personagens passam.

Não é uma visualização particularmente animada. Apesar dos momentos cómicos, não há cenas assoberbantemente surpreendentes ou plot twists dramáticos. Marca pela simplicidade realista e pelo quão boa é a conectar a audiência aos protagonistas, mesmo se muitos dos seus percalços são tão fora da realidade do público neurotípico.

O modo como a série inteira é gravada cria ainda mais um sentimento de afinidade. Katims, tal como em alguns dos seus trabalhos anteriores, assegura-se de que as cenas são gravadas com câmaras seguras pelas mãos da staff. Isto confere um aspeto mais caseiro, que parece, de algum modo tornar a experiência de visualização mais real. A paleta de cores é também algo especial. Com uma luz quente e cores suaves, os visuais são algo bonito de apreciar.

Para além dos três protagonistas serem portadores de autismo também fora do ecrã, a realizadora revela que a inclusividade vai para além disso. Katims diz que o show conta também com pessoas neurodivergentes nas equipas de escrita e edição.

Num momento em que várias outras séries sobre o tema parecem estar a emergir, Pelos Nossos Olhos surge como uma representação doce, apesar de por vezes algo pesada, de uma temática que foi tabu por muito tempo. Apesar de categorizada como uma comédia pela Amazon, é o drama desta série que prende e que de certeza deixará todos os que a assistirem com um aperto no coração sempre que o mundo parece ir contra o sucesso das personagens.