O Parlamento Português passa a contar com oito forças políticas, após a perda de representação parlamentar do CDS-PP e do PEV.

Decorreram este domingo, dia 30 de janeiro, as eleições dos 230 deputados para o Parlamento. Ao contrário do que se esperava, o Partido Socialista (PS) foi o grande vencedor da noite com uma maioria absoluta, a segunda do partido na história da democracia em Portugal. Desta forma, António Costa forma o seu terceiro Governo e torna-se no primeiro-ministro com maior longevidade no cargo. Tanto os partidos vencedores como os vencidos tiveram oportunidade de discursar e de manifestar as suas opiniões acerca dos resultados.

O mapa dos resultados das eleições mostra o PS à frente do PSD em quase todos os círculos eleitorais. O PS (41,68%) conta agora com 117 deputados na Assembleia da República enquanto o Partido Social-Democrata (PSD), com 27,80% dos votos, conta apenas com 71.

Como terceira força política surge o Chega que, com 7,15% dos votos, passa de um deputado no parlamento para um grupo de 12 deputados seguindo-se a Iniciativa Liberal (IL) com 4,98% e que coloca agora oito deputados no Parlamento. O BE (4,46%) e a CDU (4,39%) surgem depois e elegem seis e cinco deputados, respetivamente.

O PAN (1,53%) e o Livre (1,28%) garantem ambos a eleição de um deputado, enquanto o CDS-PP, partido histórico da democracia portuguesa, com 1,61% dos votos, abandona o Parlamento. No que toca à abstenção, numa votação ainda marcada pelo contexto pandémico, esta foi de 42,04%, abaixo da abstenção nas eleições legislativas de 2019.

No discurso de vitória, António Costa mostrou-se emocionado perante os resultados. O secretário-geral do PS considerou que este é um voto de confiança mas também “uma enorme responsabilidade” e prometeu promover o diálogo e os consensos da Assembleia da República. “Em democracia, ninguém governa sozinho. Nós queremos governar para todas e com todas as portuguesas e portugueses”, declarou.

O deputado considerou ainda que os portugueses “mostraram um cartão vermelho a qualquer crise política” ao darem a vitória ao PS. O resultado mostra que o país quer “estabilidade, certeza e segurança e um Governo do PS para os próximos quatro anos”, finalizou.

Comparativamente a 2019, o PSD conseguiu mais votos nestas eleições legislativas. Ainda assim, segundo Rui Rio, não foram “atingidos os objetivos” do partido sendo este o grande derrotado da noite.

Reconhecendo que “o vencedor da noite” foi o PS, o presidente do PSD afirmou que estes resultados explicam-se com “um voto útil à esquerda absolutamente esmagador” que não houve à direita. Rui Rio reconheceu que não houve “a mesma união em torno do PSD” uma vez que a direita se dispersou e assumiu-se como “o primeiro responsável” pelos resultados do partido.

Relativamente à continuidade de Rui Rio como presidente do PSD, este admitiu que, perante a maioria absoluta do PS, não sabe como pode ser útil para o Partido Social-Democrata. “Eu não estou a ver, neste enquadramento, como é que posso ser útil com mais quatro anos em cima”, declarou, acrescentando que a sua missão “é prestar um serviço ao PSD e prestar um serviço a Portugal”.

O Chega substitui o BE e torna-se na terceira força política no Parlamento. Após a quase demissão de Rui Rio, André Ventura discursou e apresentou-se como a verdadeira oposição ao PS dentro do Parlamento. “Se o PS acha que vai ter a vida mais facilitada nesta legislatura, nós vamos transmitir-lhe a mensagem precisamente oposta”, declarou. O líder do partido de direita prometeu ainda contrastar com a “oposição fofinha” do PSD e do CDS e, dirigindo-se diretamente ao secretário-geral do PS, anunciou: “António Costa, eu vou atrás de ti agora”.

Após o Chega, a Iniciativa Liberal, também à direita, surge como a quarta força política. Para João Cotrim de Figueiredo apenas dois partidos podem “cantar vitória” por terem atingido os seus objetivos.

Por um lado, “a eventual maioria absoluta do Partido Socialista” que é motivo de preocupação para o partido liberal mas que se mostra “firme, constante e implacável” contra o socialismo. “Já tive ocasião de cumprimentar António Costa e de lhe dizer que pode contar, no próximo Parlamento, com a oposição firme da Iniciativa Liberal”, declarou João Cotrim Figueiredo.

Por outro lado, apesar do feito da IL ficar “manchado pela existência de uma maioria absoluta do PS”, é o próprio partido que pode “cantar vitória” e, “isso é motivo de profunda alegria”. “Provamos que é possível ganhar votos sem ser populista, sem ser extremista. E essa é uma vitória da democracia em Portugal”, concluiu o líder do partido liberal.

À esquerda, foi evidente a derrota dos antigos parceiros da geringonça (BE e CDU). Partidos que acusaram o PS de uma “bipolarização artificial” e de uma “falsa crise”.

Para o Bloco de Esquerda, que caiu de terceira para quinta força política, foi “um dia difícil e um mau resultado” no entanto, o partido encara as dificuldades “tal como elas são”. Catarina Martins afirmou ainda que o BE teve uma campanha eleitoral “muito difícil, com uma bipolarização que, como se percebeu, era falsa e criou enorme pressão de voto útil que penalizou os partidos à esquerda”. “A estratégia do Partido Socialista de António Costa, de criar uma crise artificial para ter uma maioria absoluta, ao que tudo indica foi bem-sucedida”, declarou.

A líder do partido alegou ainda que “este é também um mau resultado por causa do resultado que teve a extrema-direita e o Chega”. Todavia, assegurou que “cada deputado racista eleito no Parlamento português é um deputado racista a mais” e que o partido de esquerda os pretende “combater todos os dias”. Apesar da derrota, a deputada garantiu que o BE vai assumir “todas as suas responsabilidades”.

Do mesmo modo, a CDU lamentou a “quebra eleitoral”, com a significativa perda de deputados, e acusou o PS de promover a “bipolarização”. Para Jerónimo de Sousa, “o quadro político e a relação de forças são marcados por um resultado eleitoral que, a partir de uma extrema promoção da bipolarização, beneficiou o PS, apesar da sua postura de fuga às respostas necessárias ao país”.

Apesar da derrota, o partido reafirmou “o compromisso de sempre com os trabalhadores e o povo português, a determinação de promover a convergência para a solução dos problemas nacionais”. O líder comunista afirmou ainda que “a CDU reafirma a sua determinação de prosseguir e intensificar a intervenção em defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo”. Realçando que “as vitórias nunca nos descansam, as derrotas nunca nos tombam”, Jerónimo de Sousa admitiu que o partido não está feliz, mas está consciente “da dureza com que travou esta batalha”.

Segundo o líder do CDU, o PS “devia, no mínimo, reconhecer um papel decisivo e importante ao Partido Comunista Português e ao Partido Ecologista Os Verdes que, no quadro dos orçamentos, sempre mas sempre procurou dar uma contribuição concreta de problemas concretos que afligem hoje os trabalhadores e o nosso povo”. Assim, António Costa, “tem na mão a opção de fazer entendimentos com o PSD” ou de “convergir à esquerda com a CDU”.

Acerca do crescimento da extrema-direita no Parlamento, o líder do partido comunista expressou que perante “os problemas sociais que afligem os portugueses, designadamente no plano da proteção social, no apoio aos mais desfavorecidos, no combate à pobreza infantil” a força política de direita “diminuirá significativamente”.

O partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza (PAN) viu também a sua representação parlamentar diminuir nestas eleições legislativas. O partido assumiu o “mau resultado” no entanto, Inês Sousa Real garantiu que “seja como deputada, seja como grupo parlamentar”, vão continuar a trabalhar com a mesma persistência.

Acerca da maioria absoluta do PS, a líder partidária considera que “não é desejável para o país” e espera que o PS não recue o diálogo que “tem de acontecer”. Sobre o crescimento da direita no Parlamento, Inês Sousa Real lamenta: “aquilo que o PAN na altura temia, de que estivéssemos a abrir a porta, com a queda do Orçamento do Estado, ao populismo antidemocrático, ao fascismo, ao racismo, à xenofobia, veio a comprovar-se que efetivamente viria a acontecer”.

O Livre, apesar de não ter alcançado o objetivo de obter um grupo parlamentar, atingiu o seu melhor resultado de sempre em legislativas. Rui Tavares reconheceu a sua eleição como uma “segunda oportunidade” e que não vai haver uma terceira.

O líder do partido assumiu que o grande desafio vai ser o diálogo à esquerda face a maioria absoluta do PS e espera que António Costa seja “fiel à palavra que deu, de que com a maioria absoluta não deixaria de negociar”. No entanto, Rui Tavares afirma que o Livre regressa ao Parlamento “para ficar”.

Por fim, as legislativas ficaram também marcadas pelo CDS-PP, o quinto partido mais votado em 2019, que acabou por perder representação parlamentar em 2022. A derrota do partido levou à demissão de Francisco Rodrigues dos Santos. “Este resultado não deixa margem para dúvidas de que deixei de reunir condições para continuar a liderar o CDS – Partido Popular e, por essa circunstância, apresentei ao presidente do Conselho Nacional a minha demissão de presidente do CDS”, anunciou.

O líder lamentou o mau resultado do CDS “que, ao final de 47 anos, perde a sua representação parlamentar” no entanto, afirma que o partido “não morreu”, estando “para muito breve um congresso eletivo” onde os membros vão ter de fazer uma “reflexão”. Francisco Rodrigues dos Santos assume “a responsabilidade destes resultados eleitorais” mas garante: “enquanto houver estrada para andar, e no nosso partido terá muito, poderão sempre contar comigo pois nunca farei aos outros aquilo que me fizeram a mim”.

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