A história de 355 acompanha um grupo de espias, de várias agências internacionais, enquanto estas “correm contra o tempo” para evitar uma catástrofe global. Mesmo não sendo o filme mais memorável, as performances de um elenco forte e as emocionantes sequências de ação tornam-no aprazível.

Quando uma arma ultrassecreta – um programa especial de desencriptação que pode aceder a qualquer sistema digital no planeta Terra – cai nas mãos de mercenários, a agente da CIA, Mason “Mace” Brown (Jessica Chastain), tem de unir forças com parceiras inesperadas. A nova equipa é composta pela rival de Mace, a agente alemã Marie (Diane Kruger), uma ex-aliada do MI6 que é também especialista em informática, Khadijah (Lupita Nyong’o) e a hábil psicóloga colombiana Graciela (Penélope Cruz), mas que nunca esteve no terreno.

Para além da missão ser perigosa torna-se desequilibrada, pois cada uma das agentes tem não só a sua maneira de operar como personalidade muito forte. Assim, recuperar o programa – ao mesmo tempo que as quatro se mantêm um passo à frente de uma mulher misteriosa, Lin Mi Sheng (Bingbing Fan), que está a seguir todos os seus movimentos – revela-se num desafio. À medida que a ação se move em todo o mundo, desde os cafés de Paris até à riqueza e glamour de Xangai, passando pelos mercados de Marrocos, o quarteto de mulheres será obrigado a formar uma lealdade temporária para salvar o mundo.

Trata-se, portanto, de uma junção de cenas de ação e efeitos especiais que maravilham cada apaixonado deste género de longa-metragens. Os planos estão repletos de close-ups e sensação de câmara tremida juntamente com luzes a ligar e a desligar que ajudam na solidificação das coreografias de pancadaria. A presença deste elenco permite chegar a uma audiência muito maior fora das dimensões deste tipo de obra. Contudo, o “tiro saiu pela culatra” a começar pelo próprio trailer que não é, propriamente, fascinante e fornece demasiados spoilers.

A ideia de criar uma equipa de mulheres determinadas e lutadoras é refrescante, mas infelizmente o filme não traz nada para além de se cingir a quase todos os clichés. A montagem da equipa é interessante – entre planos de luta e construção de amizade – mas a verdadeira razão para cada uma delas estar lá é desinteressante.

Para além disso, tirando efémeros momentos em que o grupo está a agir em conformidade com um plano, a obra cinematográfica é, em geral, aborrecida e demora imenso tempo a apresentar a trama e as personagens. Para não falar que uma das protagonistas apenas aparece no fim da longa-metragem. Deste modo, não há profundidade para nenhuma das personagens. De igual forma, faltou mostrar partes de superação e de justificar motivações de certas personagens, uma vez que se tornam incoerentes. Na verdade, é tudo muito superficial.

No entanto, a parte que menos fez sentido na história foi toda a construção amorosa entre os dois protagonistas, Mace e Nick. Desde o início que não existe química nenhuma e mesmo assim o enredo do filme desenvolve-se com base nesse amor superficial. Assim, o que o realizador tenta entregar com essa história parece “um pãozinho sem sal” aos espetadores. Para terminar, a arma apresentada é tudo e não é nada. Teria sido uma vantagem dar ao público algo mais convincente e real. Desta forma, é tão amórfico que nunca se sente verdadeiramente a ameaça do seu potencial perigo.

Ainda assim, a ideia das mulheres rejeitarem as suas agências dominadas por homens e, por consequência, estarem por conta própria e terem de confiar umas nas outras para sobreviverem não deixa de ser intrigante. Do mesmo modo, a evolução de cada uma delas é também notória, principalmente nos casos da Graciela, da Mace e da Marie. Além disso, é possível notar-se uma evolução ao nível das piadas irónicas. Não que haja um melhoramento da comédia, mas com o desenvolvimento da história o humor torna-se mais macabro e denota-se vingança nas falas das personagens, sem ter de se recorrer a cenas de luta. Outro ponto positivo da longa-metragem é, sem sombra de dúvida, a banda sonora. A letra e o ritmo das canções harmonizam muito bem o que se está a passar no ecrã e dão mais alma à cena específica.

Concluindo, apesar de 355 se tornar previsível e, por isso, facilmente esquecível, existem muitas perguntas e poucas respostas. Assim como histórias inexploradas, a produção deixa a saga aberta a possíveis sequelas e prequelas.