Adaptar um dos grandes clássicos da literatura inglesa, quiçá mundial, escrita por um dos melhores dramaturgos de sempre, quiçá o melhor, acaba por ser um grande desafio. Esse desafio considero que foi ultrapassado nesta obra cinematográfica realizada por Joel Coen e intitulada de A Tragédia de Macbeth.
A história do filme e da peça de teatro tem tanto de complexa como de simples. À primeira vista estamos perante um regicídio e as consequências que dele advêm. No entanto, quando paramos para analisar, descobrimos um universo rico em realismo fantástico, política e muita filosofia que discute a ambição humana e quão longe estamos dispostos a ir para alcançarmos os nossos objetivos.
Quando digo muita filosofia não estou a exagerar, não existe um único diálogo que não possua duplo sentido. Todos os diálogos possuem uma elevada carga metafórica, nada é literal. Os personagens falam numa linguagem arcaica, quase em código. Admiro os atores que foram capazes de memorizar os diálogos e monólogos (que são vários) “shakesperianos”, por vezes confusos e que exigem muita atenção por parte do espetador.
Desta forma, por falar em atuações, são de destacar três atores que estão sublimes na obra cinematográfica e que não estranharia se fossem nomeados para a grande premiação do cinema: Os Óscares. Denzel Washington como Macbeth, Frances McDormand como Lady Macbeth e Kathryn Hunter como “As Três Bruxas” são os grandes destaques da obra cinematográfica. Denzel Washington e Frances McDormand encontram-se exímios nos seus personagens. No decorrer do filme conhecemos as angústias, os remorsos, testemunhamos a loucura crescente e sem retorno destas personagens. Kathryn Hunter como uma criatura mística, sempre no limbo entre o real e o imaginário, tanto fascina como deixa o espectador arrepiado sem saber o que pensar e o que sentir quando a atriz se encontra em cena.
Para concluir, não podia terminar esta crítica sem mencionar a componente visual do filme. A obra cinematográfica assemelha-se bastante a uma peça de teatro. A obra, sendo a preto e branco, permite-nos mergulhar na atmosfera sombria e de desconfiança. Os cenários são frios. Os planos contemplativos deixam respirar a imagem sem nunca a contaminar com detalhes superficiais. Todos os elementos figurados nos planos são indispensáveis e carregam um enorme simbolismo dentro da trama. A cinematografia nunca nos distrai do texto brilhantemente declamado pelos intérpretes e isso é de louvar.
Concluo dizendo que A Tragédia de Macbeth é um sério concorrente aos Óscares pelas atuações e pela cinematografia de tirar o fôlego. Contudo, o seu roteiro apresenta-se, em algumas ocasiões, de difícil compreensão.
Título Original: The Tragedy of Macbeth
Realização: Joel Coen
Argumento: Joel Coen, William Shakespeare
Elenco: Denzel Washington, Frances McDormand, Kathryn Hunter
EUA
2021