À medida que aumentam as tensões entre a Ucrânia e a Rússia, o mundo prepara-se para um possível fluxo de refugiados até cinco milhões.

Este domingo, dia 20 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial da Justiça Social. Assinalado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2007, a data tem como objetivo recordar a necessidade de se alcançar a igualdade, o bem-estar, o trabalho e a justiça para todos os seres humanos. Para além disso, foca-se em enfrentar as realidades da pobreza, do desemprego e da exclusão, criando oportunidades e combatendo as desigualdades no mundo.

De acordo com os últimos dados fornecidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o número de pessoas a fugir de guerras, violência, perseguições e violações de direitos humanos, em 2020, subiu para 82,4 milhões. Este valor é 4% superior aos 79,5 milhões de migrantes registados no final de 2019 – sendo o maior número alguma vez registado.

Com o panorama atual de tensão entre a Ucrânia e a Rússia, uma potencial invasão por parte das tropas russas resultaria, segundo uma avaliação do Pentágono e dos serviços secretos norte-americanos, em quase cinco milhões de refugiados. O leste da Ucrânia é afetado, desde 2014, por uma guerra entre Kiev e os separatistas pró-Rússia, um confronto que eclodiu após a anexação da Crimeia ucraniana por Moscovo.

De acordo com o Conselho Norueguês para Refugiados, mais de 850 mil pessoas já foram deslocadas da Ucrânia por causa dos combates. Segundo a organização não governamental, um novo conflito vai afetar o progresso significativo feito nos últimos anos. Em função deste cenário, o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados, Jan Egeland, afirma que “as vidas e a segurança de milhões de pessoas no leste da Ucrânia estão em jogo enquanto se aguarda um avanço político para quebrar este impasse”. Acrescenta ainda que “não se deve subestimar o sofrimento humano que um conflito renovado causaria: aumentaria o número de vítimas civis e de necessidades humanitárias e provocaria deslocamentos em massa”.

Face a este contexto, caso a crise de refugiados se agrave, a procura de abrigo vai ser feita sobretudo nos países vizinhos. Posto isto, países como a Polónia e a Roménia já adotaram planos de ação para gerir um afluxo abundante nos seus territórios.

Na Polónia, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki já adiantou que uma infraestrutura para refugiados vai ser instalada perto de sua fronteira oriental com a Ucrânia. “Devemos estar preparados para o pior”. Admite que vai ser convocada uma equipa responsável pelas “questões de logística, instalações, transporte, infraestrutura”, que vai ainda garantir o acesso dos refugiados a educação e cuidados de saúde. Em relação à Roménia, o Ministério do Interior identificou possíveis pontos de entrada dos refugiados. Os presidentes de câmara das províncias romenas de Iasi, Suceava e Botosani, perto da fronteira com a Ucrânia, confirmaram à imprensa local o início dos trabalhos para encontrar locais onde possam ser alojados possíveis refugiados.

No entanto, os países vizinhos da Ucrânia não serão os únicos afetados pelo fluxo de refugiados causados pela guerra. O professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Gunther Rudzit, em entrevista à CNN, estima que este possível conflito “provocaria dezenas de milhares de refugiados, não só na Polónia, mas para países do Leste Europeu”.

Também a representante de Portugal no Internacional Center for Migration Policy Development (ICMPD), Manuela Niza Ribeiro, conta que a situação atual é diferente daquela que se viveu em 2014. “Para as populações envolvidas, pouco ou nada mudou desde então, para a comunidade internacional, a situação ganhou contornos mais alargados e sobretudo mais perigosos”. Desta forma, concluí que seja “muito provável que Portugal venha a ser, em breve, destino de refugiados ucranianos”.

Ainda sobre Portugal, André Costa, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), quando questionado pela Rádio Renascença sobre a capacidade de Portugal para dar resposta de emergência em matéria de refugiados ucranianos, assegura que “vai haver, com certeza, capacidade de acolhimento”. Porém, acha que é cedo para falar deste tema quando ainda se está numa fase de tensão diplomática que pode vir a ser resolvida.

Destaca-se também as palavras do alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi. “Cada número representa uma pessoa que foi forçada a fugir da sua casa e uma história de deslocamento, perda de bens e de sofrimento. Estas pessoas merecem a nossa atenção e apoio não apenas com ajuda humanitária, mas com soluções duradoras para a sua situação”.