Devido a uma alteração no regulamento, apenas estudantes que já tenham concluído a licenciatura encontram-se em condições de concorrer a cursos de 2.º Ciclo.
Vários estudantes da Universidade do Minho partilharam, durante esta semana, uma petição pública para revisão dos requisitos de candidatura a mestrados na academia minhota. A iniciativa surge como resposta à impossibilidade dos estudantes de 3.º ano de licenciatura se candidatarem a mestrados da Escola de Economia de Gestão (EEG). Os alunos já foram notificados que vai ocorrer uma reunião entre a unidade orgânica visada e a reitoria, tendo a AAUMinho igualmente manifestado preocupação pela situação.
A primeira fase de candidaturas a cursos de 2.º Ciclo da EEG abre na próxima quarta-feira, dia 2 de março, e termina no dia 21 de abril. Ao contrário do sucedido em anos anteriores, o regulamento deste ano exige que os estudantes anexem, já no processo de inscrição, o “certificado de habilitações, com discriminação das unidades curriculares realizadas; classificação final da licenciatura (média) e indicação da nota de passagem”. Isto inviabiliza os alunos que se encontram no 3.º ano de licenciatura de concorrerem à primeira fase. Visto que a segunda fase termina a 2 de junho, os finalistas também se encontram impedidos de se candidatar neste segundo momento de inscrição, estando apenas habilitados a integrar a terceira fase.
Angélica Fernandes, estudante do 3.º ano da licenciatura em Economia, em declarações ao ComUM, revela que esta decisão “altera imenso os planos para o futuro e os planos de estudo”. Constatando que a calendarização não se alterou em relação a anos anteriores, a estudante afirma que “o que mudou este ano foi o facto de a reitoria, sem informar os alunos, ter decidido e dado diretrizes ao Conselho Pedagógico que, este ano, só iriam aceitar inscrições de alunos totalmente licenciados”. Assim, reitera que a resolução só poderia ser tomada se existisse um atraso da calendarização das inscrições, de modo que os “finalistas pudessem prosseguir os estudos na Universidade do Minho normalmente, sem serem obrigados a parar um ano”. “Injusta e incoerente” são as palavras utilizadas por Angélica Fernandes para classificar a decisão.
Em entrevista ao ComUM, Maria (nome fictício), estudante do 3.º ano da licenciatura em Relações Internacionais, considera que os calendários definidos pela Escola de Economia e Gestão “tornam as coisas mais complicadas”. “As outras escolas e institutos da universidade fazem sempre, no meu conhecimento, a calendarização das candidaturas a mestrado a partir de junho. Ou seja, normalmente já não há este problema de não termos o diploma da licenciatura para efetuar a candidatura ao mestrado, porque à partida já quase toda a gente tem o diploma. Isto na EEG não acontece”, explica.
Além de admitir que a decisão prejudica os estudantes, Maria considera que a alteração não corresponde aos interesses da própria universidade. “Os alunos que estão agora a terminar a licenciatura, como eu, não querem esperar um ano. Vai ser a universidade a perder no meio disto tudo, porque nós vamos procurar alternativas”, argumenta. A aluna encara ainda esta resolução como “uma falta de respeito enorme pelos alunos”, que atravessaram várias dificuldades durante o período da pandemia e que se estenderam, por exemplo, à saúde mental. Segundo Maria, “o papel da universidade era, sem dúvida, tentar suavizar esse impacto na saúde mental e não prejudicar mais”.
Duarte Lopes, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), afirma ao ComUM que esta é “uma questão prejudicial” para os estudantes da academia minhota, que “deveria ter sido acautelada pelas Unidades Orgânicas de Ensino aquando da criação dos respetivos calendários de candidaturas a mestrado”. Sendo da responsabilidade da associação académica “defender e zelar pelos interesses estudantis”, o estudante declara que pretende “alertar para a questão junto dos órgãos da universidade”.
Segundo o presidente, em alguns casos, “é relevante a abertura de vagas neste período” para os estudantes internacionais terem a oportunidade de se candidatar mais cedo, tratar de toda a burocracia e poderem estar presentes no início do ano letivo. No entanto, defende que os órgãos de ensino devem tentar encontrar “uma solução equilibrada de forma a que as vagas não sejam distribuídas em função de timings de candidatura em detrimento daquele que deve ser o mérito de quem se candidata”. Dado que, nesta situação, há o risco de “estudantes que concluíram a licenciatura com baixas notas em anos anteriores ficarem com vagas de bons alunos que não se puderam candidatar”, pois ainda não têm concluída a sua licenciatura.
Relativamente à petição pública, Angélica Fernandes admite que esta foi a forma encontrada para resolver o problema mais eficazmente. Revela que foram enviados alguns emails para a Provedoria do Estudante e para a reitoria, porém, como “não iam ter a força necessária para reverter a situação”, foi avançada uma petição. Por outro lado, Maria considera que a iniciativa não é, por si só, “uma forma de solucionar o problema em termos efetivos”. Contudo, reconhece que a petição está a “fazer pressão no sistema” e a “ fazer com que muita gente tenha conhecimento do assunto”.
Duarte Lopes, por sua vez, confessa tristeza “por ver que antes da própria associação ser alertada para a questão pelos seus canais próprios, já muitas pessoas partilhavam a situação pelas redes sociais”. O presidente apela a que os alunos procurem as instituições que “os representam e que os devem defender” antes de recorrerem a meios alternativos. “Muitas das vezes, os problemas não são resolvidos ou são resolvidos tardiamente porque a informação não chega a quem de direito”, alega.
Artigo por: Joana Oliveira e Maria Francisca Barros