A sessão teve como oradora convidada Carla Cerqueira.

Na quinta-feira, dia 3 de fevereiro, a HeforShe UMinho transmitiu, via Instagram, uma sessão em direto acerca da adoção da linguagem não binária. Para tal, foi convidada Carla Cerqueira, doutorada com pós-doutoramento em Ciências da Comunicação, investigadora na área de género e comunicação no “Centre for Research in Applied Communication, Culture, and New Technologies” (CICANT) e ativista feminista, em representação da UMAR Braga (União de Mulheres Alternativa e Resposta), da qual é cofundadora.

Carla Cerqueira começou por explicar a importância da linguagem enquanto forma de estabelecer ligações entre pessoas. Advertiu que “não há, de todo, uma linguagem que seja discriminatória nem sexista”. “É o uso que fazemos dela que faz com que a linguagem reproduza sexismo, discriminação e desigualdades”, acrescenta. A ativista mencionou que a não utilização deste tipo de linguagem resulta na exclusão de pessoas, dando lugar à discriminação através do uso de estereótipos.

Seguidamente, a convidada realçou o debate em torno da linguagem inclusiva e da linguagem neutra, já que nem sempre estes conceitos são sinónimos. Para facilitar o entendimento esclareceu que “a linguagem inclusiva não remete para essa linguagem neutra e, em alguns casos, a linguagem inclusiva ainda não está nesse nível de estarmos a falar de uma linguagem não binária”. De acordo com Carla Cerqueira, a origem deste problema é, consoante a mesma, a resistência criada ao longo do tempo já que, mesmo que numa sociedade mais progressista, tendemos a utilizar expressões masculinas como forma de expressar neutralidade.

Quanto à evolução da generalização deste tipo de linguagem, a oradora garantiu que o percurso tem sido lento, uma vez que mesmo que a importância da comunicação seja de senso comum, o uso de linguagem inclusiva não é ainda consensual. Mesmo assim, assegurou que “já existem muitos manuais e muito trabalho que tem tentado trazer a questão da linguagem inclusiva através do uso da abstração de género”. A investigadora alertou, no entanto, que é necessária uma discussão para além da linguagem escrita de forma a que a sociedade certifique a inclusão de todos no seu discurso como, por exemplo, através do uso de pronomes neutros.

De forma a combater este problema social, Carla Cerqueira destacou a importância de uma maior reflexão sobre este tema em circuitos menos fechados. De igual modo, abordar este tópico de forma educativa, expondo e incentivando as pessoas a este tipo de linguagem, em especial as crianças que, deste modo, crescerão usando abstrações de género, facilitando a generalização. “Temos de pressionar nos vários espaços, cada pessoa tem de fazer os seus ativismos na esfera da família, na esfera do trabalho” numa tentativa de mobilizar outras pessoas, contrariando os estereótipos de género enraizados. Carla sugeriu também a normalização de perguntas sobre os pronomes com que as pessoas mais se identificam. Dessa forma, acabaria o constrangimento em torno desta questão, justificada pela ridicularização dos que tratam este problema como uma prioridade.

De seguida, Carla Cerqueira recomendou algumas obras que fundamentam a área da linguagem como “da autoria de ativista brasileira não binária que, nos últimos anos, em conjunto com uma equipa tem feito reflexões acerca da necessidade deste tipo de linguagem. Ainda, o “Manual de Comunicação de Linguagem Inclusiva” da autoria do Conselho Europeu que traz questões da dimensão da diversidade funcional e alerta para aspetos relacionados à comunicação não verbal.

Finalmente, a ativista concluiu a sessão realçando o que, para si, é o próximo passo no progresso: refletir, enquanto sociedade, estratégias que tornem a comunicação inclusiva mais geral. Para isto, exemplificou o tipo de estratégias utilizadas, sugerindo “um projeto para escolas que se focasse só nas dimensões da linguagem ou que trabalhasse as dimensões da linguagem inclusiva nesta ótica de incluir todas as pessoas a nível da linguagem verbal, oral, não verbal, todas estas dimensões. Acrescentou que a vertente da linguagem deve ser vista mais como uma prioridade e menos como um segundo plano, encarando isto como uma batalha do quotidiano.  O objetivo passa por dar a devida importância ao assunto e captar a atenção das pessoas, para que, num futuro próximo, este deixe de ser uma questão e passe a ser normalizado.