O evento vai decorrer em formato online e tem início às 9h30.
Na próxima quarta-feira, dia 16 de fevereiro, vai se realizar o IV Encontro de Ciberjornalismo Académico onde vai ser abordado o tema “O Jornalismo Inclusivo”. De forma a compreender mais sobre esta questão, o ComUM esteve à conversa com Lucas Miguel Reis, transexual, Beatrizo, pessoa não-binária e Ana Sofia Neves, presidente da Associação Plano I.
Beatrizo residiu em Portugal até aos 12 anos e voltou agora para a faculdade. Segundo x mesmx, ”a abordagem no jornalismo português não mudou muito”. Naquela época, o jornalismo não era “propriamente inclusivo”, havendo uma falta de “conversação e ênfase na vertente da língua e da cultura portuguesa” o que continua a existir, declara.
Para x profissional na área da música, o jornalismo “tem um peso enorme”, no entanto, assuntos como as “pessoas não binárias passam completamente despercebidos”. “Ainda se ouve falar pouco dessas minorias, seja em termos de género, etnia ou cultura”, afirma. Segundo Lucas, o mesmo se aplica às pessoas transexuais. “Por um lado, tanto há artigos que são inclusivos, e outros que não, jornalistas que não se referem corretamente e acabam por tornar o artigo confuso”, confessa.
Para a dirigente da associação Plano I, que foca o seu trabalho sobretudo no “combate a fenómenos de discriminação e violência, de capacitação de pessoas e profissionais e de apoio especializado a vítimas”, “a luta pela inclusão e pela diversidade é premente”. Atualmente, “ainda são muitos os grupos sociais que se confrontam com desigualdades estruturais”. Tendo-se vindo a agravar nos últimos anos.
De acordo com Beatrizo, quando o jornalista fala de pessoas não-binárias “fala de algum crime ou episódio mau”. Não se ouve falar dessas pessoas a “criar uma empresa ou a fazer coisas de pessoas normais da sociedade”. Algo que acaba por fazer com que sejam “representadas de uma maneira mais problemática e negativa. O que causa medo”. Da mesma forma, “os jornalistas, quando se estão a referir a uma pessoa trans, são capazes de a tratar de várias formas diferentes, o que torna o artigo confuso”, alega Lucas. “O leitor acaba por sentir preconceito em relação ao assunto porque, simplesmente, não o entende”.
Assim, para Beatrizo, a informação não deve ser tendenciosa e utilizada como via de controle, mas sim de forma a “propagar a informação certa e fidedigna”. Por este motivo, se o jornalismo der mais espaço a tópicos como ao não-binarismo, “[as pessoas] vão começar a normalizar ou a ter uma perspetiva mais favorável”. “Em vez de falar sobre coisas banais, podiam começar a pegar em pessoas trans, de culturas ou de regiões diferentes, e fazer mais artigos relativamente a essas coisas, mas de uma forma positiva”, apela Lucas.
“Para haver uma maior inclusão tem-se de mudar a mentalidade das pessoas”, anuncia Lucas Miguel Reis. No entanto, Beatrizo acrescenta que tem também de haver mais “educação e civilização por parte dos média”. “O trabalho de procurar toda a informação, representação e imagem não devia ser só da pessoa. É uma experiência que tem de ser mais acessível e mais tratada nos média”.
Da mesma forma, para Ana Sofia Neves, a construção de uma sociedade mais inclusiva passa por “visibilizar questões sociais geralmente ocultas ou pouco exploradas, desconstruindo estereótipos e preconceitos”. “O papel do jornalismo e da comunicação é central na formação da opinião pública e, desse ponto de vista, no estímulo à consciência crítica das pessoas cidadãs”, afirma Ana Sofia.
No que toca à adoção de uma linguagem mais inclusiva no jornalismo, tanto Beatrizo como Lucas mostram-se a favor. Para o segundo, acaba por ser “algo muito positivo para as minorias que, ao olharem para o texto, sentem-se mais incluídas”. “Isso é muito importante para estas pessoas pois veem que há consideração e aceitação da diferença. Sentem finalmente algum tipo de representação”, acrescenta. Para Beatrizo, é um “despertar de consciência”. “Algo em que a língua portuguesa ainda tem muito para evoluir, principalmente, no jornalismo”. Apela, portanto, para a necessidade de uma maior preocupação com o “que as pessoas são”. “Ninguém vai dizer que a sua vida revolve em volta do seu género mas, sim, dos seus objetivos”. Desta forma, destaca a importância de se implementar isso “nas conversas com os amigos, família e círculos pois, são estas coisas pequenas que causam um efeito grande”.
Todavia, a presidente da associação Plano I reconhece que ainda há uma sensibilidade no que toca a questões da diversidade. “A resistência à adoção de uma linguagem inclusiva, não sexista e não heteronormativa, reflete isso mesmo”. Pois, há a tendência de “homogeneizar e simplificar a realidade e a ignorar que, enquanto seres humanos, somos nós que construímos as nossas especificidades”, conclui.
Artigo por: Maria Francisca Barros e Lara Inês Freitas