O Violino do Meu Pai estreou a 21 de janeiro de 2022. O melodrama turco, ao qual Andaç Haznedaroğlu deu vida, é expectável ao ponto de recorrer ciclicamente ao caminho mais fácil. Qual? O de acumular desgraças ao longo da narrativa somente para extrair lágrimas ao espetador. Água corrente facial não é sinónimo de sucesso e, com certeza, há um certo equívoco no que toca a essa questão.

Dando-nos a conhecer um pouco do ambiente circundante, a produção inicia-se com belas imagens aéreas de Istambul. Segue-se uma emocionante história que gira em volta de uma menina que perde o pai para uma doença. Entregue à equivalente CPCJ da Turquia, a única pessoa capaz de ficar com a sua guarda é o tio Mehmet, violinista de renome. O começo mostra-se espinhoso, no entanto, aos poucos, ambos se unem pelo amor à música e pelo vazio que os preenche.

O roteiro é produto de um clichê que teima em não ficar criativo e cativante. Mehmet é o típico homem frio que usa o trabalho como camuflagem para os seus problemas afetivos que, de certo modo, afetam a sua prestação. Reproduzir músicas afigura-se tarefa fácil, mas produzir e criar do zero as próprias, dotando-as de significado é outra história. Gradativamente, com a ajuda da sobrinha, o músico revê as suas prioridades e o véu da verdade fica desnudado. Apesar de ter sempre retraído o que sentia, reaprende que “a família é a mais bela composição feita de diferentes melodias”.

A previsibilidade dos acontecimentos é visível. As personagens são planas e o que as move é liso, não trazendo nada que diferencie esta obra das demais. Todavia, é uma longa metragem que faz lacrimejar os olhos, porque ninguém fica indiferente a uma menina que perde a sua maior personificação de amor e que não quer ir para um orfanato.

Apesar de todas estas controvérsias, há coisas que compensam. A musicalidade e o ritmo da ação estão sempre em equilíbrio e transportam-nos para outra dimensão, fazendo com que nos esqueçamos das falhas anteriores. Transcendemos com aquela sonoridade emanada pelo violino. É como se estivéssemos presentes na cena. Parece algo de extraordinário, mas conseguimos sentir um misto de coisas quando a música fica grave e acelera ou quando é mais alegre e se deixa acompanhar por outros instrumentos.

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A movimentação das câmaras também merece uma especial ovação. A história é contada de uma maneira mágica, conduzindo-nos através de uma bela melodia até ao final. Tudo é variado e pensado ao pormenor. Prova disto é o início da longa metragem. Quando no meio de uma perseguição somos presenteados com um panorama extasiante das paisagens, das longas ruas e do Bósforo do país turco.

Com a intenção implícita ou não de Andaç Haznedaroğlu realço aquela que é a maior aprendizagem implícita. As relações humanas interpessoais. Como nos revela o filme, através dos atores, cada um de nós é uma melodia. Essa melodia varia consoante o que sentimos e o que fazemos. Para além de todos os laços que poderemos vir a criar com novas pessoas, tudo se cinge a algo muito simples que ultrapassa a típica frase do “identifico-me contigo”. Desta forma, é tudo uma questão de saber ouvir a melodia dos outros. Também é verdade que a dor pode unir as pessoas mais improváveis, mas aqui a música ocupa parte integral na vida de todos os elementos, como se ela fosse a própria narração da obra e ditasse a cronologia das ocorrências.

No geral, toda a parte técnica de O Violino do Meu Pai é extremamente bem executada, assim como a escolha do elenco. A falha está estritamente ligada à história que poderia ser muito mais explorada com criatividade e não se restringir a tragédia atrás de tragédia. No entanto, é bom sentirmos algo em relação ao que vimos, e a emoção depositada pelo telespetador faz parte, mas não é tudo para tornar um filme apetecível.