O teatro limiano contém 305 lugares, sendo 21 deles do camarote de honra.

A aproximar-se o aniversário da vila mais antiga de Portugal, o ComUM esteve à conversa com o diretor do Teatro Diogo Bernardes, Miguel Franco. A sala de espetáculos é a única do concelho de Ponte de Lima que apresenta todas as condições para acolher qualquer tipo de espetáculos, desde dança, a teatro ou música.

Passado repleto de história

O espaço cultural situa-se numa das ruas principais da vila e conta com mais de 125 anos de história. A sua inauguração remonta a 19 de setembro de 1896, o que “coincidiu com as Feiras Novas desse ano”, as festas limianas em honra de Nossa Senhora das Dores. No entanto, o começo do grande edifício data a 1893, quando o mesmo começou a ser construído.

O nome do espaço surgiu teve origem num ligeiro engano. “No século XIX, não havia muitas certezas em relação à naturalidade do poeta Diogo Bernardes”, explicou o diretor. “Sabia-se que era da zona da Ribeira-Lima, então muitos achavam que ele era de Ponte de Lima”, acrescentou. Desta forma, aquando da construção do Teatro, decidiram homenagear o poeta e atribuir-lhe o seu nome. Contudo, “no início do século XX, descobriu-se que a probabilidade de Diogo Bernardes ser de Ponte de Lima era menor do que o poeta ser de Ponte da Barca”, contou.

Antes de se tornar no espaço que é hoje, o Teatro Diogo Bernardes passou por várias fases. Inicialmente, foi uma empresa com ações, onde cerca de 150 limianos tiveram quotas. Num momento posterior, a sala de espetáculos passou sessões de cinema. “O meu avô materno, o Sr. Franco, chegou a ser projetista aqui”, desvendou o atual diretor. Contudo, momentos menos felizes chegaram à sala de espetáculos e a mesma foi convertida num armazém, “onde só era praticamente usada no Carnaval, para fazer bailes”.

Em 1992, o Município de Ponte de Lima adquiriu, com a ajuda do Ministério da Cultura, o Teatro Diogo Bernardes. Após uma intervenção de recuperação e restauro do edifício, a reinauguração do Teatro aconteceu no dia 4 de março de 1999.

Presente de glória e notoriedade

Desde então, o espaço cultural apresenta atividade contínua e permanente. Relativamente aos teatros do distrito de Viana do Castelo, o Teatro Diogo Bernardes é aquele que tem a programação mais regular de todos. “Todos os fins de semana, ao longo de toda a temporada, temos espetáculos à sexta, ao sábado, e por vezes ao domingo”, afirmou Miguel Franco. Atualmente, a sala também recebe espetáculos durante a semana para o público escolar.

Ainda sobre a programação, o diretor assegurou que é uma preocupação do espaço ter “uma agenda cultural eclética e o mais diversificada possível”. Visto ser um teatro municipal, “deve tentar ir de encontro a todos os tipos de público, aos vários gostos e tendências”. Desta forma, o Teatro Diogo Bernardes recebe desde espetáculos de teatro e dança mais contemporâneos a linhas mais clássicas, a espetáculos de novo circo, e futuramente, ópera.

Na mais recente linha programática, o teatro está a privilegiar teatro para público escolar, por uma questão de formação cultural. “Os públicos de amanhã são os públicos que andam agora na escola e temos de lhes criar o gosto pelas várias expressões artísticas”, explicou Miguel Franco.

Além da temporada habitual no interior da sala de espetáculos, no verão, o Teatro Diogo Bernardes desenvolve iniciativas ao ar livre. Este ano, o tradicional festival “Percursos da Música” vai regressar e estão “a ponderar fazer um festival de artes performativas e teatro de rua”.

O diretor notou que a sala de espetáculos “está ao nível do Theatro Circo, em Braga, da Casa das Artes, de Vila Nova de Famalicão, ou do Centro de Cultural de Vila Flor, em Guimarães”, visto estar integrada na Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses (RTCP). Ademais, o Teatro Diogo Bernardes demonstra estar “perfeitamente integrado nas redes informais, uma vez que pertence aos roteiros de grandes companhias e artistas do país”. Assim, tem uma “similitude relativa aos grandes teatros”.

Miguel Franco considerou que o que pode distinguir o espaço cultural de outras salas é a sua “proximidade relativamente à comunidade”. Além disso, garantiu que desde o primeiro diretor que o Teatro Diogo Bernardes procura alavancar e apoiar as estruturas locais artísticas, sejam amadoras ou profissionais.

Acerca de como a pandemia afetou o funcionamento da sala de espetáculos, o atual diretor contou que já tiverem de adiar espetáculos, porque dias antes algum dos elementos testou positivo à Covid-19. Outra consequência, prende-se com a mudança de rotinas, o que afetou o número de espetadores que se deslocavam ao Teatro. No entanto, Miguel Franco garantiu que, nos últimos tempos, “o número de espetadores tem vindo a crescer e aproximar-se dos números de 2019”.

Segundo o diretor, o teatro municipal não depende dos apoios do Estado Central nem sentiu os cortes que ocorreram na cultura. Pelo contrário, Miguel Franco realçou o financiamento do Município de Ponte de Lima, que “tem apostado na cultura e, mais especificamente, na programação do Teatro Diogo Bernardes”. Porém, a sala de espetáculos apresentou uma candidatura de financiamento à programação no âmbito da RTCP. “Se tivermos esse importante contributo, vamos ficar com uma margem de manobra maior, para pudermos trazer aqui projetos artísticos mais caros”, adicionou.

Futuro próspero e recheado de projetos

Como planos futuros, Miguel Franco assegurou que os espetadores podem continuar a esperar “programação eclética e diversificada, de elevada qualidade e abrangente”. Fomentar as residências artísticas associadas a projetos culturais é outro dos projetos que o Teatro Diogo Bernardes pretende continuar a desenvolver. Relativamente à pertença à RTCP, o espaço cultural espera aumentar as coproduções de espetáculos de raiz, com outros equipamentos culturais e estruturas artísticas.

O espaço também se vai focar em ações de mediação de públicos, isto é, “num conjunto de ações que aproximem o público do teatro e que venham não só para ver espetáculos”, declarou o diretor. A primeira ação prende-se com uma nova rubrica, “Conversas no Salão”, que vai estrear em março. A iniciativa consiste em “convidar o público, no final do espetáculo, a dirigir-se ao Salão Nobre do Teatro Diogo Bernardes, de maneira a ter uma conversa informal com os artistas sobre o espetáculo, nas perspetivas de ambos”, revelou. A atividade vai acontecer três vezes durante o mês, em espetáculos selecionados.

A outra novidade é a abertura do Teatro à comunidade, através de visitas guiadas. O público vai puder visitar o edifício histórico, às terças-feiras. As visitas devem ser marcadas com antecedência por email e, consoante os visitantes, podem ser encenadas ou guiadas. “O pré e primeiro ciclo vão ter visitas encenadas, enquanto o restante público terá visitas guiadas”, contou Miguel Franco.

A programação mensal do Teatro Diogo Bernardes também apresenta novidades, conforme já se observa na Agenda Cultural do mês de março. Todos os meses, consoante as datas celebrativas, alguns dos espetáculos vão ser temáticos. Como março “é o mês de Ponte de Lima, no dia 4 de março, da poesia, no dia 21 de março, e do teatro, no dia 27 de março, pegamos nestes três condimentos e cozinhamos um bolo só”, desvendou Miguel Franco. Desta forma, “dos 12 espetáculos do mês de março, seis são feitos por limianos, mas todos eles vão ter algo a dizer sobre Ponte de Lima”. Por sua vez, em abril, os espetáculos são voltados para a dança e para a liberdade, uma vez que se celebra o 25 de abril e o Dia Mundial da Dança. Já em maio, comemora-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa e o Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia e a “maior parte da programação vai ser de autores de língua portuguesa e dois muito direcionados contra essa problemática”.

O teatro vai começar ainda a rubrica “Domingos em Banda”, que consiste na apresentação de uma banda de música de Ponte de Lima, em cada domingo. A sala de espetáculos vai começar a fazer ensaios para a imprensa, onde a comunicação social pode assistir e entrevistar os artistas.

Em suma, o Teatro Diogo Bernardes apresenta vários projetos e novidades “sempre numa linha de abrir o teatro à comunidade”. Este é um lugar com um passado repleto de história, um presente de glória e notoriedade, e um futuro que se avizinha próspero e recheado de projetos.