A adaptação moderna dos clássicos da Disney não é de hoje, pelo que a Netflix não poderia deixar de apresentar a sua versão. The Royal Treatment, lançado a 20 de janeiro de 2022 não deixou de alcançar o primeiro lugar de visualizações na primeira semana, apesar das duras críticas que recebeu.
Toda a obra cinematográfica revolve à volta de Izzy, uma jovem cabeleira, sem recursos financeiros, mas que ultrapassa o seu estatuto através dos valores éticos e morais que defende. Deste modo, começamos a assistir a uma onda de previsibilidade contínua.
Primeiramente, a rapariga conhece um príncipe, que envolvido na sua bolha de privilégio não reconhece as necessidades do seu povo. Aqui é que a heroína entra para salvar a pátria, num sinal lançado pelo destino. A ideia utópica da pobre menina humilde que tem muito para mostrar ao mundo, e, com o seu charme, viverá feliz para sempre na “Disneyland” com o príncipe encantado.
Numa longa-metragem desta estirpe esperava-se uma retratação mais realista da realidade, no entanto, acabaram por cair no cliché dos contos de fadas e de adaptações anteriores do género. Tornando-se, assim, um espaço aborrecido e monótono, em que a personagem não tem qualquer tipo de conteúdo. Não obstante, a performance dos atores veio colmatar um pouco a falta de qualidade no material presenteando-nos com atuações cheias de carisma. Assim, temos alguns momentos de comédia que alicerçados com uma boa atuação conseguiram dar vida ao enredo inclusivamente na interação dos criados e das amigas da protagonista.
Em contrapartida, a construção mal conseguida do enredo esteve presente durante toda a história criando lacunas no discurso das personagens que não tinham uma personalidade vincada. Tudo revolve em torno de Izzy, sendo, mesmo o príncipe apenas um cego admirador sem um sentido de propósito que passa a viver pela protagonista. Houve uma total diligência em criar múltiplas vidas que tivessem correlação com a da protagonista. Em outros termos colocaram ingredientes numa panela sem se preocuparem se as combinações de sabores se ligavam de modo a criar um prato comestível.
Tendo isto em consideração, se procuras uma obra cinematográfica que explora a dicotomia humana e a complexidade do que constituí o Homem então este não é uma recomendação adequada. Contudo, é perfeitamente exequível para uma tarde em família quando se procura puro entretenimento.
Dito isto, e apesar da estandardização e da previsibilidade do género, houve uma melhoria notória na cinematografia. Assim como o desenvolvimento da relação das personagens que, contrariamente a filmes similares flui de forma muito mais natural e gradual. Isto não significa, portanto, que não precise de ser aprimorado e refletido.
A mensagem deste tipo de adaptação precisa de transcender o típico final feliz e, demonstrar o lado real para que possa haver um sentido de identificação do público. Esta obra toca a apenas a um nível muito superficial e erróneo assuntos importantes como a pobreza, assim como, a própria cultura italiana.
The Royal Treatment não é necessariamente uma longa-metragem impossível de assistir e muito menos de qualidade inferior, mas tendo em conta o mundo imerso de conteúdo em que vivemos, e aquilo que temos disponível, cai no cliché. Assim, é necessário produzir novos moldes cinematográficos que possam captar a atenção das pessoas, o inesperado.
Título Original: The Royal Treatment
Realização: Cate Shortland
Argumento: Eric Pearson
Elenco: Scarlett Johansson, Florence Pugh e David Harbour
EUA
2022