O cancro da mama foi o tema da sessão que teve lugar no Centro de Juventude de Braga.
Na última quinta-feira, dia 3 de fevereiro, o Centro de Juventude de Braga acolheu a iniciativa “Tratar o cancro por tu”. Desenvolvida pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), a sessão teve como tema o cancro da mama, onde se assistiu à desmistificação do conceito, colocando os doentes no centro da discussão.
Para abordar a temática, a sessão, mediada pelo jornalista Miguel Soares, contou com a presença de vários especialistas: Manuel Sobrinho Simões, presidente do Ipatimup, José Carlos Machado, vice-presidente do Ipatimup, Paulo Costa, diretor do serviço de radioterapia do Hospital de Braga, Sérgio Castedo, especialista de cancro na fundação Champalimaud e no Hospital de S. João, e Cristiana Lopes, diretora do serviço de Psicologia no Hospital de Braga. Para o moderador, estas sessões são de extrema relevância pois “é preciso saltar o muro da ciência e chegar à população”.
No início da sessão, começou por ser esclarecida a particularidade que o cancro da mama assume em relação a outros tipos de cancro. “É muito frequente e coloca problemas sérios em aspetos mais ligados com as pessoas do que com a doença”, declarou Manuel Simões Sobrinho. No entanto, o presidente afirmou que tem havido uma grande evolução nos tratamentos do cancro. Ao longo dos anos, tem se assistido a um decréscimo da mortalidade, especialmente devido a rastreios e à deteção precoce. Segundo José Carlos Machado, estes são fatores determinantes sendo que, “em 80% das situações os cancros podem ser curados”. Para esclarecer a questão, Paulo Costa explicou que “a deteção precoce se deve a múltiplos fatores e consegue desmistificar a doença, fruto de múltiplos avanços e multiplicidades terapêuticas”.
No entanto, é, por vezes complicado, compreender o surgimento da doença. Para clarificar o assunto, Sérgio Castedo afirmou que o aparecimento se deve a múltiplos fatores. Por um lado, “cerca de 10% a 15% são casos hereditários, alguém que já nasceu com uma predisposição elevada devido a alguma alteração”. Por outro lado, o especialista também declarou que o risco de “qualquer mulher” ter cancro é “entre 10% a 12%”.
Durante a conversa, foi defendido, pelos especialistas, que a psicologia se assume como um papel preponderante para quem possui cancro da mama. Dando conta das várias fases da doença, Cristiana Lopes revelou que o pré-diagnóstico “é a fase mais dolorosa, pois a vida é consumida pela doença.” Elevando o papel do doente, a especialista acredita que a psicologia “ajuda a mulher a tomar uma decisão e a sentir-se segura, a adaptar a sua sexualidade e a lidar com as alterações na sua autoimagem”. Não sendo o cancro da mama uma doença que afeta somente o sexo feminino, José Carlos Machado esclareceu que os homens também podem ser afetados, mas “a incidência é baixa e acontece mais no contexto de síndromes hereditárias”.
A sessão contou também com testemunhos reais de doentes oncológicos. Carla Sepúlveda, vereadora para a educação, inovação e coesão social da Câmara Municipal de Braga, subiu ao palco para contar a sua experiência pessoal com o cancro da mama. “Nos três anos em que estive a ser acompanhada no IPO, descobri uma força que nunca pensei ter”, relatou. A vereadora contou também que nunca abdicou do seu emprego, procurando as suas próprias ferramentas para lidar com a doença e defendendo que a vida profissional pode ser conciliada com o cancro.
Segundo José Carlos Machado, a nível molecular, a emergência de resistência é muito bem estudada. Infelizmente, “muitas vezes a palavra cancro aliada a cura continua a ser tabu”. O especialista apela a uma necessidade de desmistificar a doença, pois “felizmente a maior parte dos casos não são malignos”.
Numa lógica de urgência em reintroduzir o tema do cancro na discussão pública, foi dada também oportunidade à plateia de esclarecer diversas dúvidas relativas ao cancro da mama. A próxima sessão de literacia vai ter lugar no dia 17 de fevereiro, em Coimbra, no Convento de S. Francisco, onde o tema discutido vai ser o cancro da próstata.