A humanidade vive agora um clima que muitos pensavam que não voltaria a acontecer e que outros já previam, afinal a história está destinada a ser repetida. Talvez seja cedo, mas a forma como a cultura será influenciada por este período conturbado já começa a ser tema de conversa. Não apenas a guerra como também os últimos dois anos de pandemia vão com certeza alterar o cenário artístico mundial.

Quando começa uma guerra qual é a nossa principal preocupação? A segurança do nosso país e daqueles que nos são queridos, ou o teatro? Obviamente, ponderar sobre a integridade da cultura não é um instinto tão instantâneo quanto a sobrevivência. No entanto, a história diz-nos que a guerra e a cultura andam de mãos dadas. Afinal, as diferenças culturais são uma das principais razões por que há guerras, claro, enfatizadas por interesses políticos, económicos e pessoais.

Depois da I Guerra Mundial, as cidades europeias estavam destruídas, mas eram rapidamente reconstruídas e cresciam a um ritmo sem precedentes. Os artistas, que na altura eram quase exclusivamente homens, voltavam da guerra com uma variedade infinita de ideias e emoções. Isto relacionado com a vivência num novo mundo permitiu o clima perfeito para a criação de arte. Um dos maiores exemplos que vem à mente são as vanguardas modernistas.

A II Guerra Mundial provocou uma onda semelhante, talvez até mais intensa. Durante os horrores nazis, os artistas deram à luz a algumas das maiores obras de arte de sempre. É neste tempo que podemos observar o pico de pintores como Picasso e Dalí. Inclusive, Salvador Dalí pintou “A Face da Guerra”, em 1940, claramente como resposta ao início da grande guerra em 1939. Portanto, podemos olhar para trás e perceber que os artistas não ficam indiferentes à guerra. Influenciadas pelo sofrimento, instabilidade e decadência, novas ideias e motes parecem ser uma moda nestas situações.

No entanto, se tudo muda e todo nasce, o que acontece à arte já presente? A cultura é um conceito vasto e difícil de definir. A cultura corrente que consideramos como “cultura portuguesa” é uma mixórdia das microculturas que encontramos do Alto Minho ao Algarve. E a cultura portuguesa junta-se às dos outros países para formar a cultura europeia e todas as culturas formam a grande cultura humana.

Em guerra, os movimentos migratórios alteram-se e intensificam-se. Se pensarmos na atualidade, inúmeras cidades pela europa fora vão receber famílias ucranianas. Claro que a cultura local vai sobrepor a cultura destes refugiados, mas é impossível dizer com certeza que a influência, ainda que mínima, não será bidirecional. A mudança de costumes, da forma de fazer o nosso dia-a-dia pode ser o bater de asas de borboleta no tornado que é a cultura.

O futuro, porém, não passa de uma incerteza e teremos de esperar chegar ao outro lado da história para assistir a estas mudanças. Ou então perceber que nada mudou e que a cultura ficou indiferente a todos os acontecimentos.