O 24 de março supera o valor existencial de um marco histórico. Esta data é, na verdade, o relembrar daquilo que, enquanto estudantes, passamos e que não passaremos de novo.
Se outrora, em 1962, a luta foi contra a proibição, não nos esqueçamos dos que ainda hoje têm a sua voz silenciada e impedida de pertencer à Academia, seja pelas barreiras económicas ou pela ausência de condições habitacionais nas residências universitárias. Nós, os estudantes, somos os agentes impulsionadores de mudança e dia 24 de março celebramos alguns dos eventos que nos prepararam caminho até aos dias de hoje.
Começaremos pela oficialização na Assembleia da República Portuguesa. A consagração do decreto de lei que oficializou o Dia Nacional do Estudante, foi apenas – no valor hiperbolizado da palavra – a legitimação do dia perante a lei. A sua história desdobra-se alguns anos antes de 1987.
O regime do Estado Novo foi o maior entrave e opositor à voz bravia dos estudantes. É exatamente durante o seu período que a nossa luta começou e nunca mais daí terminou. No 24 de março de 1962, os universitários portugueses tinham sido novamente alvo de uma tentativa de silenciamento por parte do Regime. Movimentando-se contra a repressão estudantil, as manifestações e protestos decorreram durante meses, evoluindo mesmo para situações de detenções e cargas policiais. Apesar do regime ter conseguido, como era natural do momento autoritário que se vivia, retomar o controlo no final desse mesmo ano, isso não invalida o quão poderoso esses atos de reivindicação foram. Foi o despertar político na (e da) Academia.
Em 1969, os estudantes voltaram a protagonizar um momento de silenciamento e consequente disputa. Em abril desse mesmo ano, viveu-se o tão aclamado “Peço a Palavra”. Face à recusa do pedido dos estudantes para terem a palavra durante a inauguração do Edifício das Matemáticas, na Universidade de Coimbra, o presidente da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins, dirige-se ao Presidente da República, Américo Thomaz: “em nome de todos os estudantes da Universidade de Coimbra, peço para usar da palavra”.
O Dia Nacional do Estudante é assim símbolo de resistência e democratização do Ensino. Desde a luta contra as propinas, a passar pela exigência por residências públicas decentemente preparadas e seguras, os Estudantes dos dias de Hoje não perderam a veemência que os fez serem apelidados de agentes de transformação política.
Os estudantes querem a autonomia necessária para exercer a sua soberania junto dos órgãos de tomada de decisão. O Ensino Superior deve ser uma plataforma de mudança, de equidade e progresso. Não pode ser perspetivado como um conjunto de bloqueios burocráticos e aumentos de crises e contratempos.
No âmbito do Dia Nacional do Estudante, não queremos acesso gratuito a Museus e a Miradouros. Queremos um acesso gratuito ao Ensino Superior e uma ação social escolar abrangente, reforçada e inclusiva de todas as adversidades que o estudante possa ter. No dia 24 de março resgataremos o perfil vigoroso, exorbitante e robusto dos estudantes que um dia foram motores de transformação e posicionamento. Honrando abril, usaremos a nossa voz, de manto preto erguido.