Vibrante e irreverente, ALPHA é o primeiro álbum de estúdio de Shenseea. Com 14 faixas, esta estreia é um emaranhado de influências pop, reggae e hip-hop. O disco resulta de múltiplas sessões com mais de vinte produtores de luxo e exibe o pulsar musical desinibido e firme da artista jamaicana.
Com quatro nomeações para os Grammy Awards 2022, Chinsea Linda Lee acaba por se definir melhor sem qualquer definição. A sonoplastia experimental deste projeto é fruto de uma aposta pela diversificação, para além do impecável dancehall típico. Mesmo sendo arriscada, esta decisão está a engradecer o percurso da artista de 25 anos na indústria musical, rumo a um futuro promissor.
Em entrevista para a MTV News, Shenseea revelou que o título ALPHA foi inspirado na posição de líder que assume todos os dias. “Mesmo que o mundo esteja alguma vez contra mim, eu vou fazer o que quero porque sou alfa. Eu sei o que sou, o que quero e senti que era o nome perfeito”. O talento da artista Push MTV deste mês é surpreendente e empoderador a cada tema desta primeira composição musical.
“Target” é a primeira música e irradia uma energia refrescante e confiante. Em versos síncronos, o rapper Tyga alinha a sua narrativa lasciva à de Shenseea, que descodifica a satisfação mútua do par. Segue-se a faixa “Can’t Anymore”, sustentada num ritmo afrobeat dançante e que culmina num inesperado solo de saxofone sublime. A interpretação de Shenseea impressiona pela sua agradável flexibilidade vocal.
O tom apaixonado arrasta-se em “Deserve It” numa potencial relação preciosa (“Ain’t nobody perfect, but you’re perfect/I think I deserve it”). Esta suavidade é apimentada nos novos perfis artísticos de Shenseea, desvendados em “Bouncy”, com um verso mestre do rapper Offset. “R U That”, por sua vez, com 21 Savage, tem um registo controlado e até doce – esta é a primeira música da artista totalmente inglesa e nem sequer se nota que está longe da sua zona de conforto.
Controversa e livre, “Lick” é o single principal e, num bass harmonizado ardente, cumpre com a energia poderosa e arrojada de ALPHA na perfeição. Recebida com entusiasmo pelos fãs, Megan Thee Stallion é a única colaboração feminina do álbum. Como habitual, a performance excecional e grandiosa da rapper amplia de forma inegável a popularidade desta música, no mínimo, provocadora sobre desejos sentidos pelo par.
Também há espaço para faixas nostálgicas, que recuam aos sucessos dancehall de 2010. “Henkel Glue” entrelaça-se com a voz jamaicana de Beenie Man. Já “Lying If I Call It Love” denuncia uma relação apenas baseada na atração física com Sean Paul, um dos artistas mais responsáveis por elevar este género à cultura mainstream.
Sucedem cinco músicas a solo e, sem perder a linguagem expressiva e nativa da Jamaica, chamada “patois”, dão continuidade na sua discografia. “Hangover” e “Body Count” são líricas ousadas e extremamente explícitas, que pintam o fim das fantasias e o início de insegurança na relação. Em contraste, “Egocentric”, “Shen Ex Anthem” e “Sun Comes Up” enaltecem o brilho e amor-próprio superior a qualquer amor proveniente de um relacionamento (“I see no dark when the sun comes up/It’s a new day when the sun comes up”).
Com mais de dois anos, “Blessed” foi a parceria inaugural com Tyga e este sucesso encerra os últimos minutos deste projeto. Grata pela sua carreira, Shenseea dignifica e celebra o poder e a beleza das mulheres. Sempre com um olhar curioso focado na riqueza e emancipação de novas facetas suas, é visível o processo criativo artista no detalhe e melodias disruptivas. ALPHA é, de certeza, a génese da sua carreira enérgica e pronta para os projetos futuros.
ALPHA: imersa na riqueza do novo
Artista: Shenseea
Álbum: ALPHA
Editora: Rich Immigrants/Interscope Records
Data de lançamento: 11 de março de 2022