Publicado em fevereiro de 2008, A Rapariga Que Roubava Livros conta-nos a história de uma menina chamada Liesel Meminger. Situada durante o período de poder de Hitler, a obra é narrada pela Morte, que se poupa a apresentações, acreditando que o leitor rapidamente se aperceberá de quem lhe sussurra.

A Morte conhece Liesel aquando do falecimento do seu irmão mais novo, Werner, em janeiro de 1939. Iam de comboio a caminho de Munique com a sua mãe, com o objetivo de serem entregues a uma família que os educaria e alimentaria. Werner não resistiu e a Morte apresentou-se assim à protagonista que tinha apenas nove anos. Desta forma, foi a par desse acontecimento que a menina concretizou o seu primeiro furto: O Manual do Coveiro.

DR

Já na Rua Himmel, em Molching, Liesel foi levada até Rosa e Hans Hubermann. Sem contar, tomou essa como a sua família. O pai era pintor, mas perdeu grande parte dos seus clientes ao pintar as lojas de judeus que haviam sido vandalizadas, acabando por ocupar o seu tempo com o acordeão. A mãe tratava da roupa de vários fregueses, vendo os mesmos a diminuir com a escassez monetária provocada pela guerra.

Hans Hubermann tem grande importância na narrativa. Liesel roubou os dois primeiros livros sem saber ler, tendo sido apanhada durante o roubo do segundo pelo pai. Apercebendo-se disso, Hans dedica-se a ensinar as letras e as palavras à filha, o maior ato de amor que lhe podia oferecer. A personagem principal consegue praticar o seu gosto pela leitura ao entregar as roupas dos Hermann. Ilsa Hermann, a mulher do prefeito, acaba por se tornar grande amiga de Liesel ao permitir que ela use a sua biblioteca, após também ter assistido ao segundo furto da rapariga.

Outra personagem de grande relevância é Rudy Steiner. Também morador da Rua Himmel, é o fiel companheiro da nossa protagonista, tendo sido ele a dar-lhe a alcunha que consta no título da obra. Os dois amigos vivem as suas aventuras em conjunto, o que, muitas vezes, consistia em roubar não só comida, como também livros. A biblioteca de Ilsa Hermann torna-se no seu local predileto para desencantá-los, após os donos da casa terem dispensado os serviços de Rosa Hubermann.

No entanto, um dos pilares do livro é quando os Hubermann acolhem um judeu às escondidas no seu porão. Max encontra refúgio nesse lote da Rua Himmel devido a uma promessa feita por Hans após este ter sobrevivido à Primeira Guerra Mundial. Num rebuliço cheio de peripécias, Liesel ganha assim outro amigo e os seus pais adotivos protegem-no como se de um filho se tratasse.

A obra de Markus Zusak retrata a Segunda Guerra Mundial de uma forma diferente daquela à que estamos habituados. O livro relata a vida de uma pequena terra alemã que sofre com os impactos da guerra, sentindo-se a pobreza. Apesar de estarmos a ser levados até ao lado mau da realidade, não conseguiríamos sentir compaixão com certas personagens se elas fossem realmente más.

A Rapariga Que Roubava Livros é uma história que nos cativa página após página. A sua narradora é rude e confronta-nos com pena. Apresenta-se como inocente, apenas fazendo o seu trabalho ao recolher as almas dos mortos, esse que diz ser da responsabilidade do ser humano, terminando até a obra com a sua frase de assinatura: “Os seres humanos assombram-me”. Assim, é precisamente pelo seu modo cru que acredito que este livro poderá não encantar todos os leitores.

Ademais, é uma obra densa, com bastantes pormenores e detalhes, pelo que recomendo vivamente a sua leitura integral. As personagens são brilhantemente construídas, tendo cada uma o seu próprio lugar. Há momentos em que o nosso coração abraça as personagens, nos torna impotentes e nos faz querer que houvesse outro fim, apesar de termos conhecimento do que acontece desde o início.

A Rapariga Que Roubava Livros citando a Morte “é só uma pequena história, na verdade, sobre, entre outras coisas: uma menina, algumas palavras, um acordeonista, uns alemães fanáticos, um lutador judeu e uma porção de roubos.”