Após as eleições legislativas antecipadas, O CDS-PP ficou sem representação na Assembleia da República.

Dois meses depois de se terem realizado as Eleições Legislativas de 2022, os 230 deputados eleitos preparam-se para tomar posse esta terça-feira, dia 29 de março. Apesar do crescimento da direita na Assembleia da República, o Centro Democrático Social (CDS-PP), partido fundador da democracia portuguesa, ficou, pela primeira vez na sua história, fora do parlamento.

João Campelos, vice-presidente da direção liderada por Francisco Rodrigues dos Santos, afirma que os resultados “não são os que o partido gostaria” e que, desta forma, o CDS-PP necessita de refletir sobre o que “falhou e o porquê de não estar a convencer o eleitorado”. A mesma perspetiva é partilhada por Lucas Rodrigues, jovem militante do partido e estudante de mestrado na Universidade do Minho, que classifica o resultado como “dececionante”.

Apesar de ter sido “o pior resultado da história”, o estudante admite que o desfecho era “um pouco incerto”. A verdade é que o CDS não foi o partido menos votado, pois conseguiu mobilizar mais eleitores do que o PAN e o Livre. Contudo, ao contrário do que aconteceu com estes partidos, o CDS não conseguiu garantir a representação parlamentar, devido ao número insuficiente de votos arrecadados nos círculos eleitorais com maior peso no desfecho final. 

As razões da perda de representação parlamentar

Na visão de Lucas Rodrigues, um dos motivos que justifica a perda de eleitorado por parte do CDS assenta na falta de renovação e no “foco em demasia na história do CDS”. Esta estratégia, segundo o próprio, “acaba por ser indiferente” para os eleitores mais novos, tendo em conta que não viveram no tempo em que o partido tinha mais peso no parlamento. Além disso, Lucas Rodrigues explica que esta é uma tendência que se tem vindo a verificar noutros países europeus, como Espanha. “Partidos como o CDS têm vindo a perder força. Muito por culpa da introdução de partidos extremistas como o CHEGA e do próprio liberalismo, que tem sido muito comum no resto da Europa e, agora, chegou a Portugal”, argumenta.

Para João Campelos, um dos fatores que mais pesou na derrota eleitoral do CDS prende-se com “o efeito novidade” trazido pelos partidos de direita que viram a sua representatividade parlamentar crescer exponencialmente. O crescimento da Iniciativa Liberal e do CHEGA “significa que o espaço se encurtou”, acrescenta. Por outro lado, “o clima de guerrilha interna” em que o partido tem vivido nos últimos dois anos também contribuiu para este desfecho.

“Todos a remar para o mesmo sentido”

No que diz respeito ao caminho a seguir pelo CDS para se revitalizar, João Campelos reitera que o partido deve apostar numa “afirmação das bandeiras do CDS”. O vice-presidente dos democratas cristãos deseja que se afirmem “como uma direita social”, com intervenção do Estado em setores estratégicos e que, ao mesmo tempo, fomente “a liberdade e a iniciativa individual de cada um dos contribuintes”. Desta maneira, João Campelos defende um CDS como “uma casa de agregação das direitas” e com presença na governação “alternativa ao socialismo”, de modo a garantir a sobrevivência do partido.

Para Lucas Rodrigues, o facto do CDS ser considerado um partido conservador não é impeditivo para que recupere relevância. Segundo o estudante, a ideia do conservadorismo assenta fundamentalmente na memória do passado, de modo a que seja possível “construir o futuro”. “Não vamos avançar para a frente se não conhecermos o passado. Há marcos históricos que não podemos esquecer”, explicita.

Da mesma forma, a forte ligação à religião cristã  “não define o partido”. Segundo João Campelos, este elo do partido com o cristianismo é estritamente relativo à “defesa dos valores da doutrina social da Igreja Católica”. Para o “braço direito” de Francisco Rodrigues dos Santos, o CDS “não é confessionista” e dá o exemplo de Naraná Coissoró –  um dos primeiros deputados não católicos a exercer funções na Assembleia da República e que “entrou por via do CDS”.

Quanto ao futuro da direção do partido, João Campelos assinala que deve ser feita uma “reflexão interna sobre aquele que tem sido o seu papel”, bem como a delineação  daquilo que separa o CDS dos “demais partidos à direita”. Em adição, alerta para a necessidade de todo esse processo “ser feito em aberto, junto de todos os militantes”. No mesmo sentido, Lucas Rodrigues considera que o “o melhor caminho a seguir” é a união. O partido deve, de acordo com o jovem, traçar um objeto em que “todos estão a remar para o mesmo sentido” para que a revitalização do partido seja mais facilmente alcançável. 

Por fim, os dois militantes centristas não têm dúvidas quanto ao “papel essencial” que a Juventude Popular vai ter neste processo. Para João Campelos, a “jota” do CDS assume-se como “uma escola de ensinamentos quer de relações interpessoais, quer de técnicas de oratória”. Deste modo, João Campelos reitera o trabalho realizado pela Juventude Popular “nos últimos 40 anos” e garante que o objetivo deste órgão do partido vai passar sempre por “ajudar Portugal e influenciar a governação do país”. Por sua vez, o estudante da Universidade do Minho reafirma que a JP vai ter um “papel fulcral” no “novo caminho do CDS”.

Artigo por: Joana Oliveira e Tiago Maciel

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