Depois de dois anos de pandemia, os estudantes deparam-se agora com a incerteza causada pela guerra.

A vida estudantil, as esperanças, perspetivas futuras e as realidades dos estudantes universitários foram – e têm vindo a ser – impactadas nos últimos anos. Uma pandemia e uma consequente crise vieram alterar a “normal rotina académica”. Atualmente, o mundo depreende-se com uma guerra. Deste acontecimento, surgem também incertezas. Neste Dia Nacional do Estudante, o ComUM apresenta três realidades daqueles que, em três anos, ultrapassaram uma pandemia e assistem a uma guerra.

Rui Rodrigues, de 20 anos, está a terminar a licenciatura em Economia na Universidade do Minho. Micaela Vitullo, com 21 anos, finaliza em poucos meses a licenciatura em Relações Internacionais. Flávia Pereira, nos seus 22 anos, está no último ano do Mestrado em Ensino de Matemática no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário e pretende entregar a tese até outubro.

Rui Rodrigues e Micaela Vitullo iniciaram a licenciatura num tempo pré-pandemia. A chegada da Covid-19 obrigou a uma reformulação do ensino e os dois estudantes transitaram de um ensino presencial para um online e para um outro misto.

“Como é natural, a pandemia condicionou imenso a vivência universitária e de várias maneiras”, admitiu Rui Rodrigues. Segundo o estudante, o novo coronavírus “privou os universitários da melhor parte de qualquer curso: o contacto com os colegas” e fez com que os alunos perdessem “todas as tradições académicas”. Micaela Vitullo apontou as avaliações e os trabalhos como os pontos que mais foram afetados pela pandemia.

Este ano letivo, enquanto voltam a caminhar para mais próximo da “normalidade”, tornam-se espectadores de uma guerra. O ensino voltou a ser presencial. As normas e orientações da Direção Geral da Saúde aligeiraram-se. A vida académica voltou a materializar-se. Em contraste, o mundo já presenceia uma guerra há 29 dias.

“Apesar de não ter, à partida, impactos tão óbvios no dia a dia de um jovem português, a guerra produz um efeito negativo”, afirmou Rui Rodrigues. O conflito militar vem impactar a economia. Este impacto vai poder afetar o mercado de trabalho e é neste setor que o jovem concentra as suas preocupações. “A vida de um estudante quase licenciado e a entrada no mercado laboral são repletas de incertezas. A guerra vem acentuar ainda mais isso. Esta guerra vai ter previsivelmente impactos económicos brutais e vai atrasar a emancipação de muitos jovens”, admitiu. “Ninguém pode ser indiferente”, acrescentou.

O conflito militar passou a ser o foco central do curso de Micaela Vitullo. “Somos de Relações Internacionais e, por isso, falamos 24 horas por dia da guerra”. “A pandemia e a guerra moldaram o meu percurso como estudante de Relações Internacionais, porque não há como não estudar o impacto de uma pandemia e de uma guerra”, reforçou. Além do percurso académico, a invasão militar também afetou psicologicamente a estudante. “Impactou-me porque continuamos a viver as nossas vidas como se nada fosse, enquanto existem pessoas a perder a tudo, a vida, e a terem de deixar tudo para trás. É um pouco surreal”, notou. “Além disso, ainda existem centenas de pessoas a morrer por causa da Covid-19”, adicionou.

“Apesar de todas as condicionantes”, Rui Rodrigues vê os anos da licenciatura como os “melhores” da sua vida. Já, Micaela Vitullo descreve-os como “árduos”. “Como se tirar um curso não fosse difícil, o facto de termos uma pandemia em cima de nós e todas as implicações que isso teve, agora, no fim da licenciatura, temos o despoletar da guerra. Esta não está a ser uma realidade com a qual seja muito fácil de lidar”, declarou a aluna de Relações Internacionais.

Flávia Pereira terminou a licenciatura e iniciou o mestrado dentro da situação pandémica. Não chegou a ter aulas de mestrado presenciais, “sem máscaras”, e o primeiro contacto que teve com os professores e colegas foi feito através do online. A pandemia “melhorou”, mas a estudante continua a conviver a sua presença diariamente, devido às barreiras que deixou para trás. “No meu estágio profissional, sinto que tiraria mais proveito e que teria maior proximidade com as pessoas com quem convivo”.

A guerra chegou-lhe como um “choque”. Porém, não considera que a Covid-19 e o conflito militar colidiram com o seu percurso académico. “A ameaça direta da pandemia e a indireta da guerra não alterou de forma drástica o meu percurso. Já em relação ao futuro não consigo dizer a mesma coisa, principalmente em relação à guerra”, esclareceu. “Creio que vai ter efeitos que ainda ninguém conseguiu prever e que vão afetar todos a vários níveis”.

“A pandemia e a guerra moldaram o meu percurso”, disse Micaela. “A pandemia e a guerra vão moldar o meu futuro”. É uma certeza que a jovem tem. A estudante da licenciatura em Relações internacionais pretende continuar a estudar e decide rotular o futuro como “incerto” e “assustador”. Flávia, que vai tentar a sua sorte no mercado de trabalho, fala em preocupação. Rui apenas acrescenta a excitação à receita.