Quarta edição da marcha do Dia Internacional das Mulheres leva centenas de pessoas às ruas de Braga.
“Lutar contra todas as formas de opressão de que as mulheres são alvo” é o mote da quarta edição da greve feminista organizada pela Rede 8 de Março, refere Catarina Neves, representante do Núcleo Antifascista de Braga. A leitura do manifesto aproxima e instala o silêncio entre os presentes, maioritariamente jovens. Os cabelos grisalhos de Maria Otília, 77 anos, e Márcia Ramos, 62, destacam-se entre a multidão. “Foi dado muito pouco às mulheres. Elas estão exaustas”, dizem. É por isso que aqui estão. Por haver “ainda muito por fazer”.
“Marcha Internacional do Dia da Mulher”, lê-se na bandeira roxa e branca que Maria e Márcia trazem junto a si. São cidadãs brasileiras e italianas que, há seis meses, deixaram o sul de Itália para passar a chamar casa a Braga.
A idade e uma cidade que ainda não conhecem bem não impedem Maria e Márcia de se juntarem à greve feminista. “Nós gostamos de participar de um movimento internacional, o da Marcha Internacional das Mulheres, que é muito forte no Brasil. Aqui, continuamos a participar”, afirmam.
“A minha geração, aos 25 anos, estava vivendo uma ditadura que durou mais 20. Era muito difícil fazer qualquer reivindicação de direitos das mulheres naquele ambiente”, recorda Maria. É por isso que olham “esperançosas” para as movimentações juvenis de luta pelos direitos das mulheres, apontando a pandemia da Covid-19 como motivo de grande preocupação.
“Tem que mudar muita coisa, porque ainda há muita violência contra as mulheres. Na pandemia, sofreram muito. E continuam sofrendo muito”, declara Márcia. Maria acrescenta que, em Portugal, “muitas mulheres declararam que sofreram muita violência durante a pandemia. Isso mostra que tem um machismo ainda muito forte”. Catarina Neves corrobora, sublinhando que “as reivindicações se mantêm porque as discriminações também”.
A luta feminista de Maria e Márcia tem já mais de 30 anos. Confiam nas gerações “renovadas” para fazer vingar as mulheres que, segundo elas, ou estão “exaustas” ou “ficam em casa cuidando das crianças e, então, não se desenvolvem, ficam submetidas a uma situação de inferioridade”.
Luta feminista estende-se até à reitoria
A marcha tem início na Avenida Central e, logo após a leitura do manifesto, segue para a reitoria da Universidade do Minho (UMinho). O Coletivo Estudantil Feminista da UMinho (CEFUM) é parte integrante da organização da marcha e, na sequência dos alegados casos de importunação e assédio sexual na instituição de ensino, considera imperativa a paragem no Largo do Paço.
“Reitor, escuta! Os estudantes estão na luta” é um dos cânticos mais entoados pelos manifestantes que, mais uma vez, exigem “acompanhamento psicológico gratuito para as vítimas”, “formação para a prevenção e combate ao assédio para docentes e funcionários”, “revisão do código de conduta e ética”, “criação de campanhas de sensibilização para o assédio” e um “gabinete independente” para o qual possam ser dirigidas as denúncias.
A equipa reitoral é ainda acusada de “não cumprir a promessa feita no dia dois de dezembro de reunir com os representantes dos estudantes para a eliminação de assédio na UMinho”. A greve e marcha feministas acontecem também noutros pontos do país, como Porto e Lisboa, mas em Braga fica marcada pela polémica do assédio na academia minhota.