O modelo de participação política mais “convencional” já não é “desafiante” para a faixa etária mais jovem.
Quando o tema é a abstenção, os jovens são considerados os mais desinteressados e afastados politicamente. No entanto, são também os mais ativos de formas não convencionais. O fenómeno deve-se sobretudo à hierarquização das estruturas partidárias e às campanhas eleitorais com temas, maioritariamente, distantes desta geração. Os mais novos pretendem respostas mais rápidas e que deem “maior voz aos participantes”.
De acordo com o estudo “Participação Política da Juventude em Portugal”, citado no jornal Público, o que está a mudar nesta geração é o modo como se expressam e não o interesse político. O estudo foi promovido pelo Fórum Gulbenkian Futuro, em parceria com o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (CESOP) e em colaboração com as Universidades de Aveiro, Lisboa, Minho e Porto.
O afastamento da juventude no momento de ir às urnas deve-se a uma estratégia de comunicação e mobilização dos partidos “inadequada para os mais jovens”. Pedro Magalhães, um dos coordenadores do estudo, reforça que os temas abordados nas eleições respondem a eleitorados mais velhos. “O que se discute numa eleição está sistematicamente arredado daquilo que são os temas que mais interessam aos jovens, como a educação, a precariedade de emprego, a habitação e o ambiente”. Em janeiro, nas últimas eleições legislativas, por exemplo, os impostos e as pensões de reforma foram os temas mais desenvolvidos.
O politólogo Pedro Magalhães considera que a “própria reputação dos partidos faz com que os mais novos pensem que qualquer articulação pode contaminar as suas causas”. Sublinha-se que, como os jovens não se revêm nas estruturas partidárias canalizam as suas “motivações” para “outras esferas” onde se sentem “mais realizados” e podem “dar vazão a um sentimento de urgência” que não ocorre na democracia representativa. O também sociólogo nota que “há um sentimento de lentidão, falta de resposta e hierarquização” na política mais tradicional.
Além disso, a representatividade desta geração na Assembleia da República também não é expressiva, com uma média de idades de 48 anos. Por isso, para a juventude, “a política não está no Parlamento”, mas sim nas ruas, como é o caso das manifestações. De acordo com esta informação, o investigador propõe a criação de quotas para jovens nas listas candidatas.
O estudo aborda também as diferenças entre o eleitorado de direita e de esquerda. A investigação da Gulbenkian sinaliza que “há uma tendência para quem se posiciona à direita de maior propensão para votar” ao contrário da esquerda que utiliza mais os outros modelos, por exemplo, a assinatura de petições.
“Quando olhamos para a participação política no discurso político normal, estamos sempre muito agarrados à participação eleitoral”, contextualiza Pedro Magalhães. Por isso, “o retrato que fica é de um grande afastamento e passividade dos jovens, o que leva muita gente a pensar que estão distanciados e desinteressados da política no sentido lato”. O que acontece na realidade é que a juventude opta pela “participação mais centrada no indivíduo”, considerando que a ida às urnas ou a comícios partidários é uma visão “muito limitativa”.
Trata-se de uma “revolução participativa” que elimina o mito de “apatia da juventude” e o substitui por um desinteresse na “máquina democrática”. “Os rumores sobre a morte da política entre os jovens têm sido francamente exagerados” afirma Pedro Magalhães. Esta é a maior conclusão que se pode retirar do estudo.