Afinal, quem são estes jovens, que elevaram projetos de licenciatura e mestrado ao grande ecrã?
A 7ª edição do Sophia Estudante da Academia Portuguesa de Cinema conta, de 11 a 13 de março, com uma programação variada. Assim, o Auditório Municipal de Albufeira vai receber a sétima arte com entradas gratuitas.
Uma masterclass de Peter Webber, um debate com realizadores portugueses e uma palestra que aborda “O Futuro do Cinema”, com Carlos Alberto Henriques, são algumas das atividades que integram os planos para o próximo fim de semana. Para além disso, os três dias são também reservados a sessões de exibição dos filmes nomeados às categorias do Sophia Estudante. No dia 13, passa-se à atribuição dos prémios, nos quais incorporam três projetos de ex-estudantes de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.
Inês Freitas, Joana Mafalda Gomes e Pedro Noites. Para uns, as suas passagens pela academia minhota podem ter terminado, mas os seus trabalhos ainda perduram no campus universitário. Aliás, voam como folhas e espalham-se por novos horizontes; chegam a Albufeira, onde se celebra o que de melhor se faz no cinema e audiovisual académicos. Afinal, quem são estes jovens, que elevaram projetos de licenciatura e mestrado ao grande ecrâ?
Pedro Noites – MATE
MATE, de Pedro Noites, está nomeada para os prémios Sophia Estudante na categoria de Curta-Metragem Mestrado e Doutoramento. O projeto é um alerta para os problemas psicológicos e para o suicídio, sob o retrato de um jogo de xadrez.
No período de isolamento, a saúde mental tornou-se uma questão mais debatida pelos órgãos de comunicação, pelas figuras públicas e pelas várias formas de arte. Nessa mesma altura, a série da Netflix “O Gambito da Dama” (2020) mediatizou-se um pouco por todo o lado e serviu de inspiração. Assim, surgiu a ideia de “ilustrar as batalhas internas individuais, travadas pelas pessoas, através do xadrez.” Contudo, Pedro Noites teve a ajuda de Tiago Pinho, aluno da licenciatura de Teatro na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para fazer o “xeque-mate” e criar MATE.
Sendo este um trabalho académico, “a narrativa não podia exigir meios sofisticados, quer materiais ou humanos”. Os recursos para gravação eram escassos. Segundo Pedro, tinham acesso a “apenas um drone, uma câmara e uma lente para gravar todo o projeto, o que limitou muitas vezes a fluidez das filmagens”. Para além disso, a localização da curta era de difícil alcance, não sendo possível deslocarem-se de carro. “Tivemos de nos deslocar, a pé, com as mesas, as cadeiras e todo o material”, acrescentou. Todavia, os pequenos entraves não impediram a equipa (Pedro Noites, Tiago Pinho, João Ferreira e José Fontes) de chegar ao resultado final que hoje é um dos nomeados aos Prémios Sophia Estudante.
Um “incentivo e estímulo à realização de novos projetos” é como Pedro descreve a iniciativa. Para o estudante, “estar nomeado já é um prémio”. No fundo, Albufeira significa “conhecer outros nomeados e diversos especialistas nacionais e internacionais”, “partilhar experiências” e fazer uma jornada enriquecedora.
Inês Freitas – Os Três Monstrinhos
Inês Freitas viu o esforço e dedicação que colocou no seu projeto ser valorizado com a nomeação a Melhor Cartaz. Os Três Monstrinhos é um vídeo de animação explicativo sobre o degelo, a desflorestação e a poluição, com figuras animadas que representam as suas problemáticas.
A jovem procurou, através deste projeto, transformar o seu interesse por animação numa forma de alertar para o problema das alterações climáticas. “Gosto sempre de ajudar e de tentar ensinar então foi o que me levou a seguir por uma vertente mais educacional”, explica. Assim, consciencializar as gerações mais novas para o que está a acontecer no mundo foi a principal mensagem da curta-metragem.
Assim como Pedro Noites, também Inês Freitas deparou-se com algumas dificuldades durante o processo de realização. Tendo desenvolvido o projeto durante a pandemia, a jovem revelou que o acesso a materiais foi, por vezes, difícil.
No entanto, confessa que ficou “muito feliz” com o facto do seu trabalho ter sido nomeado. “Para mim significa que o esforço e dedicação que coloquei no projeto foram valorizados”, reconhece a estudante, admitindo que a nomeação é já uma vitória.
Joana Mafalda Gomes – Vita
Melhor curta-metragem experimental é a categoria em que Vita está nomeado. Entre rodopios e música barroca, o projeto final da licenciatura de Joana Mafalda Gomes consiste numa representação do intermitente ciclo da vida.
O nascimento, vida e morte são encarnados por três bailarinas que percorrem os corredores e jardins do Mosteiro de Tibães até se encontrarem em coexistência. “O ciclo da vida é uma coisa inerente a todos nós e que está sempre a acontecer. É algo que está sempre presente, quer queiramos, quer não”, explica Joana Mafalda Gomes.
Mas porquê retratar a mais certa da realidade humana através da dança? “Gosto particularmente da quantidade de emoções que se consegue expressar sem dizer nada. Queria contar uma história sem palavras e acho que a dança me ajudou muito”, é a resposta da jovem.
Relativamente aos obstáculos com que se deparou, Joana Mafalda Gomes admite que o mais difícil foi concretizar a ideia inicial que tinha formulado. “Eu formo uma imagem tão realística do que quero e se depois não está a ficar aquilo, para mim, é um bocado difícil fugir e gostar do que estou a fazer”, explica.
Joana Mafalda Gomes acredita que iniciativas como os Prémios Sophia Estudante são importantes para impulsionar uma arte que considera ser “um bocado desvalorizada”. “Este tipo de prémios traz reconhecimento e pode ser que ajude a mudar a mentalidade que as pessoas têm em relação ao cinema português”, elabora.
Não estando com “expectativas enormes”, a ex-aluna de Ciências da Comunicação afirma que está “bastante contente” com a nomeação. Admite que ir a Albufeira vai ser uma oportunidade para contactar com outros profissionais da área. Assim, acrescenta que “a partilha com outras pessoas” é das coisas mais importantes na área do audiovisual. “Se nos fecharmos e pensarmos “nós é que fazemos bem” nunca vamos evoluir”, remata.
Artigo por: Ilda Lima, Francisco Alves e Joana Oliveira