Na discussão sobre o associativismo académico é incontornável a referência ao crescente afastamento da generalidade dos estudantes deste meio. Desde a elevada taxa de abstenção em tudo o que são eleições no seio académico até à falta de adesão nas inúmeras atividades organizadas pelas demais associações e núcleos, não faltam factos que provem este distanciamento, que é cada vez mais notório.

Para os poucos que ainda reconhecem a importância do desempenho do papel do associativismo no percurso universitário é importante realizar uma introspeção com o objetivo de se conhecer os motivos de tal realidade. Esta reflexão, feita cada vez de uma forma mais constante e urgente, falha sempre em apontar as verdadeiras razões pelas quais o associativismo académico é uma sombra do seu potencial. A verdade, que alguns não veem e outros simplesmente não querem ver, é que o associativismo académico com o passar do tempo foi mutando o seu propósito e, hoje, a visão sindical das entidades estudantis é algo completamente ultrapassado.

Atualmente, o associativismo deve ter dois grandes objetivos: internamente, o da aprendizagem e cooperação dentro de uma associação para a realização de inúmeras atividades, o passar de ensinamentos e de uma cultura mandato após mandato para que todos aqueles que passem de forma ativa no associativismo saiam com as suas soft skills bastante mais desenvolvidas; e, externamente, o de saber adaptar a sua postura e atividades realizadas às necessidades dos estudantes universitários e à realidade em que estes se inserem. Contudo, podemos questionar porque é que atualmente não é isto que acontece.

Existe a perceção de que cada vez mais esses cargos pertencem a um pequeno lobby de pessoas, movidas por interesses pessoais e políticos, as mesmas que se queixam da morte do associativismo enquanto as suas mãos jorram sangue do mesmo. Esta pseudoelite, que tem vindo a dominar as atividades associativas, comparável a uma oligarquia, não enquadra nos seus interesses a mínima vontade de se aproximar da comunidade estudantil, toda a sua ação baseia-se na promoção de ideias e visões predefinidas e o que lhes interessando é chegar a lugares de relevante representação dos estudantes. Esta postura egoísta e elitista origina uma clara falta de pluralidade de ideias, comprometendo a qualidade do conteúdo que é exposto aos estudantes nas suas atividades e limitando aquela que poderia ser a aprendizagem e alargamento de conhecimento proporcionado.

Gera-se assim um grande impasse e muralha de dificuldades para aqueles que demonstram vontade de contribuir ativamente para o desenvolvimento da sua comunidade académica, mas que não se enquadram no perfil desejado pelos que pretendem manter uma narrativa corrente. Desses, os poucos que conseguem o feito de se inserirem num núcleo ou associação deparam-se com atitudes pouco ou nada dignas dos seus companheiros associativos. São vítimas de silenciamento, das suas atividades boicotadas. Atrevo-me ainda a dizer que existe um sentimento de vontade de que essas pessoas, que trazem visões diferentes, falhem, tudo para que não se estrague a continuidade do pensamento único. Posto isto, não se pode falar do associativismo académico sem o relacionar com política.

É de opinião comum que o associativismo não deve ser apolítico, mas a visão dos núcleos e associações como plataformas para espalhar ideias e ideologias políticas, assemelhando-se muitas vezes às juventudes partidárias, há muito que se devia ter deixado de parte. São vastos os campos de ação associativa que se cruzam com a política, mas falta claramente a pluralidade de ideologias representadas e defendidas nessas atividades. Um dirigente não pode ditar a ação de uma associação com base naquela que seria a sua escolha. O esforço para apresentar aos estudantes as mais variadas visões dos mais variados assuntos deve ser o foco principal quando algo passível de diversas opiniões estiver a ser apresentado.

Falta democraticidade dentro e fora do associativismo académico. Falta a mentalidade de saber acolher, da mesma forma, no meio académico, tanto aqueles que connosco concordam como os que contra nós opinam. Quando os valores do associativismo coincidirem com aqueles que o 25 de novembro de 1975 trouxe à nossa sociedade, aí, sim, teremos abertura para ressuscitar os valores estudantis, reaproximar os estudantes das diversas associações e núcleos e colocar um ponto final a este Verão Quente académico.