A peça é um projeto desenvolvido pela Companhia Olga Roriz.
Com os motes “tudo o que amamos está prestes a morrer” e “devemos autopsiar-nos para dissecarmos o mau estar de cada um de nós”, “Autópsia” apresenta o ser humano numa bandeja corporal, recheada de movimentos tão irreais como elucidativos. O momento cultural, que teve lugar no Grande Auditório da Casa das Artes na última sexta-feira, dia 29 de abril, exteriorizou preocupações e angústias sentidas pelo Homem.
A peça estreou em 2019 e tem percorrido os diferentes espaços culturais de Portugal. O espetáculo que, aparentemente, vem trazer o tema da morte acima dos palcos, na verdade, pretende que as pessoas “olhem em redor” e “para dentro de cada um”.
“Autópsia” aproveitou a projeção de imagens contínuas para estruturar os momentos de dança e interpretação, e foi narrada, não por diálogos contínuos ou pontuais, mas por sons grutescos e por música diversificada. A peça ganhou vida sobretudo a partir dos movimentos dos intérpretes, que percorreram e deram a sentir diferentes locais e realidades sentimentais.
Segundo a ficha técnica e artística, o espetáculo “interioriza, nos solos iniciais dos seus intérpretes, toda a dor causada por mão humana inscrita em seis paisagens do planeta (Chernobyl ou a ameaçada Antártida, por exemplo)”. Interpretada por André de Campos, Beatriz Dias, António Bollaño, Catarina Câmara, Marta Lobato Faria e por Yonel Serrano, a peça acolhe “lugares abandonados”, “de memória abertos a outros acontecimentos”, explorando “as ondas” que invadem as pessoas e “as suas dores”.
O espetáculo parte “da solidão” para “um despertar coletivo que incorpora a ação transformadora dos lugares”, lê-se na ficha técnica e artística. Daí “emerge a dança” como um “processo de dissecação do ‘mal-estar de cada um de nós’, oferecendo-se assim como possibilidade de salvação”.