Contra o Gelo estreou a 15 de fevereiro de 2022 no 72º Festival Internacional de Cinema de Berlim, trazendo-nos uma história verídica bordada de emoções e peripécias passadas num cenário inóspito e gelado.
A longa-metragem gira à volta de uma expedição na Gronelândia, que tinha como missão encontrar outros integrantes de missões anteriores e localizar um mapa perdido, com o intuito de provar que a Gronelândia não tem duas partes e que os Estados Unidos não tinham o direito de se apoderar de uma delas. Esta jornada é traçada pelo capitão Ejnar e pelo jovem Iversen.
Apesar de Iversen (Joe Cole) não aparentar estar minimamente pronto para um encargo deste calibre, revela-se como um elemento fulcral para o avanço da narrativa e para o sucesso da expedição, o que traz ainda mais sucesso à longa-metragem. À medida que nos vamos aproximando do final, é percetível também um avanço emocional das personagens, estes vão superando muitos dos seus medos e desvendando partes das suas vidas. Isto permite nos, enquanto espetadores, criar uma ligação de empatia e uma vontade crescente para que eles consigam sobreviver.
A sensação de expectativa pela bonança dos atores principais é alimentada pela intensidade e construção dos cenários e pela forma como está desenhado o roteiro. Sentimos uma sensação de sufoco à medida que vemos o tempo a passar e assistimos às condições precárias a que eles vão sendo sujeitos. Aqui, os enquadramentos e os planos revelam-se essenciais. As cenas mais fortes estão quase todas gravadas em grande plano, o que gera um ambiente de maior intimidade ao qual não conseguimos manter-nos indiferentes, quase como se não conseguíssemos fugir ao inevitável. Somos embebidos por uma sensação de ânsia ao não sabermos qual será o desfecho da narrativa e se eles serão resgatados ou não.
Neste contexto, destaco a atuação brilhante de Ejnar (Nikolaj Coster Waldau) que interpreta na perfeição a postura de um capitão em busca da salvação da sua própria nação. Consciente das consequências e pronto para ultrapassar qualquer adversidade, não deixa de enfrentar muitos dos seus fantasmas interiores e de ir perdendo gradualmente a sua motivação e até mesmo a sua sanidade. Aqui, representa na perfeição o sentimento de desespero físico e mental que uma missão daquele tamanho provoca.
Filmado na Gronelândia e Islândia, a produção contou com poucas cenas com fundo verde. As paisagens surgem-nos como verdadeiras obras de arte cinematográficas, sentimos realmente que estamos no seio de todo aquele clima frio e mergulhados naquele ambiente glaciar. A sensação de imensidão por detrás daqueles ambientes fornece um verdadeiro sentido ao título. Apercebemo-nos da pequenez da Humanidade contra a grandeza da natureza, contribuindo para enaltecer ainda mais a missão de Ejnar e Iversen.
Concluo acrescentando, que apesar de não ser uma obra cinematográfica que à primeira vista nos prenda, por ser bastante parado em muitos momentos, consegue, mesmo assim, cativar o espetador pela qualidade cinematográfica das paisagens e por contar uma histórica verídica. Vemo-nos rendidos de emoção pelo esforço daqueles dois homens que realmente enfrentaram o Ártico por uma causa maior sem garantias de que voltariam para casa.
Título Original: Against the Ice
Realização: Peter Flinth
Argumento: Nikolaj Coster-Waldau, Joe Derrick
Elenco: Nikolaj Coster-Waldau, Joe Cole, Charles Dance
Islândia, Dinamarca
2022