As universidades são mais do que fontes de transmissão de saberes, no sentido em que a missão destas instituições deve passar pela criação e progresso do conhecimento, pela formação de carácter e pela ligação à comunidade. As universidades devem ter um papel ativo, se não o mais importante, no desenvolvimento da sociedade, adaptando-se às necessidades emergentes, antecipando caminhos e inovando. As instituições de ensino superior são pilares, porque devem sustentar o presente e arquitetar o futuro. Contudo, as universidades que temos são baseadas em insinceridades e promessas vazias. Isto é, não consideram a opinião e os sentimentos daqueles que formam e não valorizam a saúde mental dos estudantes.

É mais que certo que existem demandas e exigências no contexto académico, como, por exemplo, a pressão para a obtenção de boas qualificações, o cumprimento de prazos, a realização dos mil e um trabalhos. Neste seguimento, em Portugal, o estudo de João Marôco e de Hugo Assunção, publicado em 2020, revelou que 50% dos estudantes universitários encontram-se em burnout e, ainda, que um em cada três toma medicação devido aos estudos, com a finalidade de reduzir o stress, a ansiedade e os problemas de sono. Deste modo, destacam-se as noites constantemente mal passadas, a falta de vontade de estar com os amigos, o desanimo em fazer o que se gosta, o pessimismo, os lapsos de memória, a baixa autoestima, a lista é, na realidade, infinita. A sensação sentida é a de impotência: o esforço que parece ser inútil, o esgotamento de recursos pessoais e a transgressão de limites. Não deveriam as universidades trabalhar em prol dos seus estudantes?

A realidade que temos são universidades arcaicas e envelhecidas, com programas educativos preenchidos que não dão espaço ao debate, centrando-se, apenas, nas imensas horas de estudo e de trabalho autónomo. Para além disto, estamos perante instituições com um número ainda muito superior de professores catedráticos, em comparação com o número professoras. É de destacar que, segundo os dados do projeto europeu Systemic Action for Gender, só um em cada quatro professores catedráticos é do sexo feminino.

É certo que já houve e continuam a existir mudanças e evoluções importantes. Contudo, a verdade é que o ritmo a que se dão é insuficiente para a transformação que é ambicionada. É também visível a apatia que, ultimamente, se verifica na sociedade, particularmente, nos jovens universitários. A realidade é que a estrutura atual das universidades, bem como dos restantes anos de ensino, perpetua esta apatia sentida, quer na falta de interesse pelas atividades e estruturas estudantis, bem como nas elevadas abstenções no seio académico. Assim, questiono se  as universidades não deveriam valorizar a inovação e atualização do ensino e dos seus profissionais. Não deveriam as universidades, junto dos núcleos, secções e delegações, lutar e combater a problemática da apatia, que é cada vez mais preocupante?

Assim, podemos afirmar que, neste momento, a missão da Universidade, além de não estar a ser implementada, não é clara. Por isso, revela-se cada vez mais necessário apostar numa reestruturação que valorize principalmente os estudantes, mas também os docentes e os restantes profissionais. Adicionalmente, é importante que se tenha em conta o impacto que a universidade tem na modelação e desenvolvimento da sociedade, do país e do mundo.