Ainda que o disco se denomine I NEVER DIE, a ironia presente na história do grupo (G)I-DLE é engraçada. A injusta saída da integrante Soojin da girlsband há alguns meses deixou muitos fãs num estado comparável ao luto após a morte de alguém. Assim, depois da suspeita saída de Soojin, (G)I-DLE regressa com o seu primeiro full-album, lançado a 14 de março de 2022.

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Tal como estamos habituados, o lead single do álbum, “TOMBOY”, foi composto e produzido pela rapper Soyeon. A música integra elementos pop punk e rock de forma exímia e traz novos ares até ao mundo do KPop, saturado pelos mesmos ritmos há já demasiado tempo. Normalmente, os grupos de KPop tem tendência a escolher as melhores músicas do disco como faixa central e, também aqui, isso aconteceu. E ainda bem que assim foi, porque toda a construção da música é irreverente e envolve-nos numa sensação de rebeldia e agressividade.

Supostamente, a letra fala sobre ser independente e quebrar os moldes de namorada perfeita na visão masculina. No entanto, quando as cantoras cantam “I’ll be the tomboy”, não consigo de todo entender o que é que isso é suposto significar. Deixemos a letra de lado e foquemo-nos na fabulosa melodia associada a um videoclipe de excelência que completa a música perfeitamente.

Never Stop Me” assemelha-se a um apêndice de “TOMBOY” já que o estilo é basicamente o mesmo. Embora com alguns defeitos, como a inadequação de algumas vozes a certas partes e o facto da ordem de quem canta ser idêntica à de “TOMBOY”, garanto que é uma canção muito agradável. Concentra, em si, elementos que nos submergem em músicas típicas dos anos 2000 e 2010.

Já devem saber o quanto me dececiona ouvir músicas que têm excertos de enorme potencial a serem estragadas por partes tão despropositadas que custa a querer que foram colocadas ali. “VILLAIN DIES”, a terceira faixa deste projeto, é um exemplo do que acabei de descrever. Começa de forma misteriosa e obscura e deparamo-nos com um pré-refrão horrendo e que estraga a experiência auditiva. O refrão é um bom refrão, no entanto, não sei se é o mais adequado para aquilo que havia sido apresentado antes. Apesar destes aspetos não tão bem concebidos, não admito que se atrevam a dar skip nesta faixa, uma vez que tem excertos extremamente excecionais.

Não sou uma pessoa de indecisões, por isso custa-me admitir que tenho um grande dilema em decidir se “ALREADY” é a minha música favorita deste trabalho ou “TOMBOY”. Adoro a grande maioria das coisas que se desenvolvem nesta composição, excetuando o rap de Soyeon que cria uma energia excessiva em comparação ao resto da música. Ouvimos diversos sons tão distintos uns dos outros e ainda assim estes complementam-se oniricamente.

POLAROID” é uma música bastante mais calma em relação ao resto da sonoridade do álbum, mas não se pode considerar totalmente uma balada, o que me satisfez imenso. Não ouvimos simplesmente uma música, ouvimos antes um poema cantado e que encanta profundamente. “ESCAPE” retoma a musicalidade serena e que nos faz sentir felizes só por estarmos a ouvir algo tão simples. A meu ver, é uma daquelas faixas de banda sonora de filme que nos faz querer viver ao máximo.

Quase a terminar, “LIAR” reinsere o género rock, mas misturado entre batidas pop. Neste momento temos um tema minimamente bom, porém surge uma música rock básica só para preencher espaço. Para além disso, é a sétima música em que ouvimos sempre a mesma ordem de vozes a cantar, especialmente o verso de rap de Soyeon a seguir ao primeiro refrão. Esta estrutura constante começa a ser cansativa.

Todavia, “MY BAG” é uma grande bofetada na cara de atitude e arrogância. E quando digo arrogância não quero ser pejorativo, de facto é uma arrogância musical interessante que exalta a colossal confiança que a melodia tenta transparecer. As batidas trap e hip hop introduzem sonoridades diferentes do resto do álbum e finalizam-no de uma forma inesquecível.

Em síntese, I NEVER DIE é um projeto coeso, arrojado e com personalidade. Ainda que com algumas arestas por limar, o grupo aventurou-se em produções diversas e que salientam novas cores no mais recente quinteto que perdeu um membro.