Os festivais de verão foram sempre eventos extremamente procurados e com elevada capacidade para mover grandes massas. Em solo nacional, existem imensos festivais que atualmente são referências deste tipo de evento. Depois de dois anos reduzidos à inércia de uma pandemia, podemos novamente voltar a apreciar a totalidade dos festivais.

Dois anos de uma áspera e dura pandemia boicotaram a realização deste tipo de eventos (e muitos outros). Nesse período, os festivais eram lembrados com saudade. Com o progressivo combate à pandemia, podemos afirmar que 2022 vai trazer-nos finalmente uma progressiva normalidade e o consequente regresso de certos costumes e atividades, que tiveram a sua presença diminuída. Neste contexto, surge a questão dos festivais de verão, que este ano nos chegam totalmente revitalizados e mais fortes que nunca.

Estes eventos são conhecidos por fidelizar e fascinar as várias classes etárias, nomeadamente os mais jovens. São milhares e milhares de pessoas que se juntam num mesmo objetivo, ouvir o seu artista favorito, desembolsando por vezes quantidades monetárias avultadas para o fazer. No entanto, não ficaria mais em conta ouvir a música em plataformas digitais ou comprar apenas o álbum? O que faz os festivais serem tão populares?

Esta não é uma pergunta de resposta consensual e objetiva, ficando até difícil encontrar uma resposta. Porém, enquanto humanos, caracterizamo-nos por sermos seres extremamente emocionais e visuais. Deste modo, a simples reprodução de uma faixa de áudio digital ia ficar aquém da realidade que pretendemos alcançar.

É preciso muito mais. Todo o ritual de preparação para o festival, os convites a amigos, a preparação da mala e a azáfama das filas de espera à chegada, caracterizam o processo. Além disso, a possibilidade de assistir ao concerto ao vivo é também o grande diferencial.

A ânsia de ouvir o artista com quem iremos partilhar, durante umas horas, o mesmo espaço, o sentir o som e a euforia de todos os que nos rodeiam é algo único. Por vezes, até o desafio de conseguir um autógrafo ou um registo fotográfico, é algo que fixa e marca os bons momentos.

Além disso, a essência destes eventos não se prende apenas com os concertos, mas também com os momentos de convívio que são proporcionados paralelamente e a diante. Existem normalmente diversas iniciativas complementares com atividades de integração e desafios. No entanto, muitas vezes os grandes desafios são até outros.

Por estarem longe de casa, os participantes veem-se na necessidade de aplicar, por vezes, “a lei do desenrasque”. Banhos de água fria, cozinhar com apenas uma frigideira e um fogão portátil a gás podem ser uma realidade. É nestas ocasiões que se desenvolvem também relações significativas de entreajuda e empatia.

Todavia, entre o espírito festivaleiro, verificam-se também diversas situações menos agradáveis. Não sejamos puristas ao acreditar que tudo corre sempre bem. Questões como roubos, desacatos ou até troca de agressões e comportamentos desviantes, podem acontecer e afetar evidentemente a experiência.

A partir deste ponto, compreendo que existam opiniões algo adversas relativamente a este tipo de eventos, sobretudo quando estas provêm de pessoas que tenham sofrido estas represálias na pele. No entanto, não é algo que se possa generalizar e imputar a todos os eventos deste género.

Com tudo isto, pretendo cimentar a ideia de que os festivais são muito mais do que simplesmente momentos em que os artistas cantam e o público. Existe todo um contexto e atmosfera típica associada que move e contagia quem participa.

Assim, é com bons olhos que vejo a volta destes eventos à agenda cultural. Os festivais prometem-nos um verão bem mais animado que os anteriores, com muita música, alegria e boa disposição à mistura. Sabemos que o que passou já não volta. Porém, é imperativo compensar o que ficou por viver.