Este ano, celebram-se os 48 anos da Revolução do 25 de Abril.

Na manhã de 25 de abril de 1974, militares ocuparam as ruas da capital, com o propósito comum de derrubar a ditadura e de pôr fim ao longo inverno do Estado Novo. Foram bem sucedidos, tendo esse dia iniciado uma nova página na História de Portugal. 48 anos depois, o ComUM foi perceber as principais mudanças proporcionadas pela Revolução dos Cravos e o que ainda falta fazer.

Em entrevista, José Palmeira, docente de Ciência Política na Universidade do Minho, explica que a maior mudança foi a passagem de um regime autoritário para um  regime democrático. “Um regime pluralista com a possibilidade de criação de novos partidos políticos e destes concorrer em eleições, em pé de igualdade e plena liberdade”, acrescenta. Assim, para o professor, “a liberdade foi a principal conquista” da Revolução dos Cravos.

Do ponto de vista social, os portugueses alcançaram grandes feitos. O docente destaca a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o surgimento de um “serviço tendencialmente gratuito e muito importante” e a democratização do sistema educativo, com mudanças “muito significativas”. Mudanças no que toca ao acesso no ensino superior, por exemplo, com “mais pessoas a poderem aceder” bem como, a “diminuição da taxa de analfabetização e o fim da segregação nas salas de aula”.

Territorialmente, Portugal sofreu também alterações. As colónias que, até 1974, fizeram parte do território português “foram descolonizadas e passaram a ser estados independentes”. O país ficou “mais pequeno”, mas com a oportunidade de “apostar em novos espaços geopolíticos”, como a Comunidade Económica Europeia, destaca José Palmeira. “Com ajudas muito importantes e investimentos que mudaram completamente a face do país”, foi dado “um salto qualitativo muito grande para Portugal”, afirma.

“Os valores de Abril continuam atuais”

Apesar de já se terem passado 48 anos, “os valores de Abril continuam atuais e cada vez mais têm razão de ser”. Quem o diz é Aprígio Ramalho, vice-presidente e um dos fundadores da Associação 25 de Abril – uma organização cultural e cívica que tem o objetivo de preservar os valores de Abril. Ao ComUM, revela que “o que falta fazer é muito”. É “fundamental” diminuir as desigualdades ainda existentes na sociedade portuguesa, tendo este de ser “um objetivo fulcral de todos os responsáveis políticos”. Assim, lamenta que “ainda existam muitas pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza e sem os mínimos indispensáveis”. 

Já José Palmeira considera que Portugal “ainda não está no plano dos melhores, mas deve ambicionar estar nesse plano”. Apesar de reconhecer que têm sido dados passos significativos como o aumento do salário mínimo, “ao nível do salário médio Portugal tem regredido”. Para o docente, esta realidade ressalta a importância dos cidadãos serem “mais exigentes com o poder político”. “Eles [dirigentes políticos] não podem resolver os problemas todos, nós próprios temos de ter capacidade para gerar riqueza. No entanto, o Estado pode facilitar a vida para que isso aconteça”, explica. Desta forma, afirma que ainda existe “todo um percurso a fazer”, no qual as gerações mais novas vão desempenhar um papel fundamental. “São as mais qualificadas e vão estar melhor preparadas para dar esse salto”, constata. 

Não obstante a qualificação dos jovens, Aprígio considera que “a juventude está pouco mobilizada para ser interventiva nas questões da vida social”. O fundador da Associação 25 de Abril apela à integração dos mais novos em organizações de carácter cívico “para terem uma participação mais ativa do que aquela que efetivamente têm”. “Não chega virem para a rua fazerem manifestações a reivindicarem uma ou outra coisa  muito pontual ligada aos seus interesses imediatos. Isso é pouco”, admite. 

Após 48 anos, deparamo-nos com que Portugal?

“Um muito melhor do que o que tínhamos antes de 1974”, afirma José Palmeira. “Temos coisas muito positivas quando comparados com os outros: uma segurança muito grande, um bom acolhimento com muitos turistas, uma boa gastronomia e um bom clima e estamos num bom caminho ao nível das energias alternativas”, continua.

Em contrapartida, “estamos estagnados há muito tempo”. Segundo o professor, “parece que estamos satisfeitos com a mediania”. No entanto, “sendo um país periférico, é muito importante estarmos conectados e interligados com o resto da Europa”. Assim, “é fundamental que sejamos exigentes, ambiciosos e realistas”, bem como “apostar na qualificação das pessoas e num investimento seletivo e orientado”, conclui. 

Artigo por: Joana Oliveira e Maria Francisca Barros