Repleto de um humor muito próprio e uma energia viciante que cola qualquer um ao ecrã, Psicopata Americano teve a sua estreia em 2000. O drama, inspirado na obra homónima, continua a ser considerado um dos mais icónicos da história do cinema, mesmo com o tema polémico da psicopatia projetado no grande ecrã.
Patrick Bateman (Christian Bale) é, ou pelo menos aparenta ser, o arquétipo de homem perfeito da sociedade americana nos anos 80. Apesar do apartamento de sonho em Nova Iorque, uma noiva deslumbrante (Reese Witherspoon) e um corpo do qual cuida como um templo, Patrick sente que é “apenas uma entidade, algo ilusório”.
Desde o início da longa-metragem pode-se perceber uma obsessão do protagonista com o status: quando este se apresenta, antes mesmo de dizer o nome, refere onde mora. As suas interações com os outros, porém, denunciam que é algo típico, todos eles vivem de aparências e um escrutínio ridículo dos mais diversos detalhes fúteis. Todavia, depressa se denota que Patrick vai muito além de ser apenas um empresário presunçoso.
Mostrando traços de psicopatia e narcisismo, este sente-se desconexo do seu corpo e os únicos momentos em que se sente vivo são quando mata. Após apanhar o gosto por este “hobbie” obscuro, a sede de sangue do protagonista só aumenta, indo rápida e seguramente declinando até à insanidade.
Apesar de grande parte da obra cinematográfica se focar nos assassinatos, este está longe de ser mais um drama criminal. O que o torna tão atrativo e efetivamente o define é o modo comicamente exagerado com que retrata a mentalidade corporativa dos anos 80. Uma sátira social em que a auto-obsessão e ganância desmedidas tão típicas da época são personificadas na insanidade do protagonista. Traições, misoginia e futilidades irrelevantes, todas abafadas pelo álcool, drogas e dinheiro dos quais as personagens se rodeiam e se deixam absorver.
As cenas são brilhantemente filmadas. O modo como, ao longo do filme, vamos vendo Patrick constantemente refletido noutras superfícies e a obsessão que este tem com o próprio reflexo, vêm agravar a ideia, não só de narcisismo, mas também da sua identidade dupla. As cores também são algo a denotar. O apartamento do protagonista é todo decorado a preto e branco, e espelhando o quão unidimensional e vão ele é. Além disso, as cenas dos assassinatos merecem ainda especial menção, maioritariamente shots simples com cores neutras em que apenas o vermelho do sangue se destaca do demais cenário.
Ainda no que toca aos assassinatos, a longa-metragem não peca no que toca a gore. Fãs deste género ficarão agradavelmente surpreendidos pelo modo detalhado e cru com que estes são retratados, não poupando nos detalhes. Cenas pesadas recheadas de uma comicidade irónica pelos devaneios do protagonista sobre música pop.
Algo de menos positivo a apontar, contudo, é o final da obra cinematográfica. Apesar de dotada de uma ambiguidade presente ao longo da integridade da mesma, chega-se ao fim a sentir que falta algo. As cenas finais parecem algo apressadas e desmoronam um pouco a intensidade crescente que o filme construíra até então.
Impossível não mencionar numa crítica a esta obra cinematográfica seria a escolha de ator para protagonista que se revelou perfeita. Christian Bale apresenta uma performance irrevogavelmente brilhante que contribuiu seriamente para que fosse ainda levado mais a sério, profissionalmente. O filme dá pouco destaque a outras personagens e, a maioria do que acontece, é mesmo visto e narrado por Patrick. Deste modo, é inegável que, sem o trabalho incrível do ator, Psicopata Americano nunca teria o reconhecimento e relevância que mantém até aos dias de hoje.
Psicopata Americano é considerado um clássico, e com razão! Os devaneios do protagonista e a sua instabilidade crescente prendem os espectadores, originando uma curiosidade constante sobre como irá ele lidar com as consequências da matança. Uma excelente crítica social, misturada com suspense e até mesmo um pouco de terror, é uma escolha perfeita para quem procura um bom filme que entretém, mas também faz refletir.
Título Original: American Psycho
Realização: Mary Harron
Argumento: Bret Easton Ellis, Mary Harron, Guinevere Turner
Elenco: Christian Bale, Jared Leto, Reese Witherspoon
EUA
2000