Lembro-me da primeira vez que vi Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos e lembro-me também da sensação de estranheza que me provocou. Devia ter estar por volta dos doze e ao ser confrontado com os mais variados temas desta obra cinematográfica não soube como reagir. A verdade é que esta história e estes personagens ficaram gravados na minha memória. E passados sete anos a mesma sensação voltou a repetir-se e voltei a lembrar-me do porquê deste filme ser tão especial mas já lá vamos.
Em termos simples, Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos conta a história de uma família que a bordo de um “pão de forma” percorre quilómetros com o objetivo de participar num concurso de beleza infantil. Este é o mote principal. A família é composta pelos mais variados personagens, cada um com os seus problemas e dramas. Temos um pai falhado obcecado em conseguir a “chave do sucesso”, um avô toxicodependente, um suicida, um jovem que está a cumprir um voto de silêncio à nove meses e uma criança precoce e com uma visão do mundo muito distinta. Desta forma, somos apresentados, rapidamente, a estes personagens, mas temos tempo de conhecer os seus dramas e angústias. Segundo esta descrição, os que desconhecem este filme irão pensar que se trata de algo dramático e diria até depressivo. Enganam-se. Sim, a longa-metragem tem uma veia dramática bastante vincada, mas o que o distingue é o humor e a ironia que o acompanham.
Assim, é um filme frenético, recheado de humor negro e ácido, mas não deixa de ser por isso uma produção calorenta sobre o valor da família. Pode parecer cliché e lamechas, mas a forma como a obra cinematográfica nos apresenta estes valores é o que a destaca das demais histórias já contadas sobre este tema. Não existem famílias perfeitas. E esta é das mais caóticas que a Sétima Arte já nos apresentou. Os membros da família encontraram através do falhanço o caminho para a felicidade.
O que torna também especial são as personagens e os atores que as encarnam. Vamos começar pelo que, para mim, é a melhor personagem desta história: o tio Frank interpretado por Steven Carell. Especialista em Proust, homossexual e suicida. Carell está brilhante com esta personagem. Apesar de ser fácil cair no exagero, aqui não acontece. O personagem é tratado com uma sensibilidade pelo ator que chega até a emocionar. Tenho claramente de mencionar a pequena Olive. Dotada de uma inteligência anormal para a idade, é impossível não nos apaixonarmos por esta personagem que, no fundo, é o coração da obra cinematográfica. Destaco também Paul Dano com um personagem autodestrutivo, Alan Arkin com um avô fora do normal. E claro todo o elenco que esteve brilhante ao contar uma história tão sensível como esta.
Haveria muito mais por escrever sobre esta história. Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos é uma obra cinematográfica que aborda temas sensíveis com uma sensibilidade e um humor fora do normal. Certamente um filme que fica para a história do cinema.
Título Original: Little Miss Sunshine
Realização: Jonathan Dayton, Valerie Faris
Argumento: Michael Armdt
Elenco: Steve Carell, Toni Collette, Greg Kinnear
EUA
2006