O lançamento da obra de Taylor Jenkins Reid foi feito, em Portugal, em novembro do ano passado. Daisy Jones & The Six presenteia-nos com a história de uma banda que se viu no topo do mundo durante os anos 70. No entanto, como é que é no auge da popularidade que acontece a sua separação?

Somos apresentados a Daisy Jones logo nas primeiras páginas. A menina que conhece a noite de Los Angeles mais cedo do que deveria é, simultaneamente, introduzida ao mundo das drogas, do álcool e do sexo. Contudo, a ambição de Daisy orienta-a para aquilo que deseja: escrever as suas próprias canções.

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Durante o início do livro, os momentos são partilhados entre a contextualização da realidade de Daisy Jones e a banda The Six. Os The Six não tiveram sempre este nome. Aliás, a sua existência remete para os irmãos Dunne: Billy e Graham. Após terem sido abandonados pelo pai, os dois começam a ganhar gosto pela música. Uma coisa leva à outra e a vontade de ganhar notoriedade cresce. Quando já não são só os dois irmãos na banda, Dunne Brothers já não faz sentido: digam então “Olá!” aos The Six.

Mas como é que Daisy Jones se junta aos The Six? Talvez não fosse do interesse de ambas as partes, todavia as vozes unem-se em “Colmeia”, um dueto que se torna um êxito. Percebendo que só têm a ganhar se efetivamente forem um só, nasce assim a banda Daisy Jones & The Six.

Devemos compreender que, durante os anos 70, a vida de uma banda de rock em ascensão implicava muito mais para além de música. Sexo, álcool, drogas e groupies, é o que é e o livro não se inibe de dizer o que tem a dizer. Billy recompôs a sua vida após uma ultrapassagem nos limites da vida pessoal, mas os restantes elementos da banda continuam a viver o rock ‘n’ roll.

Durante o sucesso desmedido e inigualável, Daisy Jones & The Six separam-se após o concerto de 12 de julho de 1979. O que leva a esse momento de rutura? Isto é algo que os elementos da banda e demais personagens cruciais discutem durante a obra. Fica aqui uma pista: a música e os sentimentos reais encontram-se separados por uma linha desfocada.

Daisy Jones & The Six é uma Obra com letra maiúscula pela capacidade que tem em nos cativar e levar a questionar se poderá ter sido baseada numa história verídica. Escrito em forma de entrevista numa perspetiva de se parecer um documentário, o livro está tão brilhantemente conseguido que é impossível não haver uma pontinha de curiosidade em colocar no Google: “Daisy Jones and The Six é uma banda real?”. Não, é tudo ficção.

Através de cada fala conseguimos compreender a complexidade com que as personagens foram criadas, tudo a pormenor. Elas emanam carisma, não são simplesmente mais pessoas com oportunidade de ter voz no livro e isto deve-se à forma como Taylor Jenkins Reid permitiu pô-las no papel. Todos têm a sua oportunidade de se revelar durante o livro e nós somos testemunhas de como o fazem.

Contudo, será que a estrutura e os pormenores nos cegam para a história do livro em si? Sinto que me tornei fã do livro devido à facilidade com que fui transportada para uma época que não é a minha. O facto de se desenrolar em forma de entrevista tornou isso mais fácil, porque a própria forma de escrever da autora o permite. A naturalidade com que os elementos da banda discordam entre si é um exemplo de como a vontade de ser uma espécie de documentário foi alcançada, visto que acontece naqueles que passam nas nossas televisões. Apesar disso, e ao analisar aquilo que li, a história não nos é desconhecida: banda do século passado lidou com vícios e acabou por se separar. Acrescentaram-se, claro, alguns elementos que não o tornam tão óbvio, mas a linha de pensamento está lá.

A leitura do livro é uma oportunidade para sermos levados a outro lugar e a outro tempo, algo que nem todos os livros nos permitem, por muito bons que sejam. Acredito que Daisy Jones & The Six é uma experiência tanto quanto é livro de ficção e, quem tiver curiosidade, deve vivê-la.