Os preços das habitações, créditos, salários são variáveis que estão a dificultar a compra de casas em Portugal.
O preço das casas em Portugal tem vindo a aumentar e a oferta do mercado imobiliário não acompanha a procura. Por outro lado, os salários dos portugueses não aumentam ao mesmo ritmo que os valores das habitações acrescem. As alterações introduzidas nos prazos dos créditos à habitação também podem ser vistas como um entrave aquando da compra de uma casa.
O economista e especialista em crédito habitação da Deco Proteste, Nuno Rico, em declarações à SIC Notícias, explicou que os jovens não conseguem comprar uma habitação em Portugal devido aos vínculos laborais precários. Os rendimentos baixos e os preços avultados do mercado imobiliário também são um problema.
De acordo com o especialista, atualmente, os jovens têm mais qualificações. No entanto, esse crescimento “não se traduziu numa subida significativa dos salários”. A par dos salários médios, os “preços elevados” das casas também impossibilitam a aquisição de uma habitação. “Como é que com os nossos salários médios conseguimos acompanhar esta crescente dos últimos sete, oito anos? Nos grandes centros urbanos, eu diria que é quase impossível para a larga maioria dos jovens comprar casa”, notou, em entrevista à SIC Notícias.
Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), nos últimos três meses de 2021, “o preço mediano de alojamentos familiares em Portugal foi de 1.355 euros por metro quadrado”, verificando-se um aumento homólogo de 14,1%. As sub-regiões com custos mais elevados foram a Região Autónoma da Madeira, a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve. Apenas o Baixo Alentejo e a Beira Baixa escaparam ao aumento dos preços.
O território português verifica uma evolução crescente dos preços das casas e, mesmo havendo aumentos ao nível dos salários, a evolução dos rendimentos não acompanha o acréscimo dos custos das habitações. Após uma análise da evolução do rendimento médio e da variação do Índice de Preços da Habitação (IPH), o jornal Expresso mostrou que “o preço das casas aumentou a um ritmo quase três vezes superior ao do rendimento médios dos portugueses nos últimos anos”.
Os prazos dos créditos à habitação vêm somar-se aos preços altos das casas e aos salários “medianos” como um fator que dificulta a aquisição de uma propriedade. Em abril, entrou em vigor a medida que alterou os prazos dos contratos de crédito à habitação. Segundo o comunicado do Banco de Portugal, pessoas com idade inferior ou igual a 30 anos, têm 40 anos para pagarem o seu crédito. Cidadãos com idade superior a 30 anos e inferior ou igual a 35 têm o prazo máximo de pagamento de 37 anos e os com mais de 35 anos têm 35 anos para pagarem o crédito. Se, por um lado, esta medida pode agravar a prestação mensal da casa, por outro, reduz os custos que as pessoas têm com os empréstimos.
Porque é que o preço da habitação continua a aumentar?
A falta de oferta é uma das razões que geram a subida dos preços das casas. De acordo com o presidente da Associação Profissional das Sociedades de Avaliação (ASAVAL), Paulo Barros Trindade, em entrevista à Renascença, “a seguir à crise financeira, existia um stock muito grande de imóveis para comercialização e, como o setor financeiro tinha cortado substancialmente o crédito, esse stock foi-se acumulando durante a crise e, praticamente, deixou de haver construção nova”. Após a crise financeira e com os bancos a aceitarem créditos, “todo esse stock foi comercializado, mas não se assistiu ao mesmo tempo ao aparecimento de novos empreendimentos imobiliários ou, pelo menos, ao nível daquilo que seria expectável em termos da oferta necessária”, acrescentou. Para Paulo Barros Trindade, a procura não se reflete na oferta.
A falta de mão de obra, o excesso de trabalho das empresas de construção existentes, a pandemia e a guerra são outros elementos que também vêm impactar os preços das habitações. “Todas estas situações que vivemos nos últimos anos, cria alguma incerteza nos investidores e muitos acabam por adiar os seus investimentos. Há aqui um conjunto de fatores que estão a contribuir para que se mantenham os níveis de oferta baixos e, pelas leis da oferta e da procura, isso põe pressão em cima dos preços”, adicionou Paulo Barros Trindade, em declarações à Renascença.