Inspirada pelo som R&B da década de 90, a cantora e compositora Ella Mai leva os seus ouvintes numa viagem omnipresente de vulnerabilidade e honestidade em Heart On My Sleeve. Este que é o seu segundo álbum, estreou a 6 de maio, atingindo o seu auge ao alcançar o número 5 do Hot 100 da Billboard. Uma fórmula refrescante que representa uma “versão mais honesta e elevada” da cantora.

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Tal como a artista descreve, este álbum de 15 faixas é singularizado pela sua “vulnerabilidade, honestidade e pela sua cor”. A oscilação entre momentos de entusiasmo, exacerbados pela ânsia de uma futura relação, intercalada por momentos de angústia, que revelam um coração estilhaçado, percorrem toda a obra criando um fluxo narrativo contínuo e cativante. Este disco foi produzido por Mustard, num ambiente soft, composto pelos acordes harmónicos das guitarras acústicas colocadas em primeiro plano, deixando a voz da artista e as batidas. Como elemento secundário.

É importante notar que a indústria britânica ainda tem um caminho longo no que diz respeito à qualidade das produções R&B, o que influenciou negativamente o circuito instrumental e vocal deste álbum. Desde a excessiva utilização de baixo a suportar uma percussão barata, até à pouca instrumentalização composta por layers de correção. Esta incoerência técnica é percetível em faixas como “Not Another Love Song”, “Feels Like” e “Power of a Woman”, abafando os vocais da cantora que deveriam ser o elemento focal.

Em contrapartida, a artista apoia-se em colaborações como Mary J. Blige em “Didn’t Say”, que oferecem backing vocals que ascendem a melodia a algo luxuoso. Estas permitem minimizar o impacto de algumas das falhas da produção. Primeiramente, a artista começa com batidas frenéticas em “Trying”, transacionando, paulatinamente, o seu som para baladas mais lentas e tópicos mais íntimos dos sentimentos da cantora. “Fallen Angel”, por sua vez, denota um equilíbrio de mudanças tonais da artista com bastante facilidade. Numa primeira parte, a sonoplastia é caracterizada por batidas sincrónicas e chuva, complementada pelo mezzo-soprano. Seguidamente ao início agitado, a batida cresce numa melodia rica e texturizada.

Por outro lado, “How”, em colaboração com o rapper Compton Roddy Ricch, demonstra outro registo da artista e a sua elasticidade vocal, enquanto fala sobre abandono num suspiro indignado de traição: “Como é que pudeste mudar de música na minha hora mais sombria?”. Este tom interrogatório toca nas zonas mais sensíveis e profundas de Ella Mai.

“DFMU”, apesar de não ser a peça mais popular é, sem dúvida, das mais impressionantes. A sua melodia catártica e os seus versos expressam um lugar exposto à dor e, posteriormente, ao medo que isso acarreta. O amor é, neste, single   uma parede dicotómica entre a liberdade e a prisão, pois permite exteriorizar os sentimentos mais profundos abrindo uma porta para prosperar, mas também os prende na sua própria esfera de felicidade tornando-os mais suscetíveis à dor.

A artista acaba em grande com “Sink or Swim”, personificando a essência de Jhene Aiko, num ritmo acelerado e swag característicos de Ella Mai. Nesta faixa, a artista versa sobre o seu afogamento precoce: “Eu estou a ir cada vez mais fundo não me consigo levantar”. No entanto, e por sorte da vocalista, o seu álbum conseguiu nadar sobre todos os seus problemas estruturais, que comprometem os vocais de Ella Mai. Tudo isto, impede que Heart On My Sleeve seja uma composição excecional e com enorme longevidade. Mas, ainda assim, é um compromisso coerente da compositora com a velha guarda que reflete a sua atenção ao detalhe e faz prever uma futura figura de renome na nova geração R&B.