João Costa é recordista nacional de 100 metros costas.
Embora tenha nascido apenas em 2001, João Costa é já um dos grandes nomes da natação nacional. Em abril deste ano, o atleta minhoto fixou o recorde nacional dos 100 metros costas na marca de 53.88 segundos, marca essa que também o colocou no top-8 mundial na categoria.
O jovem nadador seguiu as pisadas do seu irmão, em tempos, também ele nadador, e que hoje em dia é também seu treinador. No seu percurso conheceu apenas um emblema, o Vitória SC, clube da sua cidade e do seu coração.
Em entrevista ao ComUM, João Costa falou do sonho vivo de representar Portugal nos Jogos Olímpicos, passando sobre a boa relação que mantém com José Paulo Lopes, que representa o SC Braga. O atleta deu ainda conta dos seus planos para o futuro e detalhou como é a rotina de um nadador profissional.
ComUM – Foste o primeiro português a conseguir baixar dos 54 segundos nos 100 metros costas. O que sentiste assim que te apercebeste do feito?
João Costa – Foi algo histórico. Baixar dos 54 segundos é uma sensação completamente diferente. Senti um alívio de consciência, porque treinei muito para conseguir esse feito. Era um objetivo do qual já andava atrás há muito tempo. O facto de ter sido o primeiro português a baixar dos 55 e agora ser o primeiro português a baixar dos 54 foi algo inédito. Nem consigo explicar o sentimento.
ComUM – Disseste anteriormente que não esperavas atingir os 53 segundos. O facto de ter sido inesperado acrescentou ainda mais sabor à conquista?
João Costa – Claro que sim. Na natação, é complicado conseguir baixar seis ou sete décimas a cada competição. Por isso, ter baixado quase um segundo ao meu antigo tempo foi espetacular. É algo que me dá mais motivação para o resto da época e para o resto da carreira.
ComUM – Conseguiste alcançar os mínimos para o Campeonato Europeu de Roma e o Mundial de Budapeste. Quais são os teus objetivos para estas provas internacionais?
João Costa – Os meus objetivos são conseguir alcançar o meu recorde pessoal, isso é o mais importante. Para além disso, desejo também conseguir uma boa classificação europeia. Ficaria satisfeito com um top-8.
ComUM – Também em Coimbra, foste campeão nacional de 50 metros costas, por uma diferença de apenas 11 milésimas. Como foi ter sido campeão por uma diferença tão pequena?
João Costa – Ter ganho a minha primeira prova antes dos 100 metros costas deu-me motivação. Não ia aos 50 metros costas para bater nenhum mínimo nem para alcançar nenhum recorde, até porque tinha consciência que era bastante difícil. O atleta que ficou em segundo lugar é muito bom nos 50 metros costas. Ganhar essa prova deu-me mais garra para os 100 metros costas no dia seguinte.
ComUM – Se fosse ao contrário, iria ficar algum sentimento de frustração por não teres conseguido ser campeão por uma margem de 11 milésimas?
João Costa – Talvez sim. Isso acaba por mexer com a cabeça de um atleta, mas é aí que temos de ser fortes e ter mais confiança e motivação. Claro que o facto de ter ganho é completamente diferente. Se voltássemos atrás e eu tivesse perdido, não sei se teria sido tudo igual no dia seguinte. No entanto, o que importa é que correu bem.
ComUM – Por falar em diferenças curtas, ficaste a uma décima dos mínimos para os Jogos Olímpicos. Como está a tua confiança no apuramento para os Jogos? Consideras que está perto?
João Costa – Sim, uma décima é uma unha. É completamente possível qualificar-me para os Jogos Olímpicos. Em dois anos tenho que melhorar uma décima e resta-me continuar a trabalhar para conseguir.
ComUM – Caso consigas a qualificação para os Jogos Olímpicos, qual imaginas que possa ser a tua reação? É um sonho que tens há muito tempo?
João Costa – Sim. É um objetivo desde criança e agora acaba por ser a meta da minha vida. Imagino que será uma sensação incrível. Quando me conseguir apurar para os Jogos Olímpicos, sinto que atingi o limite.
ComUM – Estás neste momento em oitavo a nível mundial nos 100 metros costas. Como é estar entre o top-10 dos melhores do mundo?
João Costa – Sinto que já começo a ficar entre os grandes, na elite. Trata-se de uma pressão extra, mas acaba por ser boa. Tenho de conseguir lidar com a pressão na hora H. Agora é continuar a trabalhar para me manter nesse top-8 mundial.
ComUM – Tens alguma preferência pelos 50 ou pelos 100 metros costas? Sentes que és mais forte numa categoria do que noutra ou sentes que não há diferença?
João Costa – Os 50 metros acabam por ser uma prova de pormenores. Basta errar uma pequena coisa e a prova já não vai correr muito bem. Sinto que tenho maior capacidade nos 100 metros, porque, mesmo que erre algo, consigo retificar e fazer uma boa performance. Acho que os 100 metros são a minha prova mesmo. Apesar de fazer boas prestações nos 50, os 100 são aquela categoria em que sempre estive no topo.
ComUM – Que exigências físicas nadar de costas tem em comparação com outros tipos de natação?
João Costa – Exige um trabalho muito árduo no dia-a-dia e muita capacidade respiratória. São necessários muitos pormenores, até o próprio salto do bloco é muito importante. Costas é um estilo complicado, não diria que é mais complicado que os outros, mas é complicado. É um estilo onde é preciso muita capacidade mental e técnica. Contudo, essas competências aperfeiçoam-se ao longo dos treinos.
ComUM – E a nível de treino, como é a rotina de um nadador? Tens muitos cuidados com a alimentação e fazes muitos exercícios fora de água?
João Costa – Sim. A alimentação e os exercícios fora de água são muito importantes para manter a rotina. Mesmo assim, é necessário muito treino em água, pelo menos nove a dez treinos por semana. Fora de água, pelo menos cinco sessões semanais de ginásio. A alimentação para mim é o fator mais importante, acaba por ser a cereja no topo do bolo. Se não nos hidratarmos bem e se não comermos da melhor maneira, não vamos estar bem. É preciso um planeamento muito bom nesse aspeto.
ComUM – São necessários muitos sacrifícios para ser um atleta de alto rendimento?
João Costa – Muitos sacrifícios. Não se consegue tudo de um dia para o outro e, às vezes, nem de um ano para o outro. É muito difícil e é necessário fazer uma escolha. A escolha que eu fiz foi abdicar de muitas coisas em prol da minha carreira.
ComUM – Mesmo ao mais alto nível, a natação continua a ser algo terapêutico para ti? Uma forma de desanuviar?
João Costa – Claro que sim. Em miúdo, a natação animava-me muito e continua a animar. Gosto muito de competir e gosto muito de treinar, mas também é importante conviver. O ideal é conciliar ambas. Não é só treinar arduamente, é também desfrutar do desporto e saber competir.
ComUM – Tens o teu irmão, Rui Costa, como treinador. Ele exige mais de ti nos treinos por ser teu irmão?
João Costa – Não, ele consegue ser muito imparcial nesse aspeto. Ele conhece-me a mim, mas também conhece os outros e, como já foi atleta, consegue nos perceber bem. Eu próprio não quero que ele seja nos treinos como é em casa comigo. Gosto que ele seja imparcial, porque é assim que tem de ser.
ComUM – Como é haver dois nadadores lá em casa? O facto de o teu irmão ser nadador influenciou o teu gosto pela natação?
João Costa – Claro que sim. Foi isso que me fez despertar o gosto pela natação e que fez também com que os meus pais me inscrevessem na natação. Não me inscreveram logo na competição, mas, quando ele começou a ganhar alguns troféus e a bater alguns recordes, comecei a sentir a adrenalina e os aplausos que ele recebia do público. Aí, comecei a perceber que me identificava muito com a natação.
ComUM – Referiste, numa entrevista anterior, que o teu rendimento aumentou desde que o Rui é teu treinador. Por que razão achas que isso aconteceu?
João Costa – Penso que terá sido pelo facto de eu saber que ele foi um bom atleta e também por ele me perceber bem. Outra das coisas que me levou aos bons resultados foi a união da equipa, muito por culpa do Rui ter passado muitos anos no Vitória SC. Tudo isso acabou por me fazer querer treinar ainda mais e ter mais resultados.
ComUM – Atualmente representas o Vitória SC, clube da tua cidade. Até que ponto é especial representares um clube do coração?
João Costa – É muito especial. O Vitória SC é um clube que eu não trocaria. Foi o meu primeiro clube e será o último. É um clube que está no meu coração e nunca irá sair. É completamente diferente representar Portugal e representar o Vitória SC. É representar o berço e fazer algo por paixão.
ComUM – És praticamente da mesma geração de outro grande nome da natação portuguesa, o José Paulo Lopes, que por coincidência representa o SC Braga. A rivalidade entre os emblemas que cada um representa tem relevância na natação?
João Costa – Claro que não. Eu sou muito amigo do José Paulo e dou-me muito bem com ele. Acho que essa rivalidade nunca entrou na natação nem nunca vai entrar. A natação é um desporto onde gostamos todos uns dos outros, não há conflitos nem confusões. Esse é um dos motivos para eu gostar muito da natação. É um desporto onde toda a gente se dá bem na piscina. Se eu nadar contra o José Paulo e perder, continuamo-nos a dar muito bem e até festejo com ele. Tenho boas relações com muitos atletas do SC Braga e, inclusive, o meu treinador dá-se muito bem com o treinador do Braga. Os clubes acabam por ter até uma amizade entre si. Há um maior companheirismo na natação.
ComUM – Que planos tens para o futuro? Ponderas em algum momento da tua carreira representar algum clube internacional?
João Costa – Neste momento, não. Sinto-me bem onde estou e mudar de ambiente pode mexer comigo. A rotina de fazer, todos os dias, o caminho para a piscina e de poder estar com quem gosto são coisas muito importantes para mim, mesmo para ter uma boa performance. O sentimento de me sentir bem onde estou é muito importante.
Entrevista por: Paulo Folha
Texto por: Luís Brito