O atleta bracarense sagrou-se campeão da Liga Portugal SABSEG, mas termina este mês o contrato com o Rio Ave FC.

No dia 15 de maio, Joca levantou o troféu de campeão da Liga Portugal SABSEG, ao serviço do Rio Ave. Duas semanas depois, em entrevista ao ComUM, o atleta natural de Braga revela a vontade de continuar a atuar pelo clube de Vila do Conde, agora na Liga Bwin.

O percurso de Joca, no mundo do futebol, iniciou-se no SC Braga, mas rapidamente despertou o interesse do Sporting CP e, com apenas 11 anos, assinou pelos leões. O futebolista acabou por regressar ao SC Braga, onde, aos 18 anos, se sagrou campeão nacional de juniores. A nível sénior, para além da equipa B do clube bracarense, Joca já representou emblemas como CD Tondela, Leixões SC e Rio Ave FC.

Ao ComUM, Joca fala sobre o título conquistado no clube dos Arcos, bem como de uma lesão que, em 2018, o obrigou a ficar mais de 200 dias sem pisar os relvados. O atleta dá conta também dos sacrifícios pessoais que foi obrigado a fazer para conseguir ser jogador profissional de futebol.

ComUM – Quando assinaste pelo Rio Ave FC, esperavas terminar a época com um troféu de campeão?

Joca – Quando eu e a minha família decidimos assinar pelo Rio Ave FC, foi com esse intuito. O Rio Ave FC descer de divisão foi quase uma catástrofe. Subir já era o esperado, mas penso que o título de campeão foi um prémio justo.

ComUM – Sentes que atingiste os teus objetivos esta época? Qual é o balanço individual?

Joca – Sim. Apesar de em termos de golos e assistências ter ficado um pouco abaixo daquilo que tinha proposto para mim próprio, penso que excedi as minhas expectativas no que diz respeito a qualidade de jogo e crescimento enquanto jogador.

ComUM – Já tinhas jogado no Rio Ave FC anteriormente…

Joca – Assinei a primeira vez pelo Rio Ave FC, em 2018, após um empréstimo [pelo SC Braga] ao CD Tondela. Cheguei com muitas expectativas, mas, logo na segunda semana no clube, sofri uma lesão muito grave no joelho. Rompi o ligamento cruzado anterior, o que não me permitiu dar o contributo desejado à equipa. Fiquei um ano parado e, depois, fui emprestado ao Leixões SC para ganhar ritmo. A partir daí, não voltei a representar o Rio Ave FC até ter surgido esta oportunidade.

ComUM – Como é voltar a pisar um relvado após mais de 200 dias de lesão?

Joca – É difícil e cria-se uma ansiedade muito grande, porque já se passaram muitos dias. É muito duro. Todos os dias, ia para o estádio, mas não podia treinar. Tomava o pequeno-almoço com os meus colegas, via-os a ir para o treino, enquanto eu tinha de ir fazer a minha recuperação. Depois, estava sempre a pensar: “Será que vou ser igual? Será que isto me pode acontecer outra vez?”. Então, os primeiros tempos foram difíceis. No primeiro ano, senti muito o receio de me poder voltar a lesionar. No meu subconsciente, tinha sempre um certo medo, mas é uma alegria muito grande voltar a pisar os relvados. É aquilo que mais gosto de fazer.

ComUM – Nuno Santos passou, ao mesmo tempo, por um processo semelhante ao teu. Qual foi a importância do Nuno no teu processo de recuperação?

Joca – Foi muito importante, porque havia dias em que eu não queria voltar a fazer aquilo. No período de recuperação, é necessário repetir os mesmos exercícios dias e dias sem fim. Parecia nunca mais acabar. Ter um colega a incentivar-me a e a dizer-me palavras de apoio torna tudo mais fácil. Existiram dias em que fui eu a precisar dele e outros em que foi ele a precisar de mim. Por isso, no meio do azar, tive a sorte de o ter ao meu lado. Ele foi muito importante na minha recuperação.

ComUM – Entre as duas passagens, estiveste um ano e meio no Leixões SC. Consideras ter sido o teu período de afirmação desde que saíste do SC Braga?

Joca – No SC Braga, já tinha feito uma grande época na equipa B, onde fiz 12 golos. Senti que essa foi a minha época de afirmação no futebol profissional. No entanto, depois da lesão, tive quase de fazer um reinicio na minha carreira, porque aconteceu numa idade muito jovem, aos 22 anos. É quando um jogador pensa que vai dar o salto e ter uma explosão. Por isso, penso que a época no Leixões SC se tratou mais de uma reafirmação.

ComUM – E conseguiste, inclusive, vencer o golo do ano no Leixões SC. Qual foi a sensação de receber esse prémio depois de uma lesão tão grave?

Joca – Foi a cereja no topo do bolo. A época correu muito bem, em termos de jogos, golos e assistências, e aquele golo foi pura inspiração. Receber o prémio soube mesmo muito bem.

ComUM – Passando agora para os teus primeiros passos enquanto futebolista, como é que o futebol surge na tua vida?

Joca – Comecei como quase todos os miúdos, a jogar na rua e na escola. O gosto pelo futebol surgiu a jogar com os amigos, com o meu pai e com o meu irmão. Depois, esse gosto começou a crescer até ao ponto em que me quis inscrever num clube de futebol. Como eu e o meu pai somos adeptos e sócios do SC Braga, foi lá que comecei a jogar de forma competitiva.

ComUM – Foste para o Sporting CP com pouco mais de dez anos. Como é para alguém tão novo assinar por um clube como o Sporting CP?

Joca – Na altura, estava cobiçado também pelo FC Porto e pelo SL Benfica, mas eu e a minha família optámos pelo Sporting CP. Era a melhor academia em Portugal e a decisão foi fácil. Quanto ao processo em si, nos primeiros dois anos, continuava a treinar em Braga e ia jogar a Lisboa todos os fins-de-semana. Admito que era cansativo fazer a viagem para Alcochete todas as sextas-feiras. Ficava lá a dormir nesse dia, jogava e voltava para Braga. Só fui viver para a academia com 13 anos. Os primeiros tempos foram duros, porque era difícil, com essa idade, estar afastado da minha mãe, do meu pai e das pessoas que me queriam. No entanto, na academia, encontrei uma segunda família e fiz muitos amigos. Foi uma experiência incrível. Sinto que tive de crescer mais rápido do que a maioria dos miúdos de 13 anos. Apesar de ter os meus amigos, tive de me desenvencilhar sozinho. Contudo, foi enriquecedor. Aquilo era um mundo que eu não conhecia. No SC Braga, treinava em pelado e na academia do Sporting deparei-me com sete campos. Via a equipa principal a treinar e dizia, para mim mesmo, que queria chegar ao patamar deles.

ComUM – Agora enquanto sénior, olhas para trás e sentes que foi um período importante para o teu crescimento?

Joca – Muito importante. Foi quando percebi que queria o futebol para o resto da minha vida. Até àquele momento, era só uma brincadeira e jogava apenas por gosto. No Sporting CP, ao ver os exemplos que existiam no clube, mudei a minha mentalidade.

ComUM – Em 2014, já de volta ao SC Braga, sagras-te campeão nacional de juniores. O que passa pela cabeça de um jovem de 18 anos depois de ser campeão nacional?

Joca – Foi uma conquista que me marcou muito, porque o Braga só possuía um título de juniores e já tinha sido ganho há 37 anos. Nessa época, fizemos 42 jogos e só perdemos duas vezes. Criámos uma autêntica família e parecia que tínhamos sido escolhidos a dedo. Foi um ano incrível, mas também um misto de sensações porque quase não nos conseguimos apurar para a segunda fase. Apesar de termos perdido pouco, empatamos muitas vezes e só na última jornada garantimos o apuramento. Depois, na fase final, ganhámos a toda a gente. Foi fantástico. Comecei a sentir um pouco do que era o futebol profissional. Nós jogávamos no Campo da Ponte e chegámos a ter assistências de cinco mil pessoas. Ganhar com o clube da minha cidade e do meu coração foi espetacular. Sou adepto do SC Braga desde sempre e esse título foi muito especial, porque se tratou do primeiro da minha carreira.

ComUM – Dos 24 jogadores desse plantel, apenas seis chegaram à primeira divisão portuguesa, 18 nunca conseguiram e os outros sete até já terminaram a carreira. Sempre estiveste ciente das dificuldades da transição de júnior para sénior?

Joca – Nessa época, eu era júnior de primeiro ano e fiz os jogos todos. Tive sorte, nesse aspeto. Na temporada seguinte, apesar de ainda ser júnior, subi para a equipa B e tornei-me profissional. Só aí é que comecei a perceber realmente o que era o futebol profissional. É preciso estar a 100% não só a nível físico, mas também a nível mental. Caso contrário, não é possível conseguir singrar. Não pude fazer aquilo que, na altura, os meus amigos faziam. Nessa idade, os meus amigos iam sair à noite, o que é normal, mas para mim era impossível. Não podia fazer nada disso. Às 22h00, já tinha de estar na cama a descansar. O descanso é fundamental. É necessário trabalhar muito. Senti que, se não trabalhasse mais do que os outros, não ia conseguir chegar longe. No futebol, existem milhões que querem ser profissionais e só com muito trabalho é que isso é possível.

ComUM – É necessário fazer muitos sacrifícios…

Joca – Claro. Admito que, nessa idade, eu também gostaria de ter feito aquilo que os meus amigos fizeram. Contudo, tive de colocar certas coisas de lado, em prol de um objetivo. Claro que gostaria de ter saído mais vezes à noite com os meus amigos e de ter feito uma viagem de finalistas. Não consegui ter as experiências da maioria dos jovens da minha idade, mas nunca me arrependi. Consegui alcançar o objetivo com que sempre sonhei.

ComUM – Seguiram-se três épocas no SC Braga B e um empréstimo ao CD Tondela. Fica uma sensação amarga por nunca teres feito a estreia na equipa principal do SC Braga?

Joca – Claro que sim. Cheguei a ser convocado para alguns jogos, mas nunca me estreei. O mister Paulo Fonseca chamou-me para um jogo da Liga Europa e foi incrível. Consegui ter a perceção do que era o alto nível do futebol, os melhores dos melhores. Fiquei absolutamente deslumbrado. Mas claro que fica sempre um sabor amargo por nunca me ter estreado pelo clube que me formou. Foi um clube pelo qual eu fiz tanto e que também me deu muito. Pode ser que no futuro isso mude.

ComUM – Como encaraste o empréstimo ao CD Tondela? Foi difícil ou ficaste motivado por jogar na Primeira Divisão?

Joca – Nesse ano, com o mister Abel Ferreira, tive a opção de ficar na equipa principal e fiz lá toda a pré-época. No final da pré-temporada, o mister avisou-me que não iria ter muito espaço e continuaria a jogar pela equipa B. No entanto, eu achei que, na equipa B, o meu ciclo já estava fechado. Já tinha conseguido alcançar todos os meus objetivos. Por isso, achei que o mais indicado era dar o salto para a Primeira Liga. O mister Pêpa, do CD Tondela, ligou-me, explicou-me o projeto e disse-me aquilo que pretendia para a época. Eu aceitei e não me arrependi nada, porque uma experiência na Primeira Liga é sempre gratificante.

ComUM – Agora, contribuíste para o regresso do Rio Ave à Primeira Liga, mas terminas o contrato este mês. Há o desejo de continuar de caravela ao peito?

Joca – Sim. Desde o final da época, tanto eu como o meu empresário temos falado com o presidente nesse sentido. O Rio Ave FC é um clube muito especial para mim. A minha vida profissional foi quase toda passada lá e continuar a jogar de caravela ao peito, na Primeira Liga, seria um orgulho.

ComUM – Quem foi o melhor jogador com quem já partilhaste os relvados?

Joca – Aquele que me surpreendeu mais foi, sem dúvida, o Bruno Fernandes. Estive com ele num estágio da seleção sub-21 e, nos treinos, deu para perceber que ele era fora da caixa. Voltei a cruzar-me com ele num jogo do CD Tondela, frente ao Sporting CP, e confirmei tudo aquilo que já pensava dele.

ComUM – Quem é o teu ídolo no futebol?

Joca – Messi. Sempre me identifiquei muito com ele e é o jogador que eu mais gosto.

ComUM – No balneário do Rio Ave FC, quem é o jogador mais divertido?

Joca – Essa é fácil. Sem dúvida que é o Ukra. É uma pessoa espetacular e está sempre alegre. Nunca vi o Ukra maldisposto, gosta de brincar com toda a gente

ComUM – Se não fosses jogador de futebol, o que serias?

Joca – Penso que trabalharia com o meu pai, na empresa que ele tem.

ComUM – Quais são os objetivos que ainda te faltam cumprir no futebol?

Joca – Quero sempre chegar ao patamar mais alto. Neste momento, gostava de jogar competições europeias e ganhar mais alguns campeonatos.