O terceiro álbum de Rosalía, MOTOMAMI, foi lançado a 16 de março e apresenta-se como uma obra completamente fora da caixa. Os sons frenéticos e, por vezes, totalmente aleatórios, trazem uma sonoridade impressionante ao projeto.

primaverasound.com

A cantora catalã Rosalía explica a origem do título dividindo-o em duas partes. “MOTO” sendo o lado sublime, divino e experimental do álbum e “MAMI” sendo o lado mais real e pessoal da cantora. O terceiro projeto musical de Rosalía aborda temas como a sexualidade, o desgosto e a autoestima de uma forma bastante aberta. Apesar de conseguirmos identificar uma clara diferença entre o seu segundo projeto, El Mal Querer (2018), e MOTOMAMI, as características principais da música da cantora estão lá. O flamenco, o reggaeton e as letras profundas em espanhol continuaram a marcar presença.

O primeiro single é “SAOKO”. A palavra calão porto-riquenha significa algo como uma música com um ritmo eletrizante. É um tema que não deixa ninguém indiferente. Ou se adora ou se odeia. Muitas das críticas falam de uma desconstrução de um reggaeton e de um cyberpunk. Dizem também que “a música é o mais experimental que Rosalía já gravou alguma vez e, talvez, o melhor single dela”. A música é, de facto, algo bastante diferente de tudo. Para além de tudo isto, a música ainda consegue apresentar detalhes de jazz no final. A letra fala muito da transformação das coisas e revela também alguns laivos de rap.

Segue-se “CANDY”. A cantora apresenta uma faixa melancólica desta vez. Aqui fala-se de um amor arruinado que permanece na sua cabeça. Claramente esta separação dói mais à outra pessoa envolvida, a quem na letra se refere, do que a Rosalía: “Ya no me acuerdo de tu cara. La forma de tu cuerpo ni aunque la pensara. / Pero tú no me has olvida’o. No me has olvida’o, no me has olvida’o”. Aqui os vocais da cantora destacam-se no seu esplendor.

The Weeknd é a parceria escolhida para “La Fama”. Foi o primeiro single do álbum, tendo sido lançado em novembro de 2021. A combinação entre um canadiano e uma espanhola não poderia resultar de melhor maneira. A canção fala sobre uma relação de romance com a fama. O registo musical acaba por ser bastante lento quando comparado aos outros ritmos de Rosalía. Porém, não deixa de ser uma das suas melhores colaborações.

Também “CHICKEN TERYAKI”, “HENTAI” e “DIABLO” são destaques no álbum. “BIZCOCHITO” acaba por ser das músicas mais diferenciadas. Mistura diversos sons retirados do contexto que acabam por tornar a música magnífica. No início, a cantora insere um som que quase parece de um telemóvel infantil de brinquedo. Rosalía refere, também, que a música nasceu graças ao soundtrack do videojogo Gran Turismo (1997). A cantora alude as críticas que recebe e trata-as com um tom sarcástico e numa tonalidade infantil. Desta forma, Rosalía menospreza e infantiliza as críticas que recebe, fazendo parecer não se importar muito com elas.

É mais que sabido que Rosalía conquistou o seu espaço e veio para ficar. A cantora latina, que já tem uma tour mundial agendada e que faz paragens por Braga e Lisboa, nunca esquece as suas raízes. As sonoridades espanholas estão sempre presentes. MOTOMAMI consagra-se, então, e dito por vários críticos renomados, como um dos melhores álbuns deste ano. E, tal como Rosália diz na canção homóloga ao álbum, a artista já alcançou tudo na sua carreira: “Y ya no quiero competir. Si no hay comparación.”