A larga costa francesa é um monumental fascínio europeu, que seduz muitos rostos curiosos. A descomplicação própria dos dias de praia, a maresia convidativa e os típicos guarda-sóis às riscas pintam a imagem de um verão perfeito, que não enfeitiça apenas pelas paisagens, mas sim por todo o ambiente envolvente e tão propício à paixão. Éric Rohmer cria o cenário descrito através de um Conto de Verão (1996), trazendo a estética de um autêntico cartão-postal de férias à sua cinematografia.

A longa-metragem explora um conjunto de acasos nascidos pela mão do destino; destino este que envolve Gaspard, um jovem estudante de matemática e amante das melodias da guitarra, numa autêntica carapaça de proteção que lhe permite fintar o poder de escolha. É à beira-mar, na Bretenha, que Gaspard deambula entre banhos de sol, acordes de guitarra e três jovens que dividem a sua paixão.

As suas indecisões amorosas vão-se desenrolando por sorte, com a mesma imprevisibilidade que os próprios dias de verão tomam. Margot, Solène e Léna oscilam na mente do rapaz e surgem em longos diálogos que tanto mais o fascinam e mais ainda o baralham e lhe trocam os passos. É um conto de verão, com amores passageiros, areia e mar e caminhos sem plano, sem rumo.

A estadia de Gaspard na cidade balnear tem um motivo: o rapaz diz esperar por Léna, sua namorada. Contudo, os encontros espontâneos com Margot, a empregada de mesa que passa a sua fiel confidente, e a sedutora Solène, musa das suas criações musicais, despoletam uma série de acontecimentos que em pouco ultrapassam o trivial, mas que deixam levar o espectador.

O próprio Gaspard processa a vida do mesmo modo que o diretor da obra orienta a história: quase de olhos fechados, com confiança nas mãos guias do fado. O jovem vai fazendo excursões pelas beldades da costa, sempre acompanhado por uma das suas belas paixões. E, ao mesmo ritmo que as ondas se formam no mar e rompem no areal, Gaspard deixa que seja o acaso a escolher por si. Até que, da mesma forma simplista como começou, Éric Rohmer acaba, desta vez com uma decisão convicta que deixa as três jovens plantadas em terra.

Conto de Verão é feito de trocas de olhares cúmplices, de hesitações, suspiros, pequenos toques imprevisíveis e posturas ambíguas que decifram o que as personagens não chegam a fazer ouvir. Nada se passa, enquanto tudo se passa. O tempo é extremamente lento, mas passa num ápice. Diálogos artificialmente pensados e artisticamente pronunciados, passeios orgânicos e quase documentalmente perseguidos, acordes e composições musicais que traduzem a insegurança, mas também a verdadeira paixão do jovem: é disto que é feito um conto de verão moderno.