O lançamento do primeiro álbum de estúdio da cantora/bailarina Tate McRae inclui participações de artistas como Finneas, Greg Kurstin, e Charlie Puth.
Tate Mcrae nasceu no dia 1 de Julho de 2003, no Canadá. Ganhou reconhecimento do público desde tenra idade, tendo sido, aos 13 anos, a primeira finalista canadiana no programa de talentos americano “So You Think You Can Dance?” (2005). No entanto, o seu talento não se extingue na dança. Após a viralização da música “One Day”, que publicou noYoutube, a artista começou a ser também reconhecida no mundo da música. Após dois EPs de sucesso (tendo o segundo arrecadado o estatuto de EP de autoria feminina mais ouvido no Spotify), McRae lança, por fim, o tão esperado álbum de estúdio, a 27 de Maio, recebendo, na sua maioria, calorosas críticas.
Tate determina o tema na primeira faixa do álbum, apenas entitulada de “?”, onde a artista reflete no que parece ser um registo de chamada acerca dos desafios que enfrenta uma vez que começa a crescer. Reflete, de igual forma, sobre a ideia de como, contrastando, quando somos crianças todas as adversidades da vida parecem não existir: “And when I was younger like, I used to think I could fly”.
Assim, o álbum reflete sobre muitos dos “problemas” que a cantora teve de enfrentar durante a sua adolescência e o seu processo de crescimento, sendo um dos temas mais predominantes a temática amorosa. Temas como “don’t come back”, “i’m so gone” e “what would you do?” tomam como premissa a revolta da artista em relação a um desgosto amoroso. Acompanhada de ritmos e melodias puramente pop, a que a artista já nos habituou, a mesma afirma que não serve segundas oportunidades a quem não a sabe valorizar no momento: ”If I’m not enough for you/ Honestly, I hope you don´t come back” “Don’t be calling my name, when I’m so gone I hope you hate it”; “What would you do if I leave and don´t come back?”.
Relacionando com as suas vivências amorosas, a artista fala do uso (e, muito certamente, abuso) de substâncias como o álcool. Esse tema nunca antes foi abordado na sua carreira e é indicativo de que Tateescreve, agora, sobre experiências mais adultas e de uma perspetiva mais madura: “I bet you’ll blame it on the alcohol again”; “Go ahead and get wasted”; “Yeah, go get drunk so you forget I’m gone”.
Noutra abordagem, os temas “hate myself” e “chaotic” relatam as dificuldades de McRae de uma forma muito mais confessional e intimista. Aqui, os catchy beats são substituídos por baladas. O sentimento geral de revolta transforma-se num desespero da cantora perante uma tristeza que não esperava sentir a nível romântico ou na vida em geral: “I’m trying my best here to be brutally honest/ Nobody said changing would be this exhausting”; “After I just put you through hell/ You couldn’t hate me more than I hate myself”.
A nível de lírica, a canção “what’s your problem” é, sem dúvida, uma das mais fortes. A musicalidade fortemente marcada acompanham uma letra em que Tate denuncia traços tóxicos do seu parceiro amoroso de forma muito inteligente e bem conseguida: “You made me hate myself so that I could love you more”; “Thought I caught you smiling the night that you saw me cry”; “It’s funny, you took me ‘round town like you owned me”.
Na mesma lógica, “boy x” é um tema igualmente forte a nível de lírica. Neste, Tate, de forma extremamente comovente, não recrimina o seu parceiro. Ao invés, pede-lhe apenas que, da próxima vez que trocar alguém por outra pessoa, não o faça sem pôr os pontos nos i’s com quem vai deixar: “When you get bored, like you always do/ Tell me that you’ll let her go before you look for someone new”
A nível de sonoridade, destacamos os temas “what would you do?”, “she’s all I wanna be”, onde existe um tipo muito mais upbeat com influências do rock mais comercial, um registo um tanto incomum e refrescante para a artista. Também a música “chaotic” merece reconhecimento nesse aspeto, uma vez que a letra comovente é acompanhada de uma melodia igualmente emocional e recheada de vozes em coro que aumentam em muito o dramatismo. Talvez por esses mesmos factos, os dois temas acima referidos sejam os mais bem construídos do álbum, conseguindo equilibrar o aspeto melódico com o lírico de forma bastante eficiente.
Uma crítica válida ao álbum pode-se materializar no facto de existirem demasiados temas com o carácter de hit, ou seja, demasiadas músicas onde o ritmo, a melodia e, francamente, a letra soam muitas vezes bastante semelhantes. No entanto, Tate McRae deve ser reconhecida no sentido em que tenta cada vez mais escrever de forma mais intimista, deixando o ouvinte entrar na sua vida pessoal e remeter a sua experiência à da artista.
O álbum, no seu geral, pode não representar o seu projeto mais inovador, mas apresenta consistência naquilo que é o prisma do que a cantora já nos tem oferecido. É também importante referir que no meio da musicalidade básica existem demarcados triunfos que fogem à regra, da mesma forma que a escrita, que sempre foi o forte da vocalista, continua a evoluir a olhos vistos. Fica, então, a expectativa e o mistério do percurso que a artista possa tomar. Se com os seus 18 anos de idade já encontrou a sonoridade na qual irá permanecer o seu registo, ou se, por contraste, testemunharemos uma mudança de rumo.
Artista: Tate McRae
Álbum: i used to think i could fly
Editora: RCA
Data de Lançamento: 27 de Maio de 2022