O sexto álbum dos Imagine Dragons foi lançado no primeiro dia de julho e apresenta-se como uma continuação de Mercury – Act 1 (2021). Mercury – Act 2 transcende a perda e foca-se no poder de viver, de forma exímia.
Para se perceber o novo álbum dos Imagine Dragons é necessário relembrar rapidamente o anterior. Mercury – Act 1 (2021) é um trabalho desconcertante, forte e perspicaz. De forma sucinta, o álbum dá a dor: exibe-a, molda-a, evidencia o seu impacto e destruição. De outro modo, clarifica como é que o “eu” gere, vive e processa a perda e o sofrimento. A produção está tão bem feita, que é difícil de superá-la, mas depois surge Mercury – Act 2.
Ao contrário do quinto trabalho da banda, o novo álbum assenta na superação e na reconstrução. Adicionalmente, explora ao máximo os ritmos animados e melancólicos que são tão característicos do grupo. Mercury – Act 2 consegue reforçar a essência dos Imagine Dragons e, ao mesmo tempo, tecer novos limites musicais.
A vivacidade marca as primeiras faixas do álbum. “Bones” e “Symphony” enchem-se de motivação e distorcem a mágoa. A primeira música pega na dor, acelera-a e cede-lhe uma presença energética. Já “Symphony” enche-se de palavras motivadoras e de segredos, e explora inúmeros instrumentos musicais para exibir aquele que é o “ritmo da vida”.
“Sharks” não é menos atribulada do que as criações anteriores, mas estabelece uma relação de proximidade com “I Don’t Like Myself”. As duas faixas transmitem perceções sobre o ambiente em que cada pessoa se encontra e obrigam a constatações pouco leves sobre os meios em que habitamos. “Sharks” grita poder e “I Don’t Like Myself” marca o início de uma calma ponderada no álbum.
A partir de “I Don’t Like Myself”, Mercury – Act 2 enche-se de melodias mais pacíficas e de compassos menos animados e continua a investir na transmissão de lições e começa a aprofundar retrospeções individuais. Assim, é a partir da quinta música que o álbum se torna mais fiel àquilo que é a essência dos Imagine Dragons. “Higher Ground”, “Crushed”, “Waves”, “I’m Happy”, “Tied”, “I Wish” refletem facilmente aquilo que os fãs da banda querem encontrar nos projetos da banda: a guerrilha emocional traduzida em composições inigualáveis.
Na maior parte das faixas, a bateria junta-se à guitarra para criarem compassos únicos. Porém, algo que sobressai neste álbum são os toques angelicais em algumas músicas (“I Wish”, “Continual” e “They Don’t Know You Like I Do”). Por outro lado, algumas composições estão exclusivamente centradas na letra e apresentam um instrumental mais suave ou abafado, como “Tied” e “Take It Easy”.
Como forma de despedida, Mercury – Act 2 termina com uma palmadinha nas costas. O álbum fecha com “They Don’t Know You Like I Do”, uma música de reconforto, envolvida num compasso destrutivo. Por outras palavras, o projeto arrasa com o ouvinte e, no fim, abraça-o.
Em conclusão, se este álbum se centra no depois da dor, então “I’m Happy” é a melhor música para resumir o novo trabalho do grupo. Mercury – Act 2 enche-se de aceitação, mudança, promessas e verdades presas a batidas desesperadas, aflitas ou afogadas. E é com toda esta confusão tão bem alinhada que os Imagine Dragons voltam a espantar o público.
Artista: Imagine Dragons
Álbum: Mercury – Act 2
Género: Pop/Rock
Editora: Kidinakorner e Interscope Records
Data de Lançamento: 1 de julho de 2022