Se Fosse Perfeito, da autoria de Colleen Hoover, foi lançado em março de 2022. O último romance da escritora retrata a vulnerabilidade do casamento, mostrando que as relações perfeitas são uma mera ilusão.

Quinn, uma jovem de 25 anos, decide preparar um jantar surpresa ao noivo, após semanas sem o ver. No entanto, no momento em que está prestes a entrar no apartamento do suposto amor da sua vida, depara-se com o inimaginável. A um mês do grande momento, Ethan está na cama com uma colega de trabalho chamada Sasha. O choque de Quinn é partilhado por Graham, o namorado de Sasha que também se encontra no local. Os traídos encontram consolo um no outro, sendo este o princípio de uma intensa e escaldante paixão. É assim que se inicia a história, com uma traição necessária.

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O livro não está escrito numa linha temporal contínua. O leitor conhece simultaneamente o antes e o agora. O primeiro encontro e o desconforto da presença do outro. O primeiro beijo e o ponto de rutura. Esta estrutura cativa ainda mais o leitor, porque depara-se ao mesmo tempo com duas fases completamente diferentes da relação da Quinn e do Graham. Somos quase obrigados a continuar a leitura para perceber o que quebrou.

A falta de comunicação. O isolamento. A dor. Quinn sempre quis ser mãe e um dos objetivos iniciais do casal foi ter filhos, mas isso nunca chegou a acontecer. A endometriose inviabilizou a gravidez, apesar de todas as tentativas. Isto gerou um acumular de culpa e de sofrimento, que apenas foi piorando ao longo do tempo. Criou um fosso, que até o simples toque do marido se tornou insuportável.

Como já seria de esperar, a leitura é fácil e rápida. O texto é simples, mas eficaz. Não são precisas longas descrições para que se consiga entrar no cenário. Também a construção das personagens está bem conseguida, sendo possível uma identificação com o que estão a sentir. Este é com certeza um dos pontos mais importantes do romance. Sofremos e amamos em consonância com as personagens.

Outro aspeto que sobressai é a capacidade que a obra tem de mostrar o que não se quer ver. Em vez do habitual “e viveram felizes para sempre”, o leitor recebe a verdade dura e crua do que é o casamento. Mesmo o que parecia perfeito, acaba por colapsar com o desgaste e os problemas que vão surgindo. O momento em que são trocadas alianças não é o ponto máximo da relação entre duas pessoas, em que é atingido um planalto que assegurará a longevidade do sentimento. É apenas o início da caminhada, da montanha que falta escalar. E não basta o amor para chegar ao cume, é preciso muito mais. Diálogo, cooperação, respeito e sobretudo muita paciência.