A obra de estreia de Ali Hazelwood, A Hipótese do Amor, conta com as duas imagens de marca da autora: romance e uma ótima representação de mulheres na STEM (science, technology, engineering and mathematics). Lançado em 2021, o livro ganhou uma fama bastante merecida devido à rede social TikTok.
O enredo segue Olive, uma estudante de doutoramento. Após se aperceber que a sua amiga Anh tem um fraquinho pelo seu ex-namorado, a protagonista tem como objetivo mostrar-lhe que já o ultrapassou. Como forma de o fazer, Olive beija Adam, mesmo sem o conhecer. Este desconhecido é, porém, um professor do seu departamento, que estava apenas a passar no corredor. Agora precisa de o convencer a ajudá-la a manter a mentira. Isso acaba por não ser assim tão difícil, visto que a relação falsa tem benefícios para os dois.
Olive é uma estudante universitária pobre, mas esforçada, que tem os seus objetivos bem assentes. Porém, todos nós duvidamos de nós próprios a certo ponto. O mesmo acontece com a protagonista, que está a fazer o melhor que consegue na sua pesquisa contra o cancro do pâncreas. Adam, por outro lado, demonstra muito menos emoções durante a obra. As intenções das suas ações são reveladas mais calmamente, o que traz ao enredo uma boa ânsia.
O livro começa com a peripécia que cria uma conexão entre os dois personagens. Assim, cria-se uma curiosidade involuntária de ver como é que uma situação constrangedora como esta se vai desenrolar.
Após concordarem numa relação falsa que serve os propósitos de ambos, começa a parte mais interessante do livro. O progresso de uma ligação entre duas pessoas que não se conhecem, mas que têm de conviver como se fossem muito íntimas. Pequenos acontecimentos que vão aproximando Olive e Adam trazem uma dinâmica cómica, mas adorável ao enredo. Eles são pessoas muito diferentes, diria quase opostas.
Contudo, a autora consegue criar uma interação realista e interessante entre eles. As suas interações (quando não combinadas), parecem genuínas, o que ajuda a criar uma boa ligação entre os leitores e eles, pois são facilmente relacionáveis.
Porém, quando começa a existir uma intimidade mais real entre os personagens, sente-se uma mudança brusca pela parte de Adam que se torna incomodativa. Pode mesmo fazer sentir que todas as vezes que este evitava interações, estava a esconder uma parte de si mesmo que é importante dar a conhecer aos poucos. Essa mudança mudou um pouco a maneira como Adam é visto, ficando um aquém das expectativas que tinham anteriormente surgido em relação a ele.
Ademais, é, também, importante reconhecer a necessidade da representação presente neste livro. Ali Hazelwood é conhecida por escrever personagens femininas na STEM (e que bem que o faz). Ao longo da obra vamos percebendo o quão escassas são as oportunidades para as mulheres nesta área tão controlada por homens. E como às vezes, muitas das oportunidades não são genuínas e, para as conseguirem, teriam de ir além do académico. Vemos as dificuldades de Olive em conseguir ganhar um lugar de destaque na área, mas também vemos o seu talento. Este contraste é muito importante pois demonstra que apesar de difícil, é possível.
Entre uma relação falsa e o caos do mundo académico e científico, ficam-nos personagens memoráveis. Fica também um romance capaz de aquecer o coração de qualquer um.
Título original: The Love Hypothesis
Autora: Ali Hazelwood
Editora: Desrotina
Género: Romance
Data de lançamento: setembro de 2021