Portugal ocupa a 29ª posição no Índice Global de Disparidade de Género.
Celebra-se esta sexta-feira, dia 26 de agosto, o Dia Internacional da Igualdade Feminina. A data pretende relembrar a urgência de garantir que rapazes e raparigas tenham acesso às mesmas oportunidades.
Em entrevista ao ComUM, Graça Sanches, ex-deputada de Cabo Verde e ativista pelas questões de igualdade de género nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, entende que a desigualdade de género continua a existir. “A partir do momento que temos rapazes e raparigas nas mesmas condições e as raparigas são discriminadas pelo género, podemos afirmar que há desigualdade com um fosso a atingir especialmente as raparigas”.
A ex-deputada esclarece que o fosso de género consiste no “acesso que as pessoas têm a bens e serviços e a forma como estes determinam o seu nível de desenvolvimento e poder”. Segundo Graça Sanches, o grupo mais atingido são as meninas e acrescenta que por não terem o mesmo acesso a bens essenciais como saúde, habitação, educação, água, luz e saneamento, “o desenvolvimento será diferente e vai condicionar as oportunidades”.
A profissional adverte para o enquadramento a nível mundial: “temos meninas impedidas de frequentar a escola, de decidir sobre a sua autonomia física e económica” e enquanto assim for, será sempre pertinente lembrar datas como a de hoje, afirma. Além disso, salienta que problemas como “analfabetismo, abandono escolar, pobreza, gravidez na adolescência, mutilação genital, a questão dos refugiados, violação sexual e violência baseada no género” incidem maioritariamente sob as meninas. Desse modo, defende ser necessário chamar a atenção e sensibilizar para o assunto.
Graça Sanches reforça que, muitas vezes, o conceito de igualdade feminina é mal compreendido pelos políticos. “A maior parte dos países falham nas políticas porque não encontram os fossos de género”, atesta.
No seguimento da falta de compreensão pelos órgãos políticos do país, a ativista esclarece aqueles que devem ser os passos a tomar para alcançar a igualdade. Em primeiro lugar, “compreender o que é a desigualdade de género”. Depois, “identificar os bens e serviços que as meninas não têm acesso: se é educação, se é saúde, se são bens de subsistência”.
Partindo desta compreensão pelas desigualdades, Graça Sanches entende a necessidade de traçar medidas políticas concretas para as minimizar. Acrescenta que, neste sentido, a educação tem um papel fundamental em fomentar a ideia de igualdade e, sobretudo, de autoestima nas mulheres. “Da escola à universidade é necessário criar nas meninas a ambição e o sonho e não desistir porque o seu caminho vai ser mais difícil”. A educação possibilita que mulheres possam estar cada vez mais presentes em áreas tradicionalmente associadas a homens. Quanto ao acesso à educação, a entrevistada considera-o “paritário em alguns países” com fossos de género em determinadas áreas. Por exemplo, “as ciências, mais associadas a homens, e estipulou-se que as mulheres devem estar ligadas a áreas de cuidados e não das TIC [Tecnologias de Informação e Comunicação]”.
Questionada sobre os vários conceitos passíveis de desigualdade de género, Graça Sanches posiciona Portugal num nível de grande progresso face aos países onde atua profissionalmente. Na questão da diferença de oportunidades, a ex-deputada afirma que “sobretudo no mercado laboral, em determinadas áreas, as mulheres são muitas vezes preteridas”, sobretudo por situações como a gravidez. Assim, alerta para a necessidade de “nivelar algumas desigualdades no acesso ao poder especialmente dentro das grandes empresas”, bem como “em cargos de nomeação”.
Sobre o papel do jornalismo, a profissional considera que deve estimular as boas práticas e não apenas divulgar o comportamento incorreto. “Destacar meninas e mulheres em áreas convencionalmente atribuídas a homens, em cargos de liderança e sucesso, para começar a tornar normal”.