A terceira temporada de Love, Victor foi lançada a 15 de junho de 2022 na Hulu. Marca um fim de um legado que provavelmente não ficará para a História.

Love, Victor ganhou destaque internacionalmente aquando a sua estreia, por ser uma das primeiras séries com um casal LGBT como foco principal. Na última temporada, continuamos a seguir a personagem principal Victor enquanto explora a sua sexualidade e a sua relação com o mundo que o rodeia.

Contudo, ao contrário dos 10 episódios das primeiras duas temporadas, a última teve apenas oito episódios. Se juntarmos isto ao crescente número de personagens e respetivas tramas, temos uma temporada apressada, que acaba por se tornar superficial.

Muitos assuntos foram introduzidos e pouco aprofundados, deixando-nos a questionar sobre se realmente valeu a pena falar sobre certas temáticas sem ir a fundo. Mesmo os temas mais abordados, como o caso dos problemas com alcoolismo de Benji, não tiveram o mesmo impacto dos outros assuntos apresentados em temporadas anteriores.

De forma geral, as personagens pareceram muito mais ocas com tomadas de decisões abruptas e com pouco peso na narrativa. Quase todos os casais terminaram para regressarem nos episódios seguintes (alguns inclusive de um episódio para o outro). A introdução de Nick, com quem Victor decide explorar ter uma relação de sexo casual, é interessante. Porém, torna-se um pouco questionável quando a relação entre os dois se revela mais um engenho narrativo para causar drama entre o protagonista e Benji e não para ser uma relação bem desenvolvida.

A única personagem cuja narrativa foi explorada devidamente foi Rahim. Desde a sua relação com Victor, com a mãe, com a sua família religiosa e, ainda, com a religião em si. Num universo em que Victor se apresenta como hetero-passível, a série explora a homofobia que Rahim sofre pela maneira como se veste e age em público. Um tema que podia ser mais aprofundado numa conversa entre eles. Ainda assim, tem o seu mérito pois é um tópico pouco tratado em séries. Anthony Keyvan traz um carisma extraordinário a Rahim, o que nos deixa a desejar por um spin-off do personagem (para quando Love, Rahim?).

Com todos estes pontos, o final da série acabou por parecer um final de temporada. Não houve um sentimento de resolução, mas simplesmente de pausa. Tudo pronto para continuar na próxima temporada. Ainda havia muito mais para explorar com estas personagens e estas histórias. Para acabar na terceira temporada, teria de ser uma temporada muito mais profunda do que o que foi.

Concluindo, Love,Victor ficará para sempre conhecida como a série que deu os primeiros passos no que toca à representatividade LGBT no mundo cinematográfico. Conseguiram fazer algo que seria impensável há uma década atrás e que foi muito importante para a comunidade LGBT. No entanto, não conseguiu alcançar um estatuto icónico na cultura audiovisual. Assim, com o aparecimento de novas séries queer de melhor qualidade e com mais influência cultural como Young Royals e Heartstopper, o legado de Love, Victor pode vir a ser esquecido num futuro próximo.