“Seven Psalms” é mais um dos muitos projetos a solo de Nick Cave. Lançado a 17 de junho, o projeto conta com a colaboração de Warren Elvis, num som pouco habitual,  mas que só poderia ser considerado seu.

NME

Nick Cave nasceu a 22 de setembro de 1957, na Austrália. Toda a sua carreira é caracterizada pela imponência e força da música que criou inicialmente com a banda “Birthday Party” e, mais tarde, no projeto “Nick Cave & the Bad Seeds”. Agora, por entre inúmeros outros projetos, lança no seu nome “Seven Psalms”, onde realiza uma abordagem musical um tanto incomum para o seu estilo habitual.

O álbum é composto por oito faixas, sendo que sete são os designados sete salmos pelo título, e a oitava é uma faixa extra com apenas os instrumentais das anteriores. Cada lírica presente em qualquer faixa poderia facilmente brilhar apenas enquanto obra poética. Da mesma forma que qualquer instrumental cria uma atmosfera sonora totalmente envolvente que sobressai por si. Mas é através da junção dos dois elementos já perfeitos a solo que Nick Cave cria uma verdadeira obra prima.

Toda a estrutura rítmica e melódica acompanha poemas onde o vocalista da banda “Nick Cave & The Bad Seeds” escreve tendo a sua fé como tema fulcral. Todas as letras são autênticas cartas de amor, tão intensas e tão bem escritas que qualquer um, independentemente das suas crenças religiosas ou espirituais, conseguiria apreciá-las. Além disso, todos os conceitos abordados e que estão em concordância com o tema da fé, sublinham também muitos ideais acompanhantes dessa temática.

VerdamMnis Magazine

How long have I waited”, o primeiro tema do projeto, sublinha em partes de letras um desejo de evasão: “How long have I waited for your word, forever yearning? / As the days break, like waves upon the shore / How long have I waited for your touch, forever burning? / Lord, I cannot wait a single moment more”. Esse mesmo sentimento pode ser encontrado em muitos outros temas, como “Have Mercy On Me”, “I have wandered all my unending days” e “I come alone and to You”. “Have mercy on me, Lord, and bring me home”;“I pray someday, my Lord, you will appear/ And lead me to your mansion in the sky”;“Deep calls to deep, I have nowhere left to go/ But to you, Lord, breathless, but to you”.

Permanecendo na análise lírica, Nick Cave escreve remetendo também para valores cristãos como a ideia exagerada do pecado em “Have Mercy On Me” (“I have eaten the children and rained fire upon the old/ Dashed the newborn dead upon the rocks/ Plagued the cities, thrown families to the cold/ And turned backwards all the advancing clocks”), e para a ideia da renúncia ao mundo carnal na música “I’ve Trembled My Way Deep”: “My heart, my love, my Lord, my only bride/ My heart, my love, my Lord, my one true bride”.

Na sua generalidade, e tendo em conta o percurso do artista até aqui, não seria surpreendente que o conteúdo deste novo álbum não tivesse o seu lado satírico e um tanto irónico, valorizando a exagerada expressividade de alguns poemas. No entanto, este não seria um projeto de Nick Cave se, mesmo no humor, o mesmo não se preocupasse em trazer ao público o melhor resultado possível em termos técnicos, tanto melódicos como poéticos. A beleza desta obra coexiste com independentemente dos motivos por trás dela, genuínos ou não, e caracterizam o brilhantismo de um artista que sempre se supera e inova com o passar dos anos.