A conversa permitiu a vários estudantes da academia minhota terem voz no que toca ao assunto.
Decorreu na última quinta-feira, dia 22 de setembro, no Complexo Pedagógico 2 da Universidade do Minho (UMinho), um Café Debate sobre o feminismo com foco nos retrocessos sociais feministas no século XXI. A iniciativa foi resultado de uma parceria entre a Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho (ADAUM) e a European Law Students Association (ELSA).
A presidente da ADAUM, Mariana Sousa, foi a moderadora do debate, e colocou, durante cerca de duas horas, questões no decorrer da conversa. O assunto, associou-se também aos retrocessos sociais no feminismo, a eleição de Donald Trump, o avanço da extrema-direita e o Brexit.
Na sala, os alunos desmistificaram a ideia de feminismo. Esta que “não é uma luta pela emancipação da mulher, é uma luta pelas pessoas, uma luta de quem se quiser juntar”. Garantem ainda, que é fácil lutar pelos direitos das mulheres no mercado de trabalho, o foco regularmente associado ao feminismo, no entanto, “não é só”. Acrescentam que falta “conhecerem o feminismo de forma integral e não pela visão de outros”.
Mariana Sousa admite ser clara a discrepância entre os valores fascistas e feministas. Na sala, os participantes do debate completaram esta ideia com a premissa de que o fascismo não existe sem a religião, o que levou à discussão dos valores tradicionalistas da igreja, à ideia da mulher como submissa e à ideia de que o homem é intrinsecamente superior à mulher.
Partindo do fascismo, assumiu-se que a ideologia parte de um contexto pós-liberal, e que este contexto não garante igualdade a todos. Sendo assim, e sendo a luta feminista uma “luta pela igualdade”, o liberalismo e a meritocracia não podem ser aceites pelas feministas. “A meritocracia esquece as lutas e as desvantagens que as mulheres têm”. Assim, entendem que o esforço não é o mesmo sabendo que as pessoas não partem do mesmo ponto.
“A direita é mais facilmente unida e a esquerda muito divergente”, afirmam. O patriarcado, não pode ser enfrentado por um grupo feminista tão divergente, entendem. Acrescentam que a divergência entre os feministas ataca o próprio movimento e é na união e no coletivo que reside a solução.
A questão das penalizações aos médicos por terem pacientes que interrompam a gravidez foi também um tema em debate. Na plateia entenderam que este constitui uma diminuição dos direitos das mulheres, o direito ao aborto, conquistados ao longo de tanto tempo. Criticam as decisões políticas disfarçadas, que possam “passar despercebidas”. Segundo uma participante na sessão, “as pequenas ideias ganham palco e vão deixando esquecidas lutas e direitos que demoraram para ser conquistados”.
A falta de representatividade feminista na política não foi deixada de parte neste debate. Os estudantes reforçaram a necessidade de pessoas diferentes do típico “rico, branco, nascido no berço de ouro”. “Não se pode querer empoderar as mulheres de forma normativa, branca e ocidental”.
A pornografia foi uma das preocupações demonstradas pelas pessoas presentes no debate. “Estas mulheres devem ser protegidas”, “a imagem da mulher tem de ser construída, tem de ser livre”, entendem.
A luta de classes não poderia ficar de fora, pois sem ela “não existe feminismo”. A título exemplificativo, uma das participantes no debate afirmou que “mulheres ricas podem viajar e abortar, mulheres estudantes universitárias são privilegiadas e não são o foco”.
Em jeito de encontrar soluções, os participantes apontaram para a educação, para o ativismo, para a expressão de opinião na praça pública, participação em manifestações, e em especial, em coletivos. “A mulher é a maioria e se estiver fragmentada não faremos a mudança”.